Primeira Coluna
Manuais escolares gratuitos
O Ministério da Educação anunciou este mês que no
próximo ano letivo os alunos do 1º ano de escolaridade receberão
manuais escolares gratuitos. A medida vai abranger milhões de
alunos e constituirá um apoio às famílias. Por ano, e só em livros,
cada família, por aluno, gasta entre 38 a 50 euros no 1º ano de
escolaridade.
Esta medida, que agora terá que ser
operacionalizada com as editoras, representará um custo estimado
para o Estado em cerca de três milhões de euros. Essa é a
perspetiva da tutela, após ter acolhido a proposta do PCP, de
alteração do Orçamento de Estado nesse sentido.
A discussão em torno da
gratuitidade dos manuais escolares não é nova. Muitas autarquias
tem elas próprias assumido a aquisição de livros quer para todos os
alunos, quer para os alunos de famílias mais carenciadas. Mas esta
opção da tutela muda um pouco o paradigma, tanto mais que o
objetivo passa por alargar essa medida a a outros recursos
didáticos e a todos os anos de escolaridade obrigatória.
O Ensino Magazine anualmente faz um
balanço daquilo que as famílias portuguesas gastam no início de
cada ano letivo. Em muitos casos, quando por exemplo há dois filhos
em idade escolar, 700 euros são insuficientes. Ou seja, um ordenado
médio é insuficiente para fazer face a essas despesas.
O investimento na educação nunca
pode ser visto como um gasto. A educação e o conhecimento são o
maior trunfo que um país como o nosso pode ter para enfrentar a
competitividade à escala global. É com a educação e com o
conhecimento que se constroem sociedades capazes de se afirmar, de
se socializar e de pensarem pelas suas próprias cabeças.
Podem dizer-me que são só 50 euros
de apoio e que a medida é populista. Mas 50 euros é muito. Este
esforço revela também a perspetiva de reforço da escola pública e
de acesso igualitário a todas as crianças e portugueses ao ensino.
É um sinal que, diga-se, já há muito fazia falta no nosso país.
Importa agora intervir nos outros eixos, como a melhoria das
condições das escolas (num processo praticamente travado nos
últimos quatro anos); o reforço do papel do professor (que na
última década foi obrigado a ser também ele um burocrata e um
secretário do sistema), o funcionamento dos mega agrupamentos
(barcos demasiado grandes, com escolas distantes e diferentes umas
das outras, onde uma equipa diretiva é insuficiente como se
verifica praticamente em todo o país); ou o reforço da escola
inclusiva (é impossível a escola pública ser inclusiva com os meios
humanos disponíveis. Só está a ser inclusiva no papel, prejudicando
todos sem exceção).
Nos mais de 40 anos de democracia
Portugal fez um caminho que se deve orgulhar no que à educação diz
respeito. Cada ministro impôs a sua perspetiva e aquilo que
considerava melhor serem os interesses do país. Certamente que este
novo ministério não será diferente. A questão dos manuais pode
dizer-se que não vai mexer com a organização interna das escolas,
nem com o seu funcionamento. Mas mexe seguramente com o orçamento
das famílias e com o modo como a população vai olhar para a
importância da educação no nosso país.