Entrevista ao Professor Doutor SOUMODIP SARKAR
Sinergias pelo empreendedorismo
Soumodip Sarkar é Vice-reitor da Universidade de
Évora e Presidente Executivo do PACT (Parque do Alentejo de Ciência
e Tecnologia). Este investigador e professor universitário percorre
o Mundo a participar em conferências. Ensina, troca experiências e
aplica os vastos conhecimentos em Portugal.
É considerado um dos maiores especialistas internacionais nas áreas
de estratégias de internacionalização, empreendedorismo e inovação,
e foi considerado um dos 100 gurus em inovação (pelo World Economic
Forum).
Nasceu na Índia, percorreu o mundo, mas fixou-se em Portugal por
via do casamento com uma cidadã portuguesa. Escolheu o Alentejo
para viver e trabalhar. Está por isso muito empenhado em projetos
de empreendedorismo na região. Não admira que tenha apostado muito
na implementação do Projeto Speed Talent.
Trata-se de uma iniciativa que visa apoiar e incentivar jovens
empreendedores, bem como algumas Start-up e Spin-off a terem as
suas ideias suportadas e monitorizadas por um conjunto de nove
instituições, para que surjam novos e melhores modelos inovadores
de desenvolvimento.
O Speed Talent assenta nas sinergias criadas entre o PACT, a
Universidade de Évora, a Agência de Desenvolvimento Regional do
Alentejo (ADRAL), o Núcleo Empresarial da Região de Évora (NERE), a
Associação Nacional de Jovens empresários (ANJE), o Sines
Tecnopolo, o Instituto Politécnico de Portalegre, o Instituto
Politécnico de Beja e o Instituto Politécnico de Santarém. Foi por
este tema que iniciámos a conversa.
O Speed Talent é um dos muitos projetos em que está
envolvido. Que balanço faz até agora deste desafio?
É um balanço muito positivo e por uma razão simples: pela primeira
vez os parceiros, não só os deste projeto, mas de todo o Alentejo,
juntaram-se. As incubadoras, os Politécnicos, as Universidades,
todas as instituições. Para podermos ter uma estratégia em conjunto
e promovermos o empreendedorismo. É nesse sentido que julgo que
esta sinergia é uma 'batalha' ganha.
Porque muitas vezes trabalhar em rede não é
fácil…
Não é nada fácil. Obviamente, cada entidade tem o seu próprio
objetivo, mas o objetivo final (de todos os que fazem parte da
rede) é o de promover o empreendedorismo no âmbito das suas áreas
de atuação.
Curiosamente todas as pessoas com quem falámos disseram
isso. Que não é fácil, porque há agendas próprias, mas que foi
muito valioso poderem trabalhar em conjunto.
Esta troca de experiências é a vários níveis. Ao nível da gestão do
projeto trabalham entre si, mas já desenvolveram intercâmbios com
outros gestores de projetos que nada têm a ver com o Speed Talent.
Houve obviamente um ganho para todos. Outro nível muito positivo é
o técnico. São os técnicos envolvidos que fazem o empreendedorismo
acontecer. Nestes casos também houve uma troca de experiências. Mas
o mais importante são os próprios empreendedores. Partiram da sua
própria incubadora, mas partilharam conhecimento e experiência com
os outos, dando-lhes mais enriquecimento para os projetos que
estavam a desenvolver. No fundo fizeram um "pequeno Erasmus".
Nem todas as ideias são boas ideias. Nem todas as Start-Up
vingam. Mas o que é certo é que as que vão para a frente precisam
de apoio e não só no período em que duram os projetos. O Speed
Talent permite dar esse apoio depois de acabar?
Eu gostava de lhe dizer que sim, mas na realidade não. O Speed
Talent tem um prazo e um objetivo. Depois de terminar esse
objetivo, formalmente acaba a nossa vocação que é o apoio às
atividades. Contudo (e agora falo pelo PACT e pela Universidade),
nós aprendemos muito por via deste projeto e por isso queremos
continuar a dar continuidade às lições que tirámos. Queremos
continuar a dar apoio aos jovens empreendedores que promovemos por
via deste projeto. A Universidade de Évora, por exemplo, está
empenhada em vários outros projetos na área do empreendedorismo. E
no Speed Talent em concreto, achámos que havia várias atividades
muito úteis para outros projetos na academia. Neste sentido haverá
continuidade. Espero, um dia, voltar a fazer uma nova candidatura
com a liderança do PACT. Uma espécie de Speed Talent2, com uma
melhor Missão, com tudo o que aprendemos, mas com a mesma
necessidade de promover o empreendedorismo. Temos que atrair mais
jovens para a nossa região e temos que fixar os jovens que estudam
na nossa região.
E os empresários que já existem na região do Alentejo?
Aceitam estes novos desafios?
Eu acho que sim. O que nós temos de fazer é, no Speed Talent2,
envolver os gestores de topo como mentores dessas Start-Up´s. Este
Speed Talent não teve este objetivo, mas julgo que pela via que
estou agora a referir poderemos ter mais aceitação e garantirmos
mentoria, que este projeto não teve por parte das grandes
empresas.
O Professor Sarkar é das pessoas que em Portugal, e não só, mais e
melhor pensam o empreendedorismo e a inovação. É um homem do mundo.
O que é que precisa o Alentejo para ter de facto essa fixação de
jovens empreendedores?
