1ª Coluna

Primeira Coluna
A escola e o medo

IMG_1620.jpgEm épocas de crise é sempre fácil passar a ideia de que há coisas a mais, que não necessitamos de tanto, que o melhor é fecharem-se serviços, acabar com instituições de ensino, numa lógica de racionalização bacoca. Dizem os profetas da desgraça e os seus seguidores (os mesmos que têm cargos por nomeação partidária, com direito a gabinete e outras mordomias pagas por todos nós) que há que despedir, com ou sem mobilidade especial, sempre com o argumento de que o Estado tem gente a mais. Dizem-nos também que é assim porque a Troika quer que assim seja. A mesma Troika que nos «ajudou» vendendo-nos dinheiro (mas isso daria uma crónica de outro tipo).

A escola deve ser entendida como um vetor determinante para o desenvolvimento e coesão do país. É na escola que os portugueses deixam, diariamente, os seus filhos em idade escolar, confiando-lhe (como já referiu várias vezes João Ruivo) os seus maiores tesouros. É à escola, aos professores e funcionários, que se exige muito do que as próprias famílias deveriam exigir a si próprias. Mas, e bem, é à escola que se exige um ensino de qualidade e de acesso gratuito a todos os portugueses em idade escolar obrigatória.

A escola pública tem sabido responder a tudo isso. Mas a escola pública anda com medo, está intranquila, confusa e sem saber o que dizer aos seus membros. Sem saber o que dizer aos professores, muitos deles com mais de 20 anos de experiência, aos funcionários (que ouviram a notícia de que o Estado iria despedir aqueles que menos ganham), aos pais dos alunos (que não conseguem entender muitas das medidas anunciadas), aos alunos que temem ser cobaias do sistema (como outras gerações o foram no passado) e à comunidade, que pode parecer alheada dos problemas do setor, mas que há muito deixou de ser instrumentalizada pela conversa de quem quer conversar de forma falsa e desonesta.

De uma forma, ou de outra, todos os portugueses estão ligados à escola. Pelos filhos, pelos netos e por si próprios, os portugueses olham para a escola pública como uma instituição séria e credível. O problema é que têm sido muitas as mudanças. Sempre que uma nova equipa chega à 5 de outubro implementa medidas diferentes das dos seus antecessores. Da famosa avaliação de professores, passando pelos tempos letivos e pela criação de mega agrupamentos de escola, ao recente anúncio da mobilidade especial de professores, são muitas as alterações a que sujeitam a escola pública.

É por isto e por muito mais, que a escola pública está com medo. Com medo do que aí vem, com medo dos horários zero, com medo dos despedimentos, com medo de correr o risco de perder a confiança da comunidade.

Ainda assim, os portugueses saberão dar a melhor resposta àquilo que os espera. Pena é que por vezes não se ouça o povo. E lá diz o velho ditado popular: "se não sabes, não mexas". Levado à letra, certamente que evitaria muitas confusões, atropelos, comentários menos abonatórios e a escola estaria certamente mais tranquila...

 
 
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