gente e livros
Marguerite Yourcenar
«Uma
balada alemã diz que os mortos esquecem depressa, mas os vivos
também. Eu próprio, a quinze anos de distância, recordo-me mal do
que foram estes episódios confusos da luta antibolchevique na
Livónia e na Curlândia, todo esse canto de guerra civil com as suas
erupções súbitas e as suas complicações dissimuladas, semelhantes
às de um fogo mal extinto ou de uma doença de pele. Cada região,
aliás, conhece uma guerra que em tudo lhe é própria; trata-se de um
produto local, como o centeio e as batatas. Os dez meses mais
repletos da minha vida passaram-se a comandar neste distrito
perdido cujos nomes russos, letões ou germânicos nada evocavam no
espírito dos leitores de jornais na Europa ou algures.»
In O Golpe de
Misericórdia.
Escritora Belga de língua francesa,
Marguerite Yourcenar - pseudónimo de Marguerite de Crayencour -
nasceu em Bruxelas, a 8 de Junho de 1903.
Foi educada em casa, mas de forma
exemplar: aos oito anos já lia Racine, com essa idade também, o pai
ensinou-lhe Latim; aos doze anos aprendeu Grego.
A sua carreira literária começa com
a obra Alexis ou o Tratado do Vão Combate (1929). O Golpe de
Misericórdia (1939) foi o seu primeiro sucesso literário.
Em 1937, numa viagem a Londres é
apresentada à escritora Virginia Woolf. Em 1939, mudou-se para os
Estados Unidos, para fugir à II Guerra Mundial, obtendo a cidadania
americana em 1947. A partida para os EUA é feita a convite da
tradutora Grace Frick, com quem Yorcenar irá manter uma relação
amorosa que dura até à morte de Frick.
O romance Memórias de Adriano
(1951), as memórias ficcionadas do imperador romano, valem-lhe o
reconhecimento mundial.
Foi a primeira mulher a ser
admitida na Academia Francesa de Letras, em 1980, sucedendo a Roger
Caillois.
Da sua bibliografia fazem parte,
entre outras, as obras: O Jardim das Quimeras (1921); Contos
Orientais (1938); O Golpe de Misericórdia (1939); Memórias de
Adriano (1951); e O Labirinto do Mundo (1974-77).
Marguerite Yourcenar passou os
últimos anos retirada numa ilha na costa Leste dos Estados Unidos.
Morreu a 17 de Dezembro de 1987.
O Golpe de Misericórdia.
Na estação de Pisa, à espera de um
comboio que o leve de volta à Alemanha, Eric von Lhomond convalesce
de um ferimento de guerra e recorda acontecimentos de há 15 anos
atrás. Após a I Guerra Mundial, Eric era um jovem a lutar no
exército Branco contra os Bolcheviques, numa região do Báltico. Ao
seu lado estava Conrad, o seu melhor amigo. E é Sophie, a irmã de
Conrad, que revela a Eric até onde pode ir o despero de um amor não
correspondido.