Bocas do galinheiro
O fim da II guerra foi há 75 anos
No
dia 08 de maio de 1945, foi declarado o fim da II Guerra Mundial no
continente europeu, após a rendição da Alemanha nazi. Um conflito
que começara a 1 de Setembro de 1939 quando Hitler ordenou a
invasão da Polónia e os bombardeiros alemães arrasaram a cidade
polaca de Wielun. Apesar de só em 1941 a guerra ter alastrado a
outros continentes que o europeu, e se ter efectivamente tornado
mundial, ou global, como se diria nos nossos dias, já antes de 1939
tinham ocorrido escaramuças noutros continentes, sendo certo que só
em Setembro de 1945, com a capitulação do Japão, a guerra de facto
terminou. Pormenores à parte, esta guerra é a de 1939/1945.
Mas, não é por causa das datas,
nem tão pouco por este ano, devido à pandemia de que já aqui
falámos, as comemorações terem sido pautadas pelo confinamento,
sublinhadas apenas por actos simbólicos, que recordamos a
efeméride. Queremos, outrossim, lembrar um dos momentos mais
sombrios da humanidade, os brutais campos de extermínio nazis
espalhados pela Europa, muitos deles dedicados ao que chamaram a
"solução final da questão judaica", para os judeus e para o Mundo,
o Holocausto ou a Shoah, o aniquilamento programado de milhões de
judeus. O mais tristemente famoso foi sem dúvida
Auschwitz-Birkenau, libertado pelo Exército Vermelho soviético a 27
de Janeiro de 1945, dia que, para que não se esqueçam os hediondos
crimes perpetrados pelos nazis, passou a ser lembrado anualmente
como Dia Internacional da Memória do Holocausto. É o que pode
acontecer quando se entrega o poder a psicopatas.
Como é sabido a memória guarda-se
no celulóide. Não estranha pois que se possam alinhar aqui uma
série de filmes sobre os campos de extermínio e o Holocausto, desde
logo o colossal "Shoah" (1985), de Claude Lanzman, um documentário
onde o realizador através de entrevistas a sobreviventes,
testemunhas e nazis (entrevistados apenas em aúdio), disseca
durante mais de 9 horas o que na realidade aconteceu naquele
período infame. A história do Holocausto pela voz dos que o
viveram. Na mesma linha "Noite e Nevoeiro" (1956), de Alain
Resnais, uma curta metragem, onde, nos seus 32 minutos de duração o
realizador mescla imagens dos campos de extermínio com imagens de
arquivo dos deportados enquanto em voz off é lido um texto do poeta
Jean Cayrol, ele próprio um ex-prisioneiro de Maathausen, um dos
vários campos filmados por Resnais, a cores, que relatara a sua
experiência na obra "Poèmes de la nuit et du brouillard", que
acabou por dar título ao filme. Por seu lado Andre Singer, em 2014,
dirigiu também um documentário "Night Will Fall", sobre as
filmagens feitas pelas tropas britânicas aquando da libertação do
campo de Bergen-Belsen, recuperando filmagens originais editadas
por Sidney Bernstein e Alfred Hitchcock, para um documentário sobre
os campos de extermínio alemães que ficou na gaveta para não travar
a reconstrução alemã.
No que à ficção diz respeito, há
títulos para todos os gostos, muitos deles adaptações de romances,
a começar por "O Rapaz do Pijama às Riscas" (2008), de Mark Herman,
ou como a amizade de dois miúdos, o filho do comandante de um campo
de extermínio e um prisioneiro judeu pode levar a uma inesperada
troca de roupa, e, num tom entre a tragédia e o humor, Roberto
Benigni realizou e interpretou "A Vida é Bela" (1997), em que um
pai, preso num campo com o filho, o tenta convencer de que estão
num concurso e que o prémio vai ser um tanque de guerra e com esta
"brincadeira", sobreviverem às desumanas condições em que são
mantidos. Uma estranha e original incursão no horror da guerra que
valeu a Benigni o Oscar de Melhor Actor e o galardão de melhor
filme estrangeiro.
Também Steven Spielberg quis
consagrar o tema na tela. Em "A Lista de Schindler", aborda a
questão dos campos através da evolução do empresário alemão Oskar
Schindler que, de oportunista, aproveitando a mão de obra escrava
de judeus de Cracóvia para vender mais barato, começa a perceber
que quantos mais trabalhadores levasse para a fábrica, mais salvava
de morrerem às mãos do comandante do campo ou de serem enviados
para campos de extermínio. Esta sua atitude mereceu o
reconhecimento da comunidade judaica. Por seu lado o filme
arrebatou sete Óscares em 1994, entre os quais os de melhor filme e
realizador.
"O Pianista", de Roman Polanski",
"A Escolha de Sofia", de Alan j. Pakula , "O Diário de Anne Frank",
de George Stevens, ou "O Julgamento de Nuremberga", de
Stanley Kramer, relato dos julgamentos de altos dirigentes nazis
pelos crimes de guerra, em que o Holocausto teve especial
relevância, entre outros, de que poderíamos lembrar "A ponte do Rio
Kwai", de David Lean e "Feliz Natal Mr. Lawrence, de Nagisa Oshima,
ambos sobre a brutalidade dos campos de prisioneiros japoneses,
abrilhantam uma lista de filmes que foram feitos exactamente para
que não esqueçamos. Ou, como canta o tema de Vera Lyn, "We'll Meet
Again".
Até à próxima e bons
filmes!
Luís Dinis da Rosa
Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico
João Luís