Fernando Rosas, historiador
«A democracia pode estar ameaçada»
Sem
papas na língua, o historiador e Catedrático da Universidade Nova
de Lisboa alerta que está em curso uma «profunda mudança de
regime», que se traduz num «retrocesso» ao nível de diversas
conquistas de Abril. Fernando Rosas fala em «mercantilização» e
«elitização» no acesso ao ensino, afirma que o governo trata as
universidades como trata o país e adverte que os cortes orçamentais
podem levar ao encerramento de 80 por cento das unidades de
investigação de ciências sociais em Portugal.
O 38.º
aniversário do 25 de Abril tem um significado especial devido à
conjuntura que atravessamos?
Acabo de receber a notícia (NDR: A
entrevista foi gravada a 23 de Abril) de que a Associação 25 de
Abril não vai estar na cerimónia oficial na Assembleia da República
por entender que este governo está a desenvolver uma política
contrária aos ideais de Abril. Para além disso, o ex-Presidente da
República, Mário Soares, também se solidarizou com esta tomada de
posição. Isto para lhe dizer que estamos a assistir no nosso País a
uma rotação da governação ao centro e a uma tentativa de mudar os
paradigmas fundamentais da democracia portuguesa. Está em curso um
processo político, económico, social e ideológico de mudança do
regime.
Qual é o
objectivo desta «mudança de paradigmas»?
A pretexto da crise e do seu
necessário combate, pretende-se uma alteração dos alicerces de
todos os sectores da sociedade, educação incluída. Alguns dos
fundamentos que eram a essência do 25 de Abril estão a ser postos
em causa. A própria democracia, creio eu, pode estar ameaçada. Não
se trata só de retirar direitos sociais, de fomentar o desemprego,
baixar a indemnização por despedimento, de exercer uma brutal
punção, directa ou indirecta, sobre os salários, etc. Sem
democracia social não há democracia política. Aquilo que se está a
passar no domínio da destruição do Estado social e dos rendimentos,
vai ter repercussões inevitáveis no funcionamento da democracia
política. Isto é uma verdade que se vai verificar, mais tarde ou
mais cedo.
Consegue
apontar alguns sintomas da ameaça democrática de que fala?
Fico
completamente alarmado com a irresponsabilidade com que se assinou
este tratado europeu sobre o equilíbrio orçamental. Este documento
passa por cima das competências da Assembleia da República e
«desparlamentariza» a República portuguesa. As decisões de um povo
soberano representado em S. Bento passam a valer nada.
Veja que somos obrigados a cumprir
um valor de défice que estrangula a economia portuguesa, que a
impede de ter um Estado social. Se não cumprirmos, corremos o risco
de sofrer multas por parte de um tribunal europeu.
Assiste-se a um esvaziamento de
competências dos órgãos do estado-nação, precisamente onde nasceu a
democracia. O desmantelamento silencioso dos órgãos nacionais vai
levar a que dentro de pouco tempo sejamos governados por órgãos
supranacionais que ninguém elegeu, coisa que aliás, já se
passa.
Está a
referir-se ao papel da troika e o facto de se imiscuir na nossa
soberania?
A troika toma, com inteiro à
vontade, decisões no plano económico e financeiro que são muitas
vezes competências do governo e do Parlamento. E não é só a troika.
Neste processo de esvaziamento da democracia são os poderes
fácticos, a troika e o governo alemão, a tomar as rédeas. Alguém
votou na senhora Merkel ou na troika para governar Portugal? Qual é
sua a legitimidade democrática?
Portugal
não perdeu a capacidade para se auto-governar?
Temos de ser
senhores das decisões que tomamos! Não pode ser uma troika, um
comando autoritário, não eleito e fáctico, a decidir qual vai ser a
política financeira e económica de Portugal. Nunca concordarei com
isso, apesar de achar que o nosso país deve estar na União Europa e
na moeda única.
Há uma
tendência para os tecnocratas assumirem o poder, como aconteceu com
Monti, em Itália?