Nós falamos muito de regionalização, mas não precisamos disso. O
país é muito pequeno. O que é que nós precisamos? É do TGV. Temos
que encurtar as distâncias entre Lisboa e Évora, entre Lisboa e
Beja e eu vejo numa linha de caminhos de ferro de alta velocidade
uma solução muito importante. Não é preciso pensar nas estratégias
de regionalização como os políticos geralmente pensam. No sentido
em que estou a explicar, as infraestruturas são fundamentais. Basta
reduzir as distâncias em termos de tempo, em vez um uma hora e meia
para meia hora, e as regiões do interior serão muito
diferentes.
Porque as pessoas mostram interesse em fixar-se se tiverem
condições…
Muito interesse! Os investigadores e empreendedores dos Estados
Unidos, por exemplo. Eles querem ir a Évora, mas também dizem que
não querem estar muito longe dos grandes centros, de Lisboa. A
distância atualmente é muito grande e o comboio só faz duas ou 3
ligações por dia.
O Alentejo evoluiu imenso nos últimos anos, não só na
agricultura, com as novas tecnologias, bem como no ambiente, na
hotelaria, no turismo. Há uma série de áreas que são de facto
pilares da região.
Mas não só. Na área da aeronáutica está a ser criado um cluster,
com empresas que já cá estão e outras que se querem fixar. Mas eu
vejo potencial noutras áreas também. Como por exemplo na área da
saúde digital, que já tem investigação na Universidade de Évora.
Não é necessário estar em Lisboa, Paris ou Berlim para se trabalhar
nestas áreas. Temos muito para oferecer. Temos uma região
envelhecida. Esta situação é também uma forma para que as empresas
que trabalham na saúde para a terceira idade possam atuar e
investigar.
Se eu quisesse investir no Alentejo o que é que me dizia?
Como é que me convencia?
Isso é o que eu ando a fazer ultimamente. Estive recentemente na
China a promover a região. Há várias vantagens. Como empresária,
terá oportunidades financeiras que não iria ter noutras regiões,
vantagens fiscais. As próprias câmaras também estão dispostas a
oferecer alguns incentivos. É muito mais fácil chegar ao contacto
com os decisores na região. O contacto é de maior proximidade do
que nos grandes centros. É muito mais fácil bater às portas e ter
acesso às pessoas que decidem. Mas para mim o que é também muito
importante? Estar em contacto com a Universidade e com os
Politécnicos. Há cerca de 15 mil estudantes na região do Alentejo
que andam à procura de uma oportunidade de emprego. No Alentejo um
pequeno investimento pode fazer uma grande diferença.
Há pessoas que associam o empreendedorismo apenas a boas
ideias. Mas é muito mais do que isso…
O empreendedorismo é como executar as boas ideias e como dar
sustentabilidade a essas ideias. E esse é um ponto muito
importante. Nós queremos dar continuidade ao Speed Talent. Porque
não basta apenas abrir uma empresa. Temos que envolver os grandes
gestores na região do Alentejo como mentores e tentar e pensar que
um projeto tem que durar muito mais tempo do que inicialmente se
esperava.
Então o que é efetivamente para si o Speed
Talent?
É promover o empreendedorismo em rede. Desta vez o que diferencia
este projeto é que estamos a tentar fazer tudo em rede.
Foi fácil convencer os jovens a participar neste
projeto?
No início não foi fácil. Para começar, o conceito de
empreendedorismo começa a estar enraizado, mas os jovens andam à
procura de um emprego, não querem ser empreendedores. Na
Universidade e nos Politécnicos há disciplinas de empreendedorismo
e os alunos já começam a estar habituados. Mas, mesmo assim, não
têm muita prática. Não estão muito expostos a projetos de Start-Up
ou Spin-Off. No Speed Talent, com o passar do tempo, acabaram por
aderir um pouco mais na segunda fase do projeto.
Os investigadores e os professores universitários aceitam
participar de bom grado nestes projetos?
Os investigadores têm um objetivo um bocadinho diferente:
investigar, publicar, fazer as suas experiências. A nossa missão é
mostrar um outro lado: temos que sensibilizar todos para que muita
da investigação que fazem dê para fazer aplicações diretas no
trabalho das empresas. Queremos dar também incentivos aos
investigadores para pensarem para além da publicação dos seus
artigos e da investigação pura. Vai demorar algum tempo, mas
acredito que esta ideia será muito melhor aceite. Dar aulas e
investigar é muito importante, é fundamental, mas o nosso terceiro
pilar é o de ter uma missão para com a sociedade.
No fundo é avançar passo a passo…
Mas este não é um processo linear. No início é lento, mas depois
vamos dar um salto. E eu acho que já estamos a chegar a este ponto.
Há jovens que já perceberam que outros ganharam o concurso Speed
Talent e que há outras formas de atuar sem olhar para as empresas
apenas como empregados. Já perceberam que podem criar as suas
próprias empresas, podem criar os seus futuros. Este é o ponto em
que damos o salto na forma como pensamos e atuamos.
Nessa altura já poderá dar como exemplo o Speed Talent nas
inúmeras conferências em que participa no
estrangeiro.
Sim, espero que sim. Eu próprio escolhi o Alentejo com os olhos
muito abertos. Eu gostava de mostrar que é possível criar riqueza
partindo de muito pouco ou de nada. Portugal não produz café nem
tem bacalhau e temos empresas onde somos os melhores nestas áreas.
Há empresas de tecnologia que podem nascer no Alentejo, até agora
uma região vista como muito boa para o turismo e para a
gastronomia, mas não é assim. É muito mais!