Cultura

Trumpices e presidentes dos EUA
trump.jpgFui mais um apanhado de surpresa pela eleição de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos. Mas não deveria ter ficado: Primeiro porque a secretária Hilary Clinton não me despertava a mínima simpatia (se votasse nos Estados Unidos o mais certo era não votar em nenhum dos dois), segundo, optando por esta via, como muitos americanos terão feito, a vitória do republicano seria previsível. Não foi. Mais uma vez as sondagens demonstraram que não sabem avaliar a abstenção. Mas também, tal como no duelo George W. Bush/Al Gore em 2000, o candidato que teve maior número de votos, não teve o maior número de Estados. Assim sendo, uma vez que "the winner takes it all", vamos ter na Casa Branca um secundário, na acepção cinematográfica do termo, elevado a protagonista da fita. E, neste caso, como no celuloide, tudo pode acontecer, tal a imprevisibilidade do homem. Armado de ideias primárias, confessa-se racista, exibe-se misógino, vai dirigir a nação como gere as suas empresas, e aí há que ter cuidado porque já levou umas quantas à falência, estatuto que lhe permitiu estar anos a fio sem pagar impostas, vai construir muros que outros hão-de pagar, vai impedir a entrada no país de membros de determinada religião, vai expulsar uns largos milhões de emigrantes ilegais (se a medida tivesse efeitos retroactivos teria que expulsar a sua atual mulher), vai-se esforçar para que os Estados Unidos sejam o maior poluente mundial aumentando exponencialmente a emissão de CO2, uma vez que renega o aquecimento global e, para além de outras pérolas que vão abrilhantar o que ele acha vai ser um mandato brilhante, porque o espelho lho disse, está a encher o seu gabinete de familiares e da fina flor do extremismo racista, xenófobo e, pasme-se, ou não, anti globalização. Ups! O Bloco e o PCP que se cuidem, porque têm aqui um aliado incómodo.
A propósito de "Lincoln", de Spielberg, com Daniel Day-Lewis no papel do presidente, lembrámos que a figura de Abraham Lincoln foi inspiração para realizadores como John Ford, "A Grande Esperança" (1939) e o seu assassinato ser leitmotiv para "O Prisioneiro da Ilha dos Tubarões" (1936), já antes a figura deste lendário presidente merecera a atenção de Griffith com "Abraham Lincoln" (1930) e de John Cromwell com "Abe Lincoln in Illinois" também de 1939. Mas o mesmo se poderia estender a outros presidentes evocados em filmes, alguns para televisão, como "Wilson", 1944, de Henry King, sobre Wooddrow Wilson, "Eleanor and Franklin", 1976, de Daniel Petrie, sobre Franklin D. Roosevelt, "Truman", 1995, de Frank Pierson, uma biografia e Harry Truman, "JFK" 1991, de Oliver Stone, sobre o assassinato de John Kennedy e "Nixon", 1995, ainda de Stone, a história de Richard Nixon, cuja presidência, como se sabe, acabou mal ("Os Homens do Presidente", de Alan J. Pakula, 1976, retrata de forma exemplar este episódio), ou "Ike: Contagem decrescente para o dia D", 2004, de Robert Harmon, focando este momento marcante do futuro presidente Dwight Eisenhower.
Ora, sobre este proto actor, Donald Trump, agora no papel principal (já teve cameos em, entre outros, "Sozinho em Casa 2: Perdido em Nova Iorque", 1992, de Chris Columbus e "Celebridades", 1998, de Woody Allen, pois é, no melhor pano cai a nódoa) em que presidente de fição o poderimos colocar? Punha logo de lado o "Air Force One", 1997, de Wolfgang Peterson, com Harrison Ford no papel do presidente, uma vez que apelando à sua experiência como ex-militar acaba por ser ele a tomar conta das operações, coisa que não se poderia pedir a Trump, pois que, tal como Bush filho, por razões obscuras, apesar de aptos, não foram parar com os costados ao Vietname como milhares de compatriotas seus, não tendo adquirido competências básicas para se desenrascarem em situações extremas. Também o aconselharia a não provocar invasões alienígenas tipo "O Dia da Independência", 1996, de Roland Emmerich, uma vez que o próprio presidente, Bill Pulman, agarra num caça para dar cabo dos invasores. Apesar de Trump ter muitos aviões, não há relato de que tenha de guerra. Mas nunca fiando. Outra hipótese, caso a sua carreira cinematográfica tivesse crescido, seria encarnar o presidente Merkin Muffley, na obra-prima de Stanley Kubrik "Dr. Strangelove or: How I Learned To Stop Worrying and Love The Bomb", de 1964, com o incomparável Peter Sellers como presidente. Apesar de ter demonstrado dotes de representação, não estaria à altura do papel, pois corríamos o risco de o doido pronto a lançar a bomba ser ele e não o enlouquecido general Jack D. Ripper. De alguma inspiração para o futuro inquilino da Casa Branca (pagamos para ver a decoração que o casal vai impor no imóvel) seria "Poder Absoluto", 1997, de Clint Eastwood, uma visita guiada aos bastidores do trabalho sujo dos gabinetes para limpar o que os presidentes que julgam que podem fugir a todas as regras fazem. Desta parte deve gostar. Da outra a Melania não estaria pelos ajustes. Assim, penso mesmo que o podemos imaginar, tendo em conta a tal conversa de balneário sobre apalpões, numa qualquer visita de Estado a fazer de Billy Bob Thorton, o presidente dos Estados Unidos em " O Amor Acontece", 2003, de Richard Curtis, a assediar um qualquer membro do pessoal. Com isto tudo, ficamos à espera do 46º.
Até à próxima e bons filmes!


Luís Dinis da Rosa
 
 
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