Projeto integrado por Coimbra na capa da Nature
Um isótopo mais velho que o Universo
Uma equipa internacional de
investigadores, da qual fazem parte seis cientistas da Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), conseguiu
medir, pela primeira vez, o mais longo tempo de vida média de
sempre de um isótopo radioativo registado por um aparelho de
medida.
Este facto extraordinário foi
publicado, a 25 de abril, na capa da revista Nature, a mais
prestigiada de todas as revistas científicas. O isótopo em causa é
o Xe 124 e o seu tempo de vida média é aproximadamente um bilião
(milhão de milhões) de vezes mais velho que o Universo.
O Universo tem cerca de 14 mil
milhões de anos, um período de tempo inconcebível quando comparado
com a escala da vida do ser humano. Como se isso só por si não
causasse assombro suficiente, existem isótopos radioativos
(elementos instáveis que se transformam ao fim de algum tempo
emitindo radiação) cuja vida média acontece em escalas muito
maiores que a da existência do próprio Universo.
"O facto de conseguirmos medir
diretamente um processo tão raro quanto este demonstra o alcance
extraordinário do nosso sistema de medida, mesmo quando ele não foi
feito para medir estes eventos, mas sim matéria escura", salienta
José Matias, coordenador da equipa portuguesa neste esforço
internacional e investigador do Laboratório de Instrumentação,
Engenharia Biomédica e Física da Radiação (LIBPhys) da FCTUC.
A medição só foi possível graças ao
sistema XENON1T, o instrumento mais sensível alguma vez produzido
pela humanidade para a deteção de matéria escura. Encontra-se
instalado no Laboratório Nacional de Gran Sasso (Itália), o maior
laboratório subterrâneo a nível mundial, debaixo de 1300 metros de
rocha para blindar o sistema dos raios cósmicos existentes à
superfície.
O consórcio XENON é constituído por
160 cientistas de 27 grupos de investigação dos EUA, Alemanha,
Portugal, Suíça, França, Holanda, Suécia, Japão, Israel e Abu
Dhabi. Portugal é parceiro desta colaboração desde o seu início, em
2005, através da equipa do LIBPhys.