Primeira Coluna
A escola e o medo
Em épocas de crise é sempre fácil passar
a ideia de que há coisas a mais, que não necessitamos de tanto, que
o melhor é fecharem-se serviços, acabar com instituições de ensino,
numa lógica de racionalização bacoca. Dizem os profetas da desgraça
e os seus seguidores (os mesmos que têm cargos por nomeação
partidária, com direito a gabinete e outras mordomias pagas por
todos nós) que há que despedir, com ou sem mobilidade especial,
sempre com o argumento de que o Estado tem gente a mais. Dizem-nos
também que é assim porque a Troika quer que assim seja. A mesma
Troika que nos «ajudou» vendendo-nos dinheiro (mas isso daria uma
crónica de outro tipo).
A escola deve ser entendida como um
vetor determinante para o desenvolvimento e coesão do país. É na
escola que os portugueses deixam, diariamente, os seus filhos em
idade escolar, confiando-lhe (como já referiu várias vezes João
Ruivo) os seus maiores tesouros. É à escola, aos professores e
funcionários, que se exige muito do que as próprias famílias
deveriam exigir a si próprias. Mas, e bem, é à escola que se exige
um ensino de qualidade e de acesso gratuito a todos os portugueses
em idade escolar obrigatória.
A escola pública tem sabido
responder a tudo isso. Mas a escola pública anda com medo, está
intranquila, confusa e sem saber o que dizer aos seus membros. Sem
saber o que dizer aos professores, muitos deles com mais de 20 anos
de experiência, aos funcionários (que ouviram a notícia de que o
Estado iria despedir aqueles que menos ganham), aos pais dos alunos
(que não conseguem entender muitas das medidas anunciadas), aos
alunos que temem ser cobaias do sistema (como outras gerações o
foram no passado) e à comunidade, que pode parecer alheada dos
problemas do setor, mas que há muito deixou de ser
instrumentalizada pela conversa de quem quer conversar de forma
falsa e desonesta.
De uma forma, ou de outra, todos os
portugueses estão ligados à escola. Pelos filhos, pelos netos e por
si próprios, os portugueses olham para a escola pública como uma
instituição séria e credível. O problema é que têm sido muitas as
mudanças. Sempre que uma nova equipa chega à 5 de outubro
implementa medidas diferentes das dos seus antecessores. Da famosa
avaliação de professores, passando pelos tempos letivos e pela
criação de mega agrupamentos de escola, ao recente anúncio da
mobilidade especial de professores, são muitas as alterações a que
sujeitam a escola pública.
É por isto e por muito mais, que a
escola pública está com medo. Com medo do que aí vem, com medo dos
horários zero, com medo dos despedimentos, com medo de correr o
risco de perder a confiança da comunidade.
Ainda assim, os portugueses saberão
dar a melhor resposta àquilo que os espera. Pena é que por vezes
não se ouça o povo. E lá diz o velho ditado popular: "se não sabes,
não mexas". Levado à letra, certamente que evitaria muitas
confusões, atropelos, comentários menos abonatórios e a escola
estaria certamente mais tranquila...