Cultura

Bocas do Galinheiro
New York, New York

bocas.jpgFinalmente, este Verão fui a Nova Iorque. A expectativa era enorme. Há anos que desejava visitar a tão celebrada cidade que nunca dorme. Bem vistas as coisas, já a "conhecia", dos filmes de Martin Scorsese, ele que como poucos soube filmar a sua cidade, como em "Por Um Fio" (Bringing Out The Dead,1999), adaptação do romance autobiográfico de um paramédico, interpretado por Nicolas Cage, uma película entre "Taxi Driver" (1976) e "Nova Iorque Fora de Horas" (1985). Um filme alucinante, como alucinantes são as noites de N.Y., onde convivem a miséria e a exuberância, a solidão e, claro, o sofrimento. Para isso o lugar ideal para tudo observar é, segundo o autor, a ambulância de Cage, ele sim por um fio, até encontrar o seu anjo redentor, Patricia Arquete. Três "city movies" em que alguns dos seus movimentos de câmara, brutais, às vezes, longos e mansos, outras, são autênticos hinos ao cinema, sobretudo da forma como ele nos leva a ver a sua New York, New York, que deu título ao seu famoso musical de 1977, com Robert De Niro e Liza Minnelli. Mas não só. A NY de Woody Allen não é menos cativante.
Associar Nova Iorque a Woody Allen é instintivo. A grande maioria dos seus filmes são filmados na cidade, com destaque para esse fabuloso "Manhattan" (1979), serviço a la carte dos seus heróis, Marx, o Groucho, claro, Willie Mays, o jogador de baseball, Louis Armstrong, ou não fosse Woody Allen um terrível amador/praticante de Jazz, Marlon Brando, Frank Sinatra e, tinha que ser, Igmar Bergman. Mