Carlos Maia, presidente do IPCB
Politécnico de Castelo Branco faz pleno
O Instituto Politécnico de Castelo
Branco está assinalar os seus 32 anos de vida, tendo sido o
politécnico do interior do país com maior taxa de ocupação no
concurso nacional de acesso. Carlos Maia, o seu presidente, refere
ao Ensino Magazine, que as instituições de ensino superior são um
meio para qualificar as populações e não um fim. Sobre o IPCB fala
da importância da construção do novo Bloco Pedagógico da Escola
Superior de Artes Aplicadas e refere que para o próximo ano serão
apresentadas algumas licenciaturas novas.
O IPCB assinala os 32 anos
com uma prenda: a construção da nova Escola Superior de Artes
Aplicadas…
É uma prenda muito boa. Foi um
processo difícil. Quando tudo estava encaminhado mudou o Governo e
tivemos que voltar a explicar a pertinência da escola no interior
do país. Finalmente o processo foi desbloqueado e as obras já
começaram. Sempre acreditei que o novo bloco pedagógico da Esart
seria uma realidade. No segundo semestre de 2013/14 já iniciaremos
aí as atividades. Esse será um dia de alguma emoção para muitas
pessoas do IPCB, pois houve muita gente a lutar por isso.
O Instituto Politécnico de
Castelo Branco, apesar da crise, foi o melhor politécnico do
interior do país no que respeita a colocações do concurso nacional
de acesso ao ensino superior. Isso significa que o IPCB está a
resistir?
O IPCB está de parabéns, pois voltámos a ser o politécnico
do interior do país mais procurado. A tendência nacional é de
decréscimo no número de candidatos ao ensino superior e nós também
perdemos alguns alunos. Ainda assim conseguimos subir, em termos
percentuais, no ranking. É evidente que isto não deve servir para
que nós descansemos. Devemos isso sim continuar a trabalhar cada
vez mais em prol da nossa instituição.
Com terceira fase do
concurso nacional de acesso concluída, qual a percentagem de vagas
preenchida?
Terminada a 3ª fase
do concurso nacional, e tendo em conta os concursos especiais, as
mudanças de curso e os candidatos dos cursos de especialização
tecnológica podemos dizer que estamos perto dos 100 por
cento.
Se não houver uma solução alternativa, os alunos ao
terminarem o ensino secundário vão optar por áreas de que o país
não necessita, com menos empregabilidade, mas que lhes garantem o
acesso ao ensino superior quando terminam o secundário.
Com o atual modelo há
sempre a tentação de se mudar o nome do curso e retirar a palavra
engenharia do nome…
É importante clarificar se todas as
engenharias devem ter a matemática e a física. Há cursos que têm o
nome de engenharia, mas na prática de engenharia nada têm. Ou seja
deverá haver uma análise aprofundada sobre tudo isto, pois o receio
que existe é que as instituições para contornar a situação
proponham a alteração da designação dos cursos. E isso não é
correto. Na minha perspetiva a designação do curso deve traduzir
aquilo que o diplomado vai fazer depois de concluir o seu curso.
Esta é uma área que o país necessita muito e não faz sentido
andar-se a travestir o nome dos cursos com esse intuito. Tem, isso
sim, que haver uma relação de confiança entre a instituição e quem
a procura.
Recentemente o Conselho
Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (Ccisp) assinou
um acordo com a sua congénere brasileira para a vinda de alunos
brasileiros para os politécnicos portugueses. O IPCB também irá
receber alunos?
Este é um processo que tem algum
tempo, e que recentemente resultou na assinatura de dois memorandos
entre as duas instituições: um para o reconhecimento das
qualificações e outro que prevê a vinda de 1500 alunos (num
primeiro edital) para Portugal, num total de 4500 alunos. Os alunos
vão distribuir-se por todas as instituições politécnicas consoante
as áreas que cada uma leciona. A vinda de alunos brasileiros está
relacionada com a necessidade que o Brasil tem em diferentes áreas,
sobretudo nas engenharias, para fazer face a dois grandes eventos
que vai organizar: o campeonato do Mundo de Futebol e os Jogos
Olímpicos. Em 2013 deveremos receber 1500 alunos, sendo que o IPCB
deverá acolher cerca 50 alunos.
Este acordo poderá abrir
outras portas junto das instituições brasileiras?
Depois desse acordo, o IPCB recebeu
a visita de quatro reitores brasileiros (Institutos Federais da
Bahia, Alagoas, Sergipe e Amazonas), os quais visitaram a nossa
instituição, pelo que iremos estreitar relações com essas
instituições. Os reitores ficaram muito agradados com as escolas de
Saúde, Tecnologia, Artes e Agrária, bem como com o Centro
Tecnológico agroalimentar. Foi também realizado um almoço onde os
presidentes da Câmara, Joaquim Morão, e do Nercab, Trigueiros de
Aragão, marcaram presença, demonstrando assim que as três
instituições estão alinhadas num objetivo comum. Há fortes
perspetivas de virmos a estreitar relações com eles.
Esses alunos virão para
cursos de licenciatura ou poderão frequentar
pós-graduações?
Inicialmente o objetivo seria para
licenciaturas, mas depois da visita dos reitores aos politécnicos,
verificámos que há um grande interesse nos cursos de mestrado.
Outro interesse que surgiu relaciona-se com a possibilidade de
haver um intercâmbio de docentes entre instituições brasileiras e
portuguesas.
Este tipo de parcerias pode
estender-se aos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa
(Palop's)?
