1ª Coluna

Primeira Coluna
A procura pelo único

João CarregaA rede de ensino superior em Portugal apresenta, no seu todo, realidades diferentes de dimensão, estrutura, coesão e capacitação. As estratégias pelo espaço e pela captação de alunos, dos melhores alunos, variam de instituição para instituição, numa altura em que é preciso qualificar mais gente, tornando o país competitivo internacionalmente, mas em que há menos pessoas disponíveis para formar.
Segundo a Pordata (Base de Dados  Portugal Contemporâneo), Portugal tinha, em 2018, cerca de 510 mil crianças, com idades entre os 10 e os 14 anos, e mais de 552 mil jovens com idades entre os 15 e os 19 anos. Entre os 5 e os 9 anos os valores descem para 466 mil crianças e até aos quatro anos para pouco mais de 430 mil. Significa isto que somos menos e seremos menos. Na faixa etária dos 15 aos 19 anos, que é aquela em que se inserem os alunos que poderão prosseguir estudos no ensino superior, houve uma diminuição de 110 mil e 500 jovens entre 2001 e 2018.
Perante estes dados, a equação entre qualificar o país, garantir coesão territorial, através da rede de ensino superior, e garantir o funcionamento dessa mesma rede, coloca-se de uma forma efetiva. Por um lado, há uma tendência clara de termos menos candidatos, no futuro, ao ensino superior. Por outro, continua a existir uma elevada percentagem de alunos que após a conclusão do ensino obrigatório, seja pela via regular seja pela profissional, não prosseguem estudos para o ensino superior. A situação é mais grave no interior do país, mas se nada for feito, os problemas depressa chegarão às zonas do país com mais população. Os números são os números. E não são bons. Mesmo que os portugueses decidam, agora, ter mais filhos, só dentro de 17 ou 18 anos é que o impacto chegará ao ensino superior.
Por isso, a aposta nos estudantes internacionais e estrangeiros tem merecido a atenção de muitas universidades e politécnicos. O mundo da lusofonia é vasto e capaz de responder, o que também obrigará a adaptações por parte das academias no modo de ensinar. Mas há outro fator que me parece importante e que pode ser âncora para as universidades e politécnicos, o qual permitirá captar outros estudantes que procurem formações únicas e exclusivas. Falo da especialização, de formações com elevada qualidade que ainda não existem, com os melhores docentes e especialistas nacionais e internacionais, em áreas específicas. Esta especialização não deve, contudo, descurar as outras ofertas, mas permitirá ser diferenciadora de cada uma das instituições. Permitirá captar os melhores alunos, à escala global, que se interessem por uma determinada área.
As instituições de ensino superior, em Portugal e no mundo, estão a formar gente para profissões que ainda não existem. É um desafio enorme e exigente. Ser-se único (ou um dos únicos) numa determinada oferta será exigente. Obriga a reflexões da academia, abertura de espírito de todos, mesmo daqueles cuja aposentação esteja ali ao virar da esquina, porque a experiência e saberes acumulados são fundamentais. Obriga também a ouvir a sociedade no seu todo e no mundo. Obriga a rapidez no pensamento e na concretização, de forma contínua, porque aquilo que hoje é inovador, amanhã está obsoleto.

 
 
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