Relações cortadas pelo corte das ditas
Reitores das universidades e
presidentes dos institutos politécnicos portugueses deram, no
passado dia 19 de novembro, um sinal claro de que não estão
dispostos a aceitar as propostas do Ministério da Educação no que
respeita às dotações orçamentais para o próximo ano, nem tão pouco,
no caso dos institutos politécnicos, a aceitar a indiferença com
que a tutela parece estar a afetar os institutos.
Este mau estar, que não é recente, culminou no passado dia 19
com um corte de relações do Conselho de Reitores para com o
Ministério da Educação. Uma posição que teve a solidariedade do
Conselho Coordenador dos Institutos Politécnicos, o qual solicitou
uma reunião de urgência com o Governo. O mesmo Governo que, de
acordo com o próprio presidente do Ccisp, não tem ouvido o órgão
representativo dos politécnicos.
As críticas ao estado da educação no nosso país têm vindo a
acentuar-se e a questão do orçamento foi apenas a gota de água que
para as universidades fez transbordar o copo. No ensino superior, a
questão dos cursos superiores de dois anos, sem qualquer título
académico, continua sem ser muito bem explicada e ainda não se
percebeu como é que se convencem as famílias a levar os seus filhos
para cursos que não têm qualificação nem grau académico.
A este turbilhão em que se encontra o ensino superior, acresce
um outro: o da escola pública, o dos exames que agora querem impor
aos docentes que nalguns casos já têm cinco ou muitos mais anos na
sua folha de serviço da docência. Como já referi aqui nesta mesma
coluna, sempre fui favorável às avaliações, pois só elas podem
trazer alguma justiça entre profissionais ou entre instituições.
Mas daí até mudarem as regras do jogo, quando nalguns casos estamos
já no prolongamento não me parece correto.
Em muitas outras classes também se fazem exames de admissão às
ordens. Mas houve sempre um período de carência. Se a proposta
fosse apenas de que, a partir de determinada data, os alunos que
concluírem os seus cursos de educação tivessem que prestar uma
prova para entrarem no sistema, ainda se compreenderia (isso já é
feito noutras profissões), mas não é esse o caso.
Os professores, aqueles que há vários anos o são, mas que ainda
vivem uma situação de precaridade laboral, não conseguem
compreender o porquê deste tipo de avaliação. Então, mas durante
cinco ou mais anos puderam ensinar os seus alunos, e agora vão ter
que demonstrar que estão aptos para ensinar? Significa isto que
durante anos a fio, a tutela permitiu que a dúvida sobre a
qualidade dos seus professores pairasse sobre as salas de aula e as
gerações futuras?
Acredito que nenhum dos docentes que já serviu a escola pública
e que agora esteja obrigado a fazer o exame tenha medo de o fazer.
Mas sentem, no seu interior, uma certa injustiça e um atentado à
sua própria dignidade profissional. E não, não irei falar do custo
dos exames, pois a questão não deve ser desviada para a vertente
monetária. Para falarmos de dinheiro, teríamos que passar à secção
dos cheque-ensino, da escolha que uns têm e outros não e, porque
não dizê-lo, da palhaçada que são os rankings das escolas. Todos
sabemos que uma escola não pode ser avaliada, nem classificada
publicamente, apenas com base em resultados de exames...