Essa é a aparência da verdade. Mas
não há governos tecnocratas. Oliveira Salazar em 1928 chegou a
ministro como um técnico das finanças, era o «mago das finanças»,
como lhe chamavam. Só que o problema era de solução mais política
do que técnica. Os próprios elementos da troika não são
tecnocratas, são agentes de políticas muito bem comandadas e
orquestradas a partir da Alemanha.
Rejeita
então que existam soluções técnicas?
Completamente. Há diversas formas
de reagir à crise. Mas o que temos visto são respostas políticas
com impactos muito gravosos ao nível social e com reflexos na
qualidade da democracia. O "New Deal" no início dos anos 30 foi uma
resposta nova, precursora do "keynesianismo", e que contrariava
completamente o discurso ortodoxo de resposta à crise.
A oposição
tem defendido que o governo tem ido para lá da troika. Trata-se de
mera submissão ou é calculismo eleitoral?
Não é o facto
de se ter ido além da troika que está mal, o problema começa logo
na aprovação do memorando. O PS está numa espécie de esquizofrenia
política: aprovou um documento que é um instrumento central de
aplicação da estratégia de austeridade, mas condena o excesso de
austeridade.
Faço parte de uma corrente de
opinião que entende que o memorando de entendimento não devia ter
sido aprovado. O documento assinado pelo governo de Sócrates tem na
sua génese a destruição da nossa economia, mergulhando o país numa
recessão cumulativa, da qual não se sai num estalar de dedos.
Qual era a
alternativa?
Existiam diversas soluções
estratégicas que, passavam, necessariamente por outro rumo para a
economia do que o que estamos a trilhar. Vamos demorar,
seguramente, largos anos até recuperarmos da recessão profundíssima
em que nos encontramos.
Vai ser
possível evitar um segundo pacote de ajuda financeira?
Quando o governo faz mais do que a
troika manda está, sobretudo, a antecipar que não vai conseguir
cumprir o primeiro programa de ajuda. Não nos podemos esquecer que
pouco antes de terminar o primeiro empréstimo o governo terá de
pagar uma dívida astronómica em juros compostos.
Conseguiremos, algum dia, pagar o que devemos?
Esta dívida é impagável! Trata-se
de outra mistificação. Eu sou subscritor de uma iniciativa cívica
que defende a fiscalização da dívida e o que digo é que se deve
dizer a verdade, sob pena de entrarmos numa espiral de recessão de
onde dificilmente sairemos. Defendo pois uma renegociação da
dívida, nos montantes, nos prazos, nos juros, etc. Se não se fizer
isto, ficaremos como a Grécia.
O governo,
mais tarde ou mais cedo, admitirá esse cenário?
O governo, com o precioso auxílio
da troika, está a disfarçar bem as dificuldades. Agora não diz que
não vai cumprir, e só mais tarde argumentará que perante as
alterações internacionais foi impossível evitar pedir um novo
empréstimo. Mas esse empréstimo terá necessariamente condições e
não vai ser dado de borla. Vai tudo recomeçar do zero e o Estado
perde a capacidade de criar riqueza
Não
vislumbra uma luz ao fundo do túnel?
Com franqueza só vejo alguma
esperança se nos articularmos internacionalmente com governos em
situações semelhantes, como a Grécia, a Espanha e Itália,
procurando, deste modo, que os países da dita periferia adquirissem
força para renegociar condições. A oportunidade é boa e pode ser
melhorada caso François Hollande seja eleito presidente em França
(NDR: O candidato socialista venceu a 2ª volta das presidenciais em
6 de Maio). Creio que a renegociação da dívida e a emissão de
"eurobonds", objectivos que considero essenciais, só será possível
com a pressão contratualizada dos países periféricos e num ambiente
de esfriamento do eixo Berlim-Paris.
Este
governo tem demonstrado capacidade para reformar o país?
O termo reforma é um eufemismo para
não dizer que não se está desmantelar certos sectores. A começar
pelo Serviço Nacional de Saúde, tendo como caso vertente a
maternidade Alfredo da Costa. O governo cede às parcerias e aos
lóbis exercidos pelos privados e cria capacidade excedentária e a
valência que encerra é a melhor e mais exemplar maternidade, que
agora é chamado «o berço de Portugal». A saúde é hoje um negócio
frutuoso para os interesses privados. Isto já para não falar no
plafonamento da segurança social, que é uma privatização parcial do
sistema de pensões, que vai terminar com uma lógica geracional que
existia. E depois, quem tapa o buraco?
