Editorial
Problemas globais, respostas globais
Vivemos, nos tempos que correm, um
grande movimento de turbulência. O futuro já não é linear. Pelo
contrário, avolumam-se os sintomas e indícios que nos conduzem a
ajuizá-lo de profundamente dilemático.
Por um lado, acentuam-se as hipóteses e os caminhos que nos
conduzem à esperança e à vontade de vencer os escolhos que ainda
restem do "velho mundo". Por outro lado, detectam-se,
permanentemente, os referentes da crise que acarretam mal-estar,
impotência e desânimo, mas que urge reclamar pela sua
solução.
A revolução científica e tecnológica imprimiu uma dinâmica de
transformação, não só no domínio da ciência e da tecnologia, mas
também no das relações económicas, sociais e até políticas.
Em particular, o avanço tecnológico no domínio das comunicações
implicou que as economias deixassem de depender directamente de um
único local de produção e distribuição dos bens produzidos e se
constituíssem redes de produção e distribuição sem fronteiras de
qualquer natureza. Tal fenómeno acentuou o carácter transnacional
das empresas e arrastou consigo a liberalização dos mercados, já
não identificados com o país de origem, mas reconhecidos à escala
mundial.
A este fenómeno tem-se convencionado chamar de globalização que,
fundamentalmente, significa a realização, à escala planetária, de
qualquer actividade humana, seja ela de natureza económica,
financeira, política ou cultural.
A globalização, em si, não é um bem nem um mal: ela corresponde a
um estádio do desenvolvimento humano e ao aproveitamento das
capacidades que a revolução científica e tecnológica trouxe ao
Homem. Contudo, a globalização como fenómeno humano, tem servido
quase em exclusivo para o crescimento da economia na escala física
do próprio sistema, sem cuidar do desenvolvimento dos povos na sua
globalidade, isto é, no seu bem-estar e no respeito pela sua
identidade.
Daí, a preocupação dos especialistas em políticas educativas de
encontrarem respostas a este apelo da "uniformização", tentando
criar um amplo debate em torno da necessidade de aproximação dos
sistemas educativos, com vista à livre circulação do pensamento, da
investigação, dos alunos e dos docentes, já que se pode imaginar
quanto a globalização poderia constituir um fenómeno de
transferência de riqueza e de gestão dos recursos planetários. Ora,
o que acontece é precisamente a situação contrária. Na década de
sessenta, 20% dos países ricos detinham 70% da riqueza mundial, e
20% dos mais pobres apenas 2,3%; quarente anos mais tarde, em pleno
funcionamento da globalização da economia e de crescimento
económico, a riqueza detida pelos 20 países mais ricos subiu para
83% e dos mais pobres desceu para 1,3%.
E, por mais paradoxal que tal possa ser, a realidade vivida dentro
de cada um dos países, sejam eles ricos ou pobres, é igualmente a
do desequilíbrio entre as diversas camadas das suas populações,
aumentando o fosso que divide os ricos, cada vez mais ricos, dos
pobres, cada vez mais pobres.
Reconhecer estas realidades significa desenvolver estratégias de
aproveitamento desta nova etapa da vida humana; desconhecê-las ou
ignorá-las significa deixar o campo livre a todos aqueles que
aproveitam o desenvolvimento científico e tecnológico em favor de
alguns, deixando de lado uma parte demasiado significativa da
população.
Até porque acreditamos que um mundo global exige também uma
redobrada atenção e a permanente busca de respostas globais.
Este texto não segue o novo
Acordo Ortográfico.