João Guedes e a pré-história da Televisão de Macau
Da judiciária para o jornalismo
Ex-investigador da Polícia Judiciária, João Guedes
tornou-se jornalista em Macau, em 1981, fazendo parte dos que
escreveram a "pré-história" da Teledifusão de Macau (TDM), cujo
'milagre' chegaria a 13 de maio de 1984.
A primeira emissão ainda estava
longe de ir para o ar, mas já trabalhava 'ao serviço' do que viria
a ser a estação pública, fazendo a sua estreia na Emissora Rádio
Macau, após trocar a Polícia Judiciária e Portugal por Macau e pelo
jornalismo.
"A minha mulher veio para fundar
a Interpol e eu vim com ela. Quando cheguei, era para ter ido para
o Gabinete de Comunicação Social, mas depois apareceu a
oportunidade de ir para a rádio. Precisavam de um jornalista para
fazer o internacional", conta João Guedes, 62 anos.
A mudança de ofício não fora,
porém, complicada: "Escrevia para jornais esquerdistas [risos], por
isso, é que não tive dificuldade", relata João Guedes, que integrou
na rádio uma redação com figuras que se viriam a tornar conhecidas
dos telespectadores, como Judite de Sousa ou José Rodrigues dos
Santos.
João Guedes observa que o
processo de criação da TDM coincide também com um período
"importante" de "completa transformação do panorama da comunicação
social de Macau", com um 'influxo' de jornalistas
profissionais.
A TDM nasce a 13 de maio de 1984,
com um canal bilingue (português e chinês) - que seria
desdobrado na década seguinte.
João Guedes também recorda
designadamente a programação televisiva que antecedeu as
transferências de soberania de Macau (1999) e de Hong Kong (1997),
quando a situação era "muito diferente", para destacar o
"interessante" facto de a filmografia emitida pela TDM, na sua
maioria europeia, atrair curiosos de Hong Kong, e os tempos de uma
Hong Kong sob censura e de uma Macau em liberdade.
"Transmitíamos filmes sem
censura, enquanto em Hong Kong eram cortados principalmente nas
questões sexuais", observa, elencando o "polémico" corte de cenas
consideradas uma ofensa à moral num filme ou documentário sobre
Júlio César.
A primeira cobertura noticiosa
realizada pela TDM ocorreu ainda antes do arranque oficial da
própria televisão, em dezembro de 1983.
"Foi o funeral de Ho Yin. Havia
uma série de câmaras, foi principalmente para testar a nossa
capacidade. Acabou por ser emitido um resumo já depois do 'milagre'
do 13 de maio. Foi como um número zero de um jornal", realça João
Guedes, que desempenhou "todos os cargos que havia" - de editor, a
chefe de redação, a diretor - e que, desde 2005, é assessor para a
informação e programas dos canais portugueses.
Dos serviços para os quais foi
destacado destaca a visita à Coreia do Norte, nos anos 1990, a
primeira de um jornalista português, como sublinha, a qual realizou
a convite do regime norte-coreano.
Já em Macau, das histórias que
cobriu, vem-lhe à mente mais um episódio dos anos 1980. "A
população de Macau tinha mais de 50 mil ilegais e, de repente, o
governador Carlos Melancia decide legalizá-las. Foi um problema",
lembra, contando que fora destacado para o Canídromo, a partir de
onde protagonizou um directo de 16 minutos após um "estampido"
naquele ponto de legalização que resultara em vários feridos.
Quem sintoniza no canal português
rapidamente o identifica como um contador de histórias. Autor de
vários livros, evidente curioso do passado e ávido leitor, de João
Guedes é também a autoria de diversos documentários, alguns dos
quais transmitidos pela RTP.
Os tempos em que corria para dar
notícias acabaram, mas não o entusiasmo.
"Continuo a sair para a rua, só
que, em vez de trazer a história a toda a velocidade, venho de
autocarro…", brinca, traçando um paralelismo com "as diferentes
fases da vida".
Lusa
macauantigo_blogspot_pt