Encontro Nacional na ESTCB
Aviação, uma oportunidade para o país
O setor aeronáutico pode ser uma oportunidade para o
país, em especial para regiões do interior. O tema esteve em
destaque no Encontro Nacional de Aviação, promovido este mês na
Escola Superior de Tecnologia do Instituto Politécnico de Castelo
Branco (ESTCB), onde já funciona um Curso Técnico Superior (CTeSP)
em Fabrico e Manutenção de Drones. Para além da formação avançada,
que no futuro poderá evoluir também para uma licenciatura, são
vários os fatores que tornam as regiões do interior apetecíveis,
como a existência de aeródromos de qualidade (Castelo Branco e
Ponte de Sor são bons exemplos, a par de outras cidades como
Évora), boas condições climatéricas e corredores aéreos
disponíveis.
A nível nacional as instituições de
ensino superior têm vindo a estabelecer redes nesta área.
Universidade de Évora, Universidade da Beira Interior, Politécnicos
de castelo Branco, Setúbal ou Portalegre são exemplos de
instituições que têm estado atentas e empenhadas neste setor. De
resto há já bons exemplos no terreno, como acontece em Ponte de
Sor, onde o aeródromo acolhe uma escola de pilotos de aviação de
nível mundial, para além de outras estruturas, tendo a autarquia
estabelecido acordos de cooperação com diferentes instituições de
ensino superior.
Eurico de Brito, vice-presidente da
Conselho Estratégico para a Investigação Científica e Tecnológica
em Aviação, e responsável pela empresa L3, que a nível mundial
emprega 38 mil pessoas ligadas ao setor aeronáutico e fatura 10 mil
milhões de euros, realça o facto da "aviação poder ser um bom motor
de desenvolvimento para as regiões do interior".
Aquele responsável esclarece que "a
aviação é uma atividade em grande expansão e no futuro vai
necessitar, a nível mundial, de mais de 600 mil pilotos, mais de
600 mil técnicos de cabine e mais de 600 mil técnicos de
manutenção. A frota vai ser duplicada. É um setor que vai
catapultar a economia mundial, mas também a regional".
Durante o encontro, o exemplo de
Castelo Branco com a aposta ao nível do ensino superior num curso
sobre «drones», foi referido. O então presidente do Instituto
Politécnico, Carlos Maia, considerou, numa dos seus atos públicos
enquanto responsável pela instituição, que "esta é uma área que tem
todas as condições para se consolidar como importante na
instituição. Temos tido a capacidade de procurar os parceiros
certos para isso". Entre eles destacam-se o Conselho Estratégico
para a Investigação Científica e Tecnológica em Aviação, o Centro
de Excelência para a Inovação da Indústria Automóvel, a Tekever
(empresa nacional de fabrico de drones) e o Instituto de Soldadura
e Qualidade (ISQ), através do Laboratório de Termodinâmica e
Aeronáutica (Labet).
Carlos Maia recorda que "há
capacidades instaladas nos politécnicos que muita gente desconhece.
Nós, no IPCB, queremos reforçar esta área da aviação". Um setor
que, diz José Carlos Metrolho, diretor da ESTCB, tem grande
empregabilidade: "o curso em Fabrico e Manutenção de Drones está
alinhado com a oferta formativa da escola em que ou a
empregabilidade é plena ou é de cerca de 90 porcento".
Esta oferta formativa permite ainda
criar sinergias entre os docentes de outras áreas como de
eletrotecnia, telecomunicações, informática ou robótica. Mas
Armando Ramalho, professor responsável pelo curso na EST, que com o
docente Manuel Veloso, organizou o Encontro, vai mais longe e fala
numa rede de sinergias internas e externas: "Esta é uma área de
grande potencial de desenvolvimento económico. É bom que saibamos
trabalhar em rede. Neste setor o interior tem vantagens e temos que
saber aproveitá-las. É importante saber atrair empresas que também
nos saibam desafiar, pois o nosso curso partiu da necessidade de
uma empresa que se quer instalar na região". É em Castelo Branco,
na zona industrial, que a empresa SpaceSilver Drones, com sede no
Centro de Empresas Inovadoras, quer instalar uma fábrica de
«drones» de grande dimensão.
E se ao nível formativo Castelo
Branco começou a dar passos importantes com a criação daquele curso
e também com um curso no Instituto de Emprego e Formação
Profissional, na investigação o Laboratório do ISQ na cidade tem
dado cartas pela realização de diferentes tipos de testes como as
asas de um novo modelo de avião para a Embraer.
A opção pela formação em «drones»
surge como diferente, mas vem ao encontro das novas tendências.
Estas aeronaves não pilotadas são utilizadas em diferentes
contextos, como a agricultura, o audiovisual, mas também em ações
de busca e salvamento. Passos Morgado, General Brigadeiro da Força
Aérea, explica que os «drones » inserem-se na "estratégia da Força
Aérea, para a qual temos um programa específico. A vigilância
marítima, mas também ações de busca e salvamento" podem ser feitas
com o recurso a esse tipo de tecnologia "a qual pode ser
complementar aos tradicionais aparelhos tripulados".
Passos Morgado recorda que "este é
um dos setores em que conseguimos fechar todo o ciclo, desde a
conceção, ao fabrico e a sua utilização. Portugal tem condições
únicas para os testes deste produto devido às suas condições
climatéricas e ao espaço aéreo disponível. É uma área em que o país
deve apostar". Também ao nível do exército esta questão tem
merecido atenção. O Coronel Pereira da Silva fala da Academia
Militar e da disponibilidade do centro de investigação em colaborar
com a escola.
Na mesma cerimónia, o presidente da
Câmara de Castelo Branco, Luís Correia, mostrou disponibilidade da
autarquia para construir novas estruturas de apoio ao aeródromo e
ao desenvolvimento do setor aeronáutico caso seja necessário e
dentro das possibilidades do município. O autarca falava durante a
sessão do abertura do Encontro nacional de Aviação, realizado
terça-feira na Escola Superior de Tecnologia. "Da parte do
município estaremos sempre disponíveis para construir o que for
necessário", disse.
Luís Correia recordou o
investimento que recentemente foi feito no Aeródromo de Castelo
Branco, com a construção de um hangar e uma torre de controlo.
"Castelo Branco iniciou há algum tempo um caminho neste setor, no
qual queremos apostar. Nos últimos três anos fizemos investimentos
consideráveis no aeródromo. A qualidade das infraestruturas que já
construímos começam a dar-nos notoriedade e atratividade. Esperamos
que isso venha a dar frutos e iremos dar continuidade a este
caminho", disse.
O aeródromo albicastrense passou
também a acolher o aeroclube e com alguma regularidade é utilizado
por uma escola de pilotos de aviação comercial para aterragens e
descolagens.
O presidente considera que "Castelo
Branco tem condições excecionais para esta área", e dá como exemplo
o aspeto meteorológico, para além da vertente infraestrutural. O
autarca referiu-se ainda à crescente utilização do aeródromo
albicastrense, que no próximo fim-de-semana vai acolher um festival
aéreo.
Luís Correia lançou ainda o repto
ao seu homólogo de Ponte de Sor, Hugo Hilário, onde funciona um
cluster nesta área, quer pela escola de pilotos comerciais aí
instalados, quer pela fábrica de «drones», ou pelas oficinas de
manutenção de aeronaves. "Sabemos que temos que aprender e iremos
bater- vos à porta para fazermos o nosso caminho na investigação",
disse.