Luís Souta apresentou novo livro
45 narrativas sobre o superior
Luís
Souta foi um dos pioneiros da educação multicultural em Portugal.
Colaborador do Ensino Magazine desde a primeira hora, exerceu
vários cargos no ensino superior, dos quais se destacam o de
diretor da Escola Superior de Educação de Setúbal. No passado dia
19 de junho apresentou o seu 10º livro. Pedagogia S. «45 narrativas
curtas sobre o Ensino Superior, na perspectiva (desconstrutivista)
do Prof.S», reúne um conjunto de textos onde é feita uma reflexão
sobre o ensino superior. Em declarações ao Ensino Magazine,
enviadas na volta do email, Luís Souta explica que mais que "um
raio X, este livro acaba por fazer uma TAC ao sistema universitário
e, em particular, ao politécnico".
O autor explica que o "preocupam as instituições de ensino
superior, as políticas para esse subsistema (quase todas de curto
prazo, sem coerência e articulação entre si) e, particularmente, os
estudantes que o frequentam, a tal «geraçãopontocom»; aquela que,
em Portugal, corresponde aos «nativos digitais» utilizadores do
"socrático Magalhães", o homo videns (Giovanni Sartori) que vê mas
não lê".
O livro assenta em testemunhos que o autor denomina como narrativas
curtas. "Mas o meu amigo José Catarino Soares, um dos
apresentadores do livro na sessão da Ferin, disse ter dificuldade
em qualificar os textos: considerou-os um misto de crónica,
narrativa, e ensaio. Este diversificado conjunto de textos (45),
com uma «fortíssima unidade interna», constituem «peças cruzadas de
uma tela» (no dizer de Carlos Cardoso na recensão do livro, a
publicar na revista Medi@ções, v. 7, nº 1, 2019) que procura
dar conta de uma actividade de investigação qualitativa -
auto-etnografia - levada a cabo durante a última década e que teve
como objecto central de observação, os comportamentos do Homo
Scholaris do Superior. Mas também as instituições que «preferem os
encómios, o auto-elogio, o panegírico, demonstrando profunda
aversão ao sentido crítico e a quem o pratica»".
Luís Souta explica que "este livro não é sobre política educativa,
stricto sensu. Centra-se numa análise sincrónica, onde procuro
ajudar os leitores a «ler e pensar» o real académico dos nossos
dias. Os caminhos do futuro decorrerão de leituras,
naturalmente diversas, que cada um faz das 'anomalias' que
identifico no funcionamento do sistema, nos processos de formação e
nas práticas dos actores sociais. Na Pedagogia S. (e este S. pode
ter múltiplos sentidos; Ricardo Vieira, um dos apresentadores da
obra, no passado 19 de Junho, entendeu-o como «socrático», o da
maiêutica, ou como «Pedagogia Social»), acabam por se vislumbrar
horizontes possíveis de mudança. É esse afinal o grande objecto da
«pedagogia critica», na qual me posiciono".
O docente e investigador revela que "o Prof.S. não passa de um
alter-ego do autor; logo, subscreve o que ele foi exprimindo ao
longo das 212 páginas do livro. Não me assumo como pedagogo. Não
sou mais que um antropólogo da educação… sem tribo".
No fundo as 45 narrativas mostram "um diagnóstico, uma leitura
pessoal de alguém que se manifesta pedagogicamente inquieto… e algo
desencantado, depois de tantos anos de investimento e empenho na
cidadania académica".
CARA DA
NOTÍCIA
Luís Souta tem dedicado a sua vida
ao Ensino. Depois de uma passagem pelo Básico e Secundário (de 1976
a 1983), e com a frequência do mestrado na Universidade de Boston -
EUA, ficou adstrito ao Superior. Aí, em 35 anos de docência e
investigação, encontrou na produção editorial o distanciamento
crítico para reflectir sobre políticas e práticas deste sector de
ensino. E, muito em especial, compreender os comportamentos dos
seus actores sociais, designadamente o dos estudantes. Recorreu,
para isso, à observação participante, esse método tão específico da
sua ciência de formação, a Antropologia. Para analisar a escola,
seu território privilegiado de estudo e pesquisa, investiu no
trabalho interdisciplinar - Antropologia, Educação e Literatura; os
seus 'amores' científico-profissionais.
Tem as suas raízes familiares em Belmonte mas há muito que ancorou
em Cascais.
Luís Souta foi um dos pioneiros da educação multicultural em
Portugal e é autor dos seguintes livros: Bichos à Solta (2016,
juvenil), Fa[r]do Escolar, (2014, memórias etno-ficcionadas), (des)
AMARRA (2012, poesia), Solitários Anónimos (2009, poesia), Amardor
(2003, poesia), Multiculturalidade & Educação, (1997, ensaio),
A Escola da Nossa Saudade (1995, memórias ficcionadas), Escolas
Superiores de Educação, Ensino Politécnico e Formação de
Professores: uma década de debates, algumas polémicas e crítica que
baste (1995, ensaio), A mulher nas bocas do povo e na pena dos
escritores (1989, colectânea).
Professor coordenador da ESE-IPS. Membro do Conselho Científico
(1986-2010) e membro eleito do Conselho Técnico-Científico
(2010-2019). Coordenou o Departamento de Ciências Sociais e
Pedagogia (2011-15) e foi Presidente do Conselho Directivo
(2005-08), Presidente do Conselho Científico (1987-89) da ESE de
Setúbal. Integrou o Conselho Geral do IPS (2013-14 e a sua Comissão
Permanente, 2005-08). Membro da Comissão Científica do CIEF-IPS
(Centro de Investigação em Educação e Formação). Membro da Direcção
da Associação Portuguesa de Antropologia (Secretário e
Vice-Presidente), em dois mandatos (1994-98). Colaborador das
revistas a Página da Educação, Medi@ções (Conselho Editorial),
Estudo Geral, e do jornal Ensino Magazine. Tem sido convidado a
leccionar noutras escolas superiores e universidades, públicas e
privadas: ISCTE, FCT-UNL, FCSH-UNL, U. do Algarve, U. Lusófona de
Humanidades e Tecnologias, U. Independente, ESE de Lisboa,
ISPA.
Aposentado desde 25/02/19 mas exerceu funções até fins de
Março.
Agora dedica-se, em exclusividade, à sua neta americana (de 21
meses) e à escrita.