Não tem sido fácil. Fizemos uma
visita a Moçambique, onde visitámos a Universidade Eduardo
Mondlane. Mas há uma escassez de recursos por parte desses países,
sobretudo para criarem condições para que alunos venham para cá.
Temos alguns alunos dos Palop's, mas por acordos anteriores.
Passou-se mais um ano e a
tão falada reorganização de oferta formativa ficou por se fazer.
Continua a haver falta de equidade territorial e de coragem
política…
Há cada vez menos alunos a
candidatarem-se ao ensino superior e isso é preocupante, porque
cada vez há menos portugueses a qualificarem-se. O país tem metas a
atingir (40% das pessoas da faixa etária entre os 30 e 34 em 2020
deveriam ter uma formação superior, e nós temos cerca de 23%), e
parece-me que iremos falhar essa meta. Além disso, temos a
tendência de olhar apenas para a demografia e dizer que essa
demografia não consegue alimentar o ensino superior. Tendo em conta
as nossas habilitações, as pessoas que temos no nosso país deveriam
ser suficientes para alimentar o ensino superior. É importante
sublinhar que as instituições não são um fim em si mesmo, mas sim
um meio para qualificar as pessoas, para promover o desenvolvimento
regional e nacional, e para aumentar a qualidade de vida das
populações. Muitas vezes refere-se que uma instituição vai fechar
por falta de alunos. Isto é preocupante, não pela instituição, mas
pelo país.
Mas a reorganização
tarda…
De facto tarda a reorganização da
rede. Aquilo que se tem visto é uma reorganização por asfixia
financeira (o IPCB em dois anos perdeu quatro milhões de euros do
orçamento de Estado). Estamos a deixar que seja o mercado a fazer
uma auto-regulação. E esta não pode ser a política de um país da
União Europeia. Tem que haver uma intervenção que venha de cima. As
instituições dificilmente se entenderão, pois há muitas que
consideram que ficarão mais fortes se a do lado se extinguir. E
isso não irá acontecer. Era importante que o Governo nos desse
sinais. Nós temos o caso de duas instituições de Lisboa que se
estão a fundir, o que é referido como um exemplo para o país. Mas
não há estudos que nos digam que aquela é a solução adequada para
outras regiões do país.
Para além disso, há questão do ensino profissional, onde os
politécnicos podem ter um papel de coordenação. Mas há que ver de
que forma isso é benéfico para o país. É uma janela de
oportunidade, pois os Cet's poderiam ser cursos de ensino superior
de curta duração, sempre na perspetiva de fortalecer a qualificação
dos portugueses.
O concurso nacional revelou
que alguns cursos foram pouco procurados. Para o próximo ano haverá
novas ofertas nas escolas?
Nem todas as escolas vão ter novos cursos, pois as
superiores de Saúde e de Artes Aplicadas não o vão fazer. As
propostas estão a ser amadurecidas e serão submetidas à tutela
durante o mês de outubro.
As engenharias foram
bastante prejudicadas, havendo poucos candidatos, não só no IPCB
como na maioria das instituições. Com o país a necessitar de
engenheiros, como é que se pode dar a volta a esta
situação?
Era expetável que houvesse pouca procura. Houve
universidades consagradas na área das engenharias que não
conseguiram preencher a totalidade das vagas colocadas a concurso.
Gostaria de afirmar que concordo que em algumas áreas da engenharia
deva ser exigido a Matemática e a Física, em simultâneo, como
provas de ingresso. No entanto, entendo que deveria ser feito um
trabalho de fundo prévio.
Em primeiro lugar definir
claramente quais as ofertas formativas que deveriam ter a
designação de engenharia e aí as ordens profissionais deveriam ser
ouvidas e ter uma forte intervenção nesta matéria. Continuo a
defender que a designação dos cursos deve traduzir de forma
inequívoca as competências para as quais o curso visa preparar,
isto é, deve ser claro para a sociedade, nomeadamente para os
candidatos ao ensino superior, o que é que um diplomado numa
determinada área está apto a fazer. E isso foi-se perdendo ao longo
dos anos em várias áreas, pelo facto de as instituições terem
procedido à alteração da designação dos cursos com o único objetivo
de potenciar a procura.
Em segundo lugar deve apostar-se
claramente no ensino básico e secundário e adequar-se a exigência
dos conteúdos e o rigor da lecionação das disciplinas ao que depois
vai ser exigido nos exames. Deve haver uma relação clara entre o
que se passa durante o ano letivo e no final do ano letivo, nos
exames. Se assim acontecer, vamos com toda a certeza assistir a uma
melhoria significativa das notas dos exames nacionais. É
extraordinariamente preocupante que o país aceite como normal que
as médias dos exames nacionais se situem nos 7,5 ou nos 8,7
valores. Em qualquer país do mundo com um sistema de ensino
organizado esses resultados terão de constituir sempre uma
anormalidade. Há portanto um trabalho de fundo que tem de ser feito
e que obrigatoriamente tem de dar resultados. Mas essas medidas
necessitam de tempo para produzirem resultados, e considerando que
estamos a falar de uma das áreas de que o país mais necessita, uma
solução imediata que deverá ser explorada será manter o par
Matemática Física como provas de ingresso para os cursos de
engenharia, sendo posteriormente permitido que às vagas sobrantes
se possam candidatar os alunos nas anteriores condições, isto é,
com Matemática ou com Física, em alternativa, comprometendo-se as
instituições de ensino superior para onde esses alunos entrarem a
reforçarem o plano curricular com a disciplina em falta. O aluno
que entrasse apenas com Matemática teria ao longo do curso um
reforço na área da Física e vice-versa.