Ao nível da
sua área de actividade, o que gostaria de salientar como alterações
de fundo?
Há muita coisa a mudar, mas não é
para melhor. Pela primeira vez desde que sou professor
universitário, há quase 30 anos, constato a realidade intolerável
de alunos que não podem cursar as licenciaturas, as pós-graduações,
os mestrados e os doutoramentos, por razões de ordem económica.
Neste momento há milhares de jovens que se vêem na contingência de
abandonar o ensino por insuficiência económica. Pela primeira vez
desde a "revolução dos cravos" está a verificar-se uma
discriminação económica no acesso ao ensino superior e das
pós-graduações. Só os mais ricos e afortunados podem estudar. É a
pior face da mercantilização do ensino. O que me entristece é que
foi contra isto que lutámos no 25 de Abril.
Trata-se,
na sua opinião, de um retrocesso?
O acesso ao ensino volta a ser,
como antes da revolução, uma questão condicionada do ponto de vista
da situação de classe de cada um. Está em curso uma elitização do
ensino com efeitos destrutivos. Nesse sentido, vejo com uma grande
preocupação os boatos que por aí circulam acerca do que poderão ser
as políticas do executivo para o ensino superior, nomeadamente no
âmbito da investigação. Estou francamente apreensivo.
Os cortes
orçamentais nas universidades agravam os problemas?
Estou preocupado especialmente ao
nível da investigação. Oiço dizer que bolsas individuais de
doutoramento vão desaparecer, financiamentos plurianuais vão
acabar, tudo vai ficar pendurado em projectos que dependerão do
mercado da Europa. Se isto for assim, 80 por cento das unidades de
investigação das ciências sociais terminam, sofrendo este domínio
um golpe tremendo. Com o lamentável prejuízo de uma geração de
investigadores que vai ficar pelo caminho.
Trata-se de
uma realidade exclusivamente nossa?
Isso é o que se está a passar em
países como a Inglaterra e a Itália, em que a desvalorização da
investigação nesta área em total, perante uma insensibilidade
terrível que existe. Em Portugal, a realidade que melhor conheço,
todo o investimento global no ensino e na investigação sofre cortes
brutais no orçamento. Tenho dificuldade em prever como é que se vão
assegurar os gastos de funcionamento de muitas universidades.
Deixe-me ironizar um pouco: numa economia mergulhada na recessão e
no atraso, para que é que são precisos diplomados no ensino
superior? A maneira como o governo trata a universidade é um
complemento da forma como está a tratar o país, destruindo capital
humano que a economia não absorve.
Isso é um
convite indirecto à emigração?
Não precisa de assegurar o futuro
de uma economia que está reduzida à sua expressão mais simples. O
futuro da educação no quadro desta política geral é absolutamente
negro. Já para não falar da educação do ensino secundário, onde a
política do ministro Nuno Crato é o retorno a todos os lugares
comuns do autoritarismo em matéria de pedagogia, infelizmente com
alguma popularidade.
A que se
refere em concreto?
Os exemplos são diversos e
sinistros ao nível da orientação pedagógica, com medidas
conservadoras e autoritárias. Exames da quarta classe, por exemplo.
Turmas para bons e para maus alunos? Reinstalação do quadro de
honra? Métodos de selecção? Tentar assinalar objectivos não por
níveis de conhecimento mas por metas curriculares precisas?
Confesso que me surpreendeu que a reacção dos professores tenha
sido tão tranquila. O governo sabe que se não tocar na questão da
avaliação e dos rendimentos dos professores esta classe não vai
fazer barulho.
Os
frenéticos sindicatos dos professores vão ficar passivos?
Os sindicatos não deviam tratar
exclusivamente dos problemas sindicais dos docentes, mas ocupar-se
também dos problemas da profissão, orientação e estratégia do
ensino. A vida dos professores não será fácil se o ensino se
transformar num "papaguear" autoritário de objectivos, esvaziando
os aspectos progressivos que se tentaram introduzir no ensino.
