Jardim de Infância Harpa
O papel edificador da natureza na escola
Tendo a Escola do Jardim do Monte o privilégio de se
situar numa quinta, cuja biodiversidade oferece a possibilidade de
experiências de aprendizagem e vivências enriquecedoras do
desenvolvimento humano em contexto de floresta, de cultivo agrícola
segundo a biodinâmica, de proteção de flora e fauna espontâneas em
zona seca e zona húmida, tem vindo, ano após ano, a inserir a sua
prática pedagógica na riqueza do mundo natural que a envolve. Cada
vez mais a sala de aula situa-se no exterior onde se olha a
natureza como a grande mestra que responde com sabedoria às
necessidades do crescimento humano, no âmbito individual e
social.
A forma como o mundo vegetal e animal funciona para encontrar
respostas adequadas às suas necessidades, cultivando ao mesmo tempo
dinâmicas de cooperação e interajuda, que não só lhes permite
partilhar um desenvolvimento saudável como proteger a essência
vital que lhes permite existir, passou a ser mais conscientemente
uma fonte de estudo e aprendizagem para toda a comunidade escolar,
nomeadamente para os nossos alunos e professores.
Num momento atual da vida do homem na terra, dominada por ameaças
que decorrem exatamente da falta de um olhar respeitador sobre o
mundo natural, o projeto pedagógico da nossa escola, no âmbito da
Pedagogia Waldorf, que pretende efetivamente contribuir para uma
transformação social através do futuro desempenho dos seus alunos
como cidadãos que possam atuar com uma consciência livre em prol da
Vida e da Humanidade, definiu como intenção do seu trabalho para
este ano letivo o seguinte tema: «A função edificadora que o espaço
natural da escola desempenha na educação do ser humano, enquanto
responsável pelo futuro da humanidade.»
Abrimos o ano letivo com formação interna para todos os
colaboradores, que integrou, para além de uma abordagem holística
da vida natural circundante, exercícios de observação
fenomenológica e expressão artística de manifestações da natureza,
segundo o método goetheanístico. A vivência individual desse
trabalho prático foi depois partilhada de forma a permitir integrar
as suas conclusões na visão que a Pedagogia Waldorf tem do ser
humano e respetivas necessidades em cada fase do seu
desenvolvimento.
No sentido de aprofundar este trabalho e permitir-lhe inspirar
toda a prática pedagógica e social da escola, delinearam-se formas
de atuação no dia-a-dia da escola que fortalecessem os laços entre
a vida da natureza e a consciência humana, levando-a a um trabalho
interior de autoeducação para acordar novas capacidades e
competências que permitam harmonizar a nossa forma de estar e de
ser com vista a um futuro globalmente sustentável.
Contamos para este trabalho, não só com a capacidade de observar
com respeito e deslumbramento todos «os seres» da natureza, como
também com a exigência de, em qualquer área do saber, o professor
ter desenvolvido a capacidade de o abordar de forma artística, em
que o Belo desempenha a grande motivação da aprendizagem até à
adolescência - capacidades essas inerentes à formação pedagógica do
professor Waldorf. Mas contamos também com a inestimável ajuda de
colaboradores que desempenham tarefas diretamente ligadas à vida da
natureza (segundo os princípios da visão biodinâmica) que doravante
serão o elemento constante de ligação entre o decorrer da vida na
terra e o da vida na escola, fornecendo a esta a informação do que
acontece naquela, necessidades a responder, lições a aprender,
observações e descobertas a realizar para que uma ponte sólida se
estabeleça entre ambas. O professor, na medida do possível terá que
integrar tudo isso no seu trabalho, permitindo aos seus alunos
religarem-se não só pelo sentir, mas também pelo pensar e pelo
atuar à grande casa que habitamos.
Para além das atividades já existentes que, ao longo do ano,
seguem os seus ritmos a nível do trabalho na terra - preparar o
terreno, semear, cuidar, colher, transformar produtos vários para
uso alimentar ou terapêutico - do trabalho com animais - da tosquia
da lã até à fabricação do fio e respetiva coloração natural - vamos
começar a recolher sementes de árvores para reflorestação,
delimitar zonas de transição para observação e preservação de
plantas autóctones, elaborar diários de campo que testemunhem a
evolução de uma planta, a vida de uma árvore, as modificações num
espaço natural, ao longo da estações do ano, no sentido de
compreender a forma como cada espécie ou ecossistema coexistem e
enfrentam as condições exteriores circundantes, estabelecendo assim
um vínculo afetivo com o mundo natural. Esse diário incluirá várias
abordagens: mais descritivas, mais literárias, ilustrações
artísticas, estudos comparativos com outras formas de vida na terra
ou outras formas de adaptação a condições exteriores diferentes,
para além da relação da localização da sua existência e a
intervenção do homem ao longo do tempo. As várias áreas do
curriculum estarão contempladas nestas abordagens, permitindo uma
relação viva com os saberes mas, principalmente uma relação anímica
e edificante com a natureza.
Leonor Malik
Jardim de Infância Harpa