Covid-19: cientistas que criaram testes são "Heróis Precários"
A maioria dos investigadores do
Instituto de Medicina Molecular (IMM), que desenvolveram um teste
de despiste do novo coronavírus, tem vínculos de trabalho
precários, vivendo "de bolsas e contratos a prazo", alertou a
Federação Nacional dos Professores (Fenprof).
Os cientistas do IMM são "heróis precários", segundo a Fenprof,
que lembra o feito da equipa que conseguiu desenvolver um teste
rápido para o coronavírus SARS-CoV-2, que provoca a doença
covid-19, feito com reagentes produzidos em Portugal.
"A esmagadora maioria dos cientistas que trabalham no Instituto de
Medicina Molecular (IMM), que nos proporcionou este instrumento tão
justamente glorificado, têm vínculos de trabalho precários, vivendo
numa sucessão de bolsas e contratos a prazo", lamenta a Fenprof em
comunicado enviado para as redações.
Segundo a federação de professores, "a própria diretora do IMM,
motor e catalisador desta realização, é uma investigadora precária
que ainda há pouco tempo viu ser-lhe recusado um contrato a prazo,
ao abrigo do chamado Estímulo ao Emprego Científico".
A Fenprof recorda que o que se passa no IMM, que pertence à
Universidade de Lisboa, repete-se em outras instituições, onde a
maioria dos trabalhadores tem vínculos precários.
"Os investigadores científicos são imprescindíveis ao país e ao
ensino superior, tal como é imprescindível salvaguardar e fixar a
massa crítica de investigadores e de talento científico existente,
tanto para a resposta a crises como aquela que atravessamos, quanto
para o relançamento e desenvolvimento da nossa sociedade",
sublinha.
Os investigadores do IMM foram excluídos do programa lançado pelo
Governo de regularização dos vínculos precários na administração
pública (PREVPAP) porque o IMM está registado como uma instituição
privada sem fins lucrativos, apesar de pertencer a uma instituição
pública.
"O IMM é apenas um exemplo de uma situação que ocorre com a
esmagadora maioria dos centros de investigação científica, nas
universidades e nos politécnicos públicos do nosso país", alerta a
Fenprof, que nos últimos anos tem vindo a alertar para a situação
dos investigadores em Portugal.
A Fenprof volta por isso a pedir a regularização dos vínculos
precários, nomeadamente "dos investigadores que trabalham em
centros (pseudoprivados) pertencentes a instituições públicas",
assim como a "integração na carreira dos (percentualmente
poucos) investigadores que foram aprovados no quadro do
PREVPAP".
O reforço de "meios públicos estáveis", com integração
massiva dos investigadores na carreira é outra das exigências da
Fenprof, que pede ainda que essa integração seja feita ao abrigo da
Lei do Trabalho em Funções Públicas e do Estatuto de Investigação
Científica, e não do Código do Trabalho e de regulamentos criados
por cada instituição, como está a acontecer, nomeadamente, nas
universidades que passaram a "estatuto de fundação".