Carlos Maia e o ensino superior
É preciso coragem política!
Perante o cenário que o país atravessa, são
exigíveis medidas de discriminação positiva para as instituições de
ensino superior do interior do país?
É importante sublinhar que as
instituições de ensino superior do interior país estão solidárias
com as dificuldades que o país atravessa. E já demonstraram isso.
Mas são também bons exemplos de boa gestão dos dinheiros públicos.
No nosso caso fazemos uma gestão rigorosíssima e com resultados
muito positivos. Mas os cortes cegos na educação
poderão ser gravosos e extremamente danosos para o futuro do país.
A qualificação será a maior ferramenta que o país poderá dispor no
futuro para fazer face a estes e outros desafios. Quanto mais
qualificada for a população, mais preparado estará o país.
Posto isto, e respondendo à sua questão, se o número de vagas
no interior do país, não sofrer alterações, corremos o risco dos
nossos jovens irem para o litoral. Defendo um conjunto de medidas
que devem dirigir-se não só ao ensino superior. São necessárias
medidas de coesão nacional. Nós estamos a duas horas dos grandes
centros urbanos e têm que haver medidas e investimento público para
que as pessoas se fixem na região. Por mais dinâmicos que sejam os
autarcas e as instituições de ensino superior, sem investimento
público que fixe as pessoas a estas regiões dificilmente daremos a
volta. A demografia não engana!
Para algumas medidas é preciso coragem
política...
Não é admissível que em
Lisboa, por exemplo, onde existem três universidades e um
politécnico, quando se fala em reorganização da rede as pessoas
olhem para Portalegre, Bragança, Tomar, Santarém, Guarda ou
Covilhã, por exemplo. Porque é que não olham para Lisboa?! Será
muito menos penalizador encerrar uma instituição de ensino superior
em Lisboa, Porto ou Coimbra do que em Portalegre, Castelo Branco,
Guarda, Covilhã, Bragança ou Santarém. Isto porque os estudantes do
litoral facilmente arranjarão uma solução, enquanto que no interior
haverá dificuldades das famílias em colocar os alunos a estudar
fora. Uma das grandes vantagens da criação dos institutos
politécnicos, foi a possibilidade de permitirem às populações
acederem ao ensino superior e se qualificarem. O meu receio pelos
cortes cegos é precisamente nesta questão. Se se verificarem esses
cortes cegos, muitas pessoas deixarão de poder aceder ao ensino
superior. E isso será gravíssimo para o futuro do país, pois nunca
mais alinhará com a Europa e com o mundo. Não tenho dúvidas que
perante a situação de crise que o país atravessa, qualquer medida
que venha a ser tomada a sociedade vai aceitá-la em nome da
contenção. Mas é preciso muito cuidado e muita
ponderação.
Mas
é necessária a reorganização da rede?
A reorganização da rede não
tem que ser feita exclusivamente à custa da extinção e encerramento
de instituições. Há pessoas a quem isso poderá interessar, pois há
perspectiva que se umas fecharem outras ficarão mais fortes. Isso é
de uma total mesquinhez e clara falta de visão estratégica. Nós
devemos ver o país como um todo. É necessário que haja a coragem
política de garantir o número de vagas que sustente as instituições
de ensino superior do interior e que haja uma redução de vagas no
litoral.
E o
número de candidatos ao ensino superior continua a
decrescer...
A perspectiva é de que o
número de candidatos continue a decrescer. O que é dramático no
sistema de ensino superior português é que não há a possibilidade
dos dirigentes das instituições fazerem um planeamento consistente
para o futuro. Isto porque ninguém nos consegue responder quantos
candidatos teremos em 2012, já que esse número resulta do grau de
dificuldade das provas de ingresso. Alguma coisa não está bem! Não
tem havido uma política de ensino que conjugue todos estes
factores. É inadmissível que se continuem a verificar níveis de
insucesso na matemática ou física, por exemplo, o que tem
repercussões na entrada para o ensino superior. É necessário atacar
esse problema no ensino básico e secundário.