Gente e Livros
Tomás Eloy Martínez
«Há trinta
anos que Simón Cardoso tinha morrido quando Emilia Dupuy, sua
mulher, o encontrou à hora do almoço na sala reservada do Trudy
Tuesday. Dois desconhecidos falavam com ele num dos compartimentos
do fundo. Emilia julgou que tinha entrado no lugar errado e o seu
primeiro impulso foi retroceder, afastar-se, voltar à realidade de
onde vinha. Ficou com falta de ar, com a garganta seca, e teve de
se apoiar no balcão do bar. Procurava-o há toda uma vida e tinha
imaginado a cena inúmeras vezes, mas agora que a vivia apercebia-se
de que não estava preparada. Os olhos enchiam-se-lhe de lágrimas,
queria gritar o nome dele, correr até à mesa e
abraçá-lo.(...)».
In Purgatório
Tomás Eloy Martínez nasceu em San
Miguel de Tucumán, Argentina, a 16 de Julho de 1934. Formou-se em
Literatura espanhola e latino-americana na Universidad Nacional de
Tucumán.
Começou a trabalhar como corrector
de provas no diário La Gaceta, na sua cidade natal. Em 1962-69 era
o editor chefe da Revista Primeira Plana. Viveu exilado em Caracas,
Venezuela, de 1975 a 83, onde continuou o seu trabalho como
jornalista. Concilia, desde sempre, o trabalho de escritor com o de
jornalista. Foi ele que afirmou: «o jornalismo é, sobretudo, um
acto de serviço. Ser jornalista significa pôr-se no lugar do outro,
compreender o outro, às vezes também ser outro.».
Após o exílio ruma aos Estados
Unidos, onde colabora com várias publicações, nomeadamente o The
New York Times. Dá aulas na Universidade de Rutgerts, Nova
Jersey.
Funda o Jornal Siglo XXI, em
Guadalajara (México). Mais tarde cria o suplemento literário Primer
Plano para o Jornal Página/12, em Buenos Aires. Desempenha um papel
importante na fundação para um novo Jornalismo Iberoamericano,
criado pelo amigo Gabriel García Marquez, Prémio Nobel columbiano.
Escreve dois romances emblemáticos da literatura argentina: A
Novela de Perón (1985); e Santa Evita (1995), traduzidos em mais de
60 países. Da entrevista que fez a Perón fica a desilusão de
descobrir que o presidente argentino era sobretudo um actor.
Foi galardoado com vários prémios
literários e finalista da 1ª Edição do Man Booker Internacional em
2005. Em 2002 tinha ganho o Prémio Alfaguara da Novela, com O Voo
da Rainha. Faleceu a 31 de Janeiro de 2010, vítima de cancro.
Da sua obra constam títulos como:
As Memórias do General (1996); Ficções Verdadeiras (2000); O Voo da
Rainha (2002); O Cantor de Tango (2004); A Mão do Amo (2007); e
Purgatório (2009).
Purgatório.
Decorre o Inverno de 1976 e a Argentina vive uma
ditadura militar. Simón Cardoso e Emilia Dupuy são um casal de
cartógrafos, a começar uma vida a dois. Emilia é filha de um homem
influente do regime militar e Simón um opositor do regime. Uma
noite, durante uma rusga militar na estrada, o casal é preso pelos
militares. Simón não volta mais para casa.Após o desaparecimentodo
marido, Emilia sai do país para procurá-lo em todos os lugares, de
onde lhe chegam notícias de que ele possa estar. Trinta anos
depois, Emilia vê Simón sair de um restaurante dos arredores de New
Jersey.