Entrevista

João Coroado, presidente do IPT, em entrevista
Tomar aposta em novas dinâmicas

L1040581.jpgJoão Coroado assumiu, há cerca de meio ano, o cargo de presidente do Instituto Politécnico de Tomar. Com objetivos bem definidos sobre aquilo que deve ser o futuro da instituição, o docente e investigador considera que a instituição tem margem para crescer em termos de alunos, sublinha as parcerias existentes com o tecido empresarial e aquelas que podem vir a ser realizadas. Em entrevista ao Ensino Magazine fala também das ofertas formativas, da cátedra Unesco que o IPT possui e do financiamento do Orçamento de Estado que, à semelhança do que acontece com muitas instituições, é insuficiente.
O presidente do IPT faz um balanço positivo sobre a entrada de novos alunos no Politécnico. "No ano letivo passado, registámos 1987 estudantes matriculados, neste ano já registámos 2178 matrículas, apesar de se ter verificado um crescimento face ao ano anterior estamos muito abaixo do número de estudantes para o qual estamos dimensionados", revela.
A aposta do IPT passa por aumentar o número de estudantes. "Todos queremos um território com elevado potencial competitivo, capaz de gerar intensamente procura, reter grande parte dessa procura e atrair procura adicional. No caso do ensino superior, este potencial competitivo traduz-se pelos candidatos que a região gera e que se candidatam na sua região e, adicionalmente, atrair procura externa de candidatos gerada por outros territórios", diz.
É dentro desta perspetiva que João Coroado fala numa estratégia global, que envolva as empresas e a própria comunidade. "No sentido de contribuir para o potencial competitivo da região, o Politécnico de Tomar, o Município de Tomar, a Softlnsa do grupo IBM, a Critical Software e mais alguns parceiros, iniciaram a construção de uma estratégia territorialmente integrada de competitividade e de coesão territorial denominada "Tomar: cidade tecnológica, mas humana -Tomar, Smart Human City", combinando ciência e tecnologia com cultura e com humanidade", explica. De resto muita desta dinâmica já é visível no campus do Politécnico de Tomar e na sua área envolvente.
Toda esta dinâmica é, no entender do IPT, um fator importante para a captação de alunos nacionais, mas também internacionais, onde João Coroado acredita que o Politécnico "pode crescer até aos 10% do total de alunos. O número de estudantes que se matriculou através do Concurso Especial para Estudantes Internacionais aumentou este ano, sendo agora de 65 estudantes. Um valor que representa apenas 3% do universo dos nossos alunos e que gostaríamos de ver crescer até, pelo menos, aos 10%".
Já com algumas áreas de formação diferenciadoras na instituição, o Politécnico de Tomar está apostado em apresentar novas ofertas formativas. João Coroado fala no novo ciclo de estudo de licenciatura em "Gestão da Edificação e Obra, com acreditação para os próximos seis anos, com que a Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES) nos contemplou no passado mês de julho".
O presidente do IPT revela que "este curso foi proposto em associação com a Escola Superior das Atividades Imobiliárias, permitindo que as nossas competências na área de construção civil se mantenham ativas. Abrimos assim, também, uma janela importante em Lisboa. Também em outubro, foram submetidos a registo à A3ES três novas licenciaturas nas áreas de Riscos e Proteção Civil, Computação e Logística e Turismo e Gestão do Património Cultural, com o objetivo de renovar, adequar e fortalecer a nossa oferta formativa e responder às necessidades do mercado. Propusemos ainda o curso de Mestrado em Avaliação e Gestão de Ativos Imobiliários em associação com a Escola Superior de Atividades Imobiliárias, dando possibilidade aos estudantes que cursaram licenciaturas na área da construção civil, nomeadamente a Gestão da Edificação e Obra, de poderem continuar os seus estudos nesta vertente".
João Coroado não tem dúvidas em afirmar que "o IPT é cada vez mais reconhecido no mundo, não só pela competência e autonomia dos nossos estudantes no mercado de trabalho, mas também pelos projetos de impacto social, que cada vez mais nos distinguem". A cátedra Unesco de Humanidades e Gestão do Território é outra das referências da instituição. "Está integrada no polo do Centro de Geociências. As atividades são várias e abrangem a dimensão institucional, de formação pós graduada, de investigação e extensão, com relevância para o Património Cultural, para a Sustentabilidade e Gestão Territorial, para os Direitos Humanos e a Sociedade da Informação".
Numa altura em que se fala na possibilidade dos politécnicos virem a ministrar cursos de doutoramento, a investigação no seio das instituições revela-se um fator decisivo. João Coroado quer mais investigação no IPT e tem preparado um conjunto de incentivos. "Estamos a preparar incentivos internos, diretos e indiretos para promover a investigação e desenvolvimento e aumentar a produção cientifica e técnica que, conjuntamente, com o financiamento, atribuído pela Fundação de Ciência e Tecnologia aos nossos Centros de Investigação (o Centro de Investigação em Cidades Inteligentes (Ci2); o Centro de Tecnologia, Restauro e Valorização das Artes (Techn&Art); e ao polo de Investigação: Grupo de Quaternário e Adaptações Humanas do Centro de Geociências da Universidade de Coimbra - que aqui está sediado, irão permitir disponibilizar recursos humanos e equipamentos, para desenvolver as linhas de investigação, dar apoio aos projetos que estão em execução e avançar com novos projetos". O presidente do IPT fala em "mais de um milhão de euros para os próximos quatro anos".
Ainda na área da investigação científica, João Coroado sublinha o facto de entre os projetos desenvolvidos ter sido feito um pré-registo "de patente".