Nuno Crato
está a fazer tudo para «fumar o cachimbo da paz» com os
docentes?
O governo está a ser cuidadoso, mas
repare que a concentração dos grupos escolares e a reorganização
curricular vai levar ao despedimento, sem dor e sem dar por isso,
de milhares de professores. O aumento das turmas também - Estivemos
anos a lutar por um limite para as turmas, e agora…
Os
múltiplos bloqueios ao sistema educativo português devem-se, na sua
opinião, a erros de pessoas ou à estrutura burocrática do
ministério da 5 de Outubro?
A massificação do ensino, que é
indispensável à qualidade, foi feita relativamente há pouco tempo,
pouco depois do 25 de Abril. Houve barreiras para ultrapassar:
Demasiados professores impreparados, instalações incapazes de
albergar um "mar" de gente e currículos que pertenciam ao passado e
tinham de ser adaptados. Isto era o baixo nível geral, em todos os
campos. Compatibilizar a quantidade com a qualidade é um trabalho
prolongado e difícil. Considero o grande desafio democrático para o
ensino.
Ao
contrário do ambiente que se vive na Grécia e em Espanha, os ânimos
em Portugal permanecem relativamente calmos. Teme que a corda, se
esticar mais, pode partir?
A constatação inicial é que a
reacção às medidas do governo tem sido moderada. Mas seria uma pura
ilusão acreditar que o povo português tem uma característica
genética que o faz ser permanentemente manso, ordeiro e pacato,
atributos que o Estado Novo gostaria que ele tivesse, com a tal
frase do «povo de brandos costumes».
Admite o
agudizar do grau de confrontação?
Tudo depende da relação de forças,
da oportunidade e de acumular de tensões. De um dia para o outro,
uma circunstância aparentemente secundária, pode originar uma
incontrolável explosão em cadeia. Estou em crer que especialmente
os trabalhadores por conta de outrem, os principais sacrificados,
serão os primeiros a reagir, não só de forma organizada, como de
modo inorgânico. A manter-se esta política é quase inevitável. Eu
diria mais, é quase necessário.
Na Europa
existe um "exército" de quase 30 milhões de desempregados. Em
Portugal, a chaga cresce a olhos vistos, alcançando os 15 por
cento. Que esperança podem ter estas pessoas que perderam a noção
do seu horizonte?
Um povo de 10 milhões de pessoas
que tem mais de 1 milhão de desempregados, com a particularidade de
mais de 30 por cento serem jovens, é um factor brutal de
desestruturação das relações sociais, com consequências, mesmo ao
nível psíquico e de mau estar social, imprevisíveis. Metade destes
desempregados não têm subsídio e o RSI vai ser reduzido. Vão ser
criadas legiões de gente sem trabalho e sem subsídio. Como é que
esta gente vai reagir socialmente?
O fosso
social cava-se ainda mais e a classe média está esfrangalhada. Será
inexorável pensar que os ricos serão mais ricos e os pobres mais
pobres?
As estatísticas demonstram que à
medida que aumentam as curvas ascendentes da crise, são
absolutamente paralelas com as curvas ascendentes de enriquecimento
das classes superiores e com o declínio das camadas intermédias e
inferiores. O agravamento da crise acentua o ângulo de distância
entre ricos e pobres. Há um processo de concentração de riqueza nas
mãos de uns, e um processo de depauperização nos outros. Na crise
de 1929 passou-se isto e na actual crise, desde 2008 a esta parte,
está-se a passar rigorosamente o mesmo. O que significa que se cria
um ambiente de polarização social sem solução à vista. Um cenário
de pré-guerra. Estou em crer que a Europa, sobretudo a periférica,
pode estar nas vésperas de grandes convulsões sociais e
políticas.
A saída de
alguns desses países periféricos do euro pode ser uma bola de
neve?
Isso é uma possibilidade de
consequências imprevisíveis. A desvalorização dos rendimentos do
trabalho será brutal. O que vai acontecer politicamente? Sem
políticas de emergência a nível europeu que permitam gerir a dívida
de uma maneira razoável estes cenários têm alguma margem de
probabilidade de acontecer.
