Levar a bola para casa
Ao longo dos
anos os professores, na sua generalidade, perderam estatuto, muitas
vezes respeito, e embora seja na escola que confiamos diariamente
os nossos filhos (como e bem refere João Ruivo), são, amiúde,
vistos como o elo mais fraco da cadeia de ensino. É uma reflexão
perversa, esta, que mais perversa se torna quando em cima da mesa
estão questões negociais, daquilo que realmente os docentes auferem
pelo seu trabalho qualificado, exigente e determinante para aquilo
que é o futuro do país.
E é do futuro do país que
estamos a falar, quando abordamos a questão da qualificação dos
portugueses e a questão profissional dos professores dos diferentes
ciclos de ensino. A precaridade nunca levou nenhum país a qualquer
coisa de positivo. Há muitas guerras travadas pelos sindicatos que
não percebo, mesmo após uma reflexão pormenorizada. Mas a questão
da contagem do tempo de serviço dos professores é algo que não pode
ser varrido para baixo do tapete, nem tão pouco ser decidido por
autoritarismo ministerial.
Durante nove anos, quatro
meses e dois dias, os professores portugueses viram as suas
carreiras e a sua progressão congelada. Significa isto que viram os
seus vencimentos congelados (e no período da Troika nem os
subsídios de Natal e férias receberam) e que a progressão nas suas
carreiras ficou parada. Ou seja, em nove anos ensinaram milhares e
milhares de jovens portugueses, qualificaram o país, mas para os
governos esse tempo é como se não existisse.
O atual Governo anunciou o
descongelamento das carreiras. Isto é, a partir dessa decisão os
anos começavam a contar. Mas o que estava para trás não contava,
era como se não existisse. O ministro da Educação, Tiago Brandão
Rodrigues abriu a porta das negociações, mas manteve-se irredutível
em contabilizar apenas dois anos e nove meses, do total de nove
anos quatro meses e dois dias em que as carreiras estiveram
suspensas. Os sindicatos, nas negociações exigiram os tais nove
anos quatro meses e dois dias. O ministro não gostou e como era ele
o dono da bola, pegou na dita e fechou o jogo, informando os outros
jogadores que a proposta dos dois anos e nove meses estava fora.
Isto é, agora não contava tempo nenhum. Uma atitude autoritária e
que levanta a questão: se a intenção do Governo era considerar os
dois anos e nove meses (certamente porque era isso que o orçamento
de Estado comportava) porque não manteve essa proposta e não a
aplicou unilateralmente como já o fez noutras matérias.
Os professores não podem ser
os bodes expiatórios do país não ter dinheiro. Isso é uma falácia
que não só coloca a sociedade contra os docentes, como lhes retira
respeito perante os outros, lhes concede baixa autoestima, que os
coloca como as profissões qualificadas mais mal pagas do país. Há
docentes que recebem menos por cada hora de trabalho do que muitos
outros profissionais a quem não se lhes exigiu estudos nem uma
responsabilidade tamanha, como a de qualificar os portugueses. O
Primeiro-Ministro António Costa tem em mãos um problema político.
Os professores não querem nada a que não tenham direito e é a falar
que se chega a bons resultados. Não sei qual vai ser a sua tática,
mas esperemos que não leve, como o seu ministro da educação, a bola
para casa.