Reorganização
e financiamento

A reorganização do Politécnico de Tomar também é abordada por João Coroado, sobretudo no que respeita à organização interna da instituição. "Foi reestruturado o organigrama e criados gabinetes de apoio específicos e relocalizados outros com o objetivo de melhorar a eficácia e a eficiência dos seus processos e procedimentos", começa por explicar. No seu entender esta nova organização "deve ser entendida na busca incessante de mais qualidade e maior produtividade. Em complemento estão a ser definidas as descrições de funções, e preparados os planos de formação que conduzirão a uma avaliação objetiva de todos os colaboradores. O seu trabalho altamente exigente deve ser reconhecido e respeitado, e a construção de serviços de suporte eficientes e eficazes, uma prioridade".
Entre os novos gabinetes, João Coroado fala do Balcão Único ou SPOC - Student Point of Contact (já em funcionamento) e que permite aos estudantes "tratarem de qualquer questão relacionada com a sua vida académica". Um outro espaço é o WPOC - World Point of Contact "onde os estudantes de todos os cantos do mundo podem interagir culturalmente e criar sinergias para um mundo mais sustentável". Finalmente, o presidente do IPT apresenta o "Gabinete de Apoio à Investigação e ao Desenvolvimento, que serve os centros de investigação e a prestação de serviços ao exterior e que também já está a trabalhar".
Ao nível de infraestruturas, João Coroado dá como fundamental a "construção do Complexo Pedagógico da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes que resulta da parceria com a Câmara Municipal de Abrantes e também do Centro de Inovação de Tomar que resulta da parceria com a Câmara de Tomar".
A questão do financiamento das instituições de ensino superior por parte do Estado mereceu criticas por parte de João Coroado (a entrevista foi realizada antes do anúncio do novo governo na intenção de reforçar as verbas). "Estamos no limite da capacidade para funcionar. Note-se, que há muito que deixámos de viver só do Orçamento de Estado. Este assegura apenas 80% da despesa com o pessoal e representa 70% da receita total. Com as transferências do Estado e as propinas não temos conseguido cobrir as despesas com o pessoal o que significa que sem a nossa participação em projetos de investigação e desenvolvimento, em atividades de copromoção, e em prestação de serviços especializados estaríamos perante uma situação insustentável", disse. De resto, já no seu discurso na sessão solene do arranque do novo letivo João Coroado referiu esta questão.
A concluir, o presidente do IPT fala da comunidade académica da instituição e do apoio social: "as pessoas são a maior riqueza da nossa Instituição e para o efeito procuramos disponibilizar as condições indispensáveis ao seu bem-estar. A ação social é absolutamente imprescindível e tem tido um papel muito relevante no apoio aos estudantes e, em especial, aos que têm mais carências, mas também a toda a comunidade a partir de iniciativas de carácter social, desportivo e cultural".

 
 
 
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