Editorial
As Tic na primeira infância
O debate sobre o modo como as
tecnologias da informação e da comunicação (Tic) podem influenciar,
o modo de pensar, de trabalhar e de aprender, chegou às salas dos
jardins-de-infância. Por isso, conviria realçar a publicação de uma
interessante obra, dedicada aos educadores, e que pretende
motivá-los para a utilização dos meios tecnológicos nas suas
práticas educacionais, no parecer de que o contacto precoce das
crianças com as Tic constitui uma das condições fundamentais para o
sucesso na sociedade do conhecimento.
Referimo-nos à edição bilingue
(português e inglês) da obra "As Tic na Primeira Infância: Manual
para Formadores", elaborada por um conjunto de investigadores de
ambos os países, que resultou do desenvolvimento do projecto
"Kinderet - Tecnology Education in Early Childhood Context", e que,
em Portugal, foi implementado a partir da Escola Superior de
Educação de Beja, por uma equipa liderada por Vito Carioca.
O livro apresenta-se-nos numa
edição extremamente cuidada, de leitura acessível e cativante, e
convence-nos já que se a aquisição de competências ao nível
tecnológico se revela como uma das mais pertinentes peças na
educação das crianças, porque estas se preparam para viver numa era
do domínio multimédia, a boa aquisição dessas competências depende,
em parte, da preparação dos seus educadores quanto à aplicação
pedagógica das mesmas.
Segundo os autores, tal como todas
as crianças têm o direito a saber ler e escrever, todas elas têm o
direito de se tornarem competentes na utilização das Tic, sendo
que, para tal, necessitam de as ver utilizadas num contexto com
significado e com propósito real. Assim sendo, sublinham, pela voz
dos mais autorizados investigadores, a utilização da Tic pode
valorizar as oportunidades educativas para as crianças mais
pequenas. Elas podem aplicar-se para estimular brincadeiras
exploratórias, para promover a discussão, a criatividade, a
resolução de problemas, a tomada de riscos e o pensamento flexível.
No entanto, para que isto aconteça, os profissionais devem ter
formação adequada e a adaptada ao trabalho neste nível etário.
Nesta idade, e com a ajuda dos seus
educadores, as crianças em contacto com as Tic aprendem a
distinguir o que é realista e o que é impossível no mundo real, mas
possível no mundo virtual. As crianças centram a sua atenção em
diversos fenómenos e no controlo e domínio das funções dos
programas. Exploram tópicos novos, são criativas na pesquisa da
informação na Internet, colocam questões e exprimem as suas
reflexões e sentimentos. E, ao mesmo tempo, desenvolvem uma atitude
crítica e capacidade de avaliação, tanto comparando a
funcionalidade dos programas que utilizam, como o interesse e
aplicabilidade dos conteúdos a que, através deles, acedem.
Por todas estas razões este grupo
de investigadores conclui que em todos os países europeus se deve
fazer um esforço para que todas as crianças alcancem a literacia
tecnológica. Para isso é necessário que existam estratégias dos
governos no sentido a que se assista a uma renovação curricular que
apoie a implementação das Tic nos ambientes de aprendizagem
inicial. Segundo eles, todos os grupos de crianças do ensino
pré-primário devem ter acesso a computadores e a uma grande
diversidade de software, nomeadamente programas educativos,
informativos, mas também jogos e acesso à Internet.
Assim, os jardins-de-infância devem
proporcionar às crianças as experiências iniciais mais importantes
para que possam compreender e, mais tarde, utilizar a tecnologia de
forma adequada. As tecnologias permitem resolver problemas e criar
soluções para muitas questões, mas também geram novas necessidades.
Como a de ler esta obra de referência para a formação continuada
dos educadores portugueses.