Foi um dos
80 historiadores que subscreveu uma carta aberta à presidente da
Assembleia da República contestando o fim dos feriados do 5 de
Outubro e do 1 de Dezembro. Como historiador e cidadão que opinião
tem?
São dois feriados de grande
significado histórico e de identidade social, que não faz sentido
algum eliminar. A identidade faz-se de feriados, de bandeiras e de
símbolos. O 1.º de Dezembro é a independência do país. E quer-se
acabar com isto numa altura em que a soberania está a ameaçada. E o
5 de Outubro? Gastou-se milhões há dois anos com o centenário da
Republica e agora acaba-se? Nem o Salazar mexeu no feriado da
República. Como jovem estudante apanhei muita pancada nas
celebrações do 5 de Outubro. A insensibilidade social e política
deste governo é chocante. Se os actuais governantes soubessem
alguma coisa de História jamais lhes passaria pela cabeça proibirem
esses dois feriados, a não ser por pura provocação política.
O argumento
da produtividade não colhe?
Associar os feriados aos ganhos de
produtividade é uma completa falsidade. Esta atitude do executivo
faz parte de uma política para dobrar, vexar e castigar o trabalho.
No fundo, mostrar quem manda.
Foi um
conhecido militante antifascista e como historiador o Estado Novo é
o período que tem estudado mais de perto. Como interpreta as
manifestações, aqui e ali, de saudosismo de Salazar?
Nos períodos de crise, em que as
pessoas passam mal, a nostalgia e a mistificação do passado como
tábua redentora é frequente, não só aqui, mas em toda a Europa. Na
própria Europa de Leste há fenómenos do mesmo tipo, com nostalgia
do tempo em que a vida era segura, existia emprego estável,
etc.
Preocupa-o
o sucesso de vendas de qualquer publicação ou notícia jornalística
relacionada com Salazar e o Estado Novo?
Isso não é de agora. O período
salazarista sempre foi alvo de uma grande curiosidade por parte do
povo português, bem como a história da República. Salazar sempre
vendeu, agora há estilos mais inomináveis, puro «trash»,
relacionados com a vida privada do antigo Presidente do
Conselho.
A adesão à
União Europeia e a entrada na moeda única foram dos marcos mais
importantes na história contemporânea portuguesa. O sonho pode
virar pesadelo?
Está a confirmar-se que a adesão ao
euro foi um erro fatal. Quanto às ajudas financeiras, os fundos
europeus, traduziram-se naquilo a que os economistas chamam de
«modernização conservadora», ou seja, não sustentada. Destruímos as
pescas e grande parte da agricultura e o aparelho produtivo também
foi menosprezado, investindo-se preferencialmente em imobiliário e
nas auto-estradas. Enchemos os bolsos aos interesses ligados à
construção civil, à banca e aos seguros, criou-se emprego, gerou-se
rendimento, mas não foi sustentado. A bolha rebentou e aqui
estamos.
É capaz de
apontar o dedo a alguém ou a alguns protagonistas da nossa história
recente?
As elites que emergiram do 25 de
Novembro - ou seja, da normalização da democracia, falharam na sua
tentativa histórica de modernizar o país. São elites que se resumem
às governações do bloco central, alternância ao centro entre PS e
PSD, e de vez em quando com o CDS. Estes políticos e estas
políticas fracassaram. É necessário criar condições para surgir uma
alternativa à esquerda, capaz de avançar com um novo modelo de
desenvolvimento. Para começar, conquistando a confiança dos
portugueses.
Esteve três
legislaturas na Assembleia da República como deputado. Como explica
que o nível de credibilidade dos parlamentares tenha descido tão
baixo?
O discurso medíocre e oportunista contra os políticos, a
política e o Parlamento em geral, é protofascista e contra a
democracia. Há deputados bons e maus, como em tudo. Também aqui a
solução para o problema reside na politica, nos partidos e nos
protagonistas políticos. As diatribes contra as políticas e os
políticos, em geral, são anti-democráticas e populistas. É uma
crítica fácil.
Nuno Dias da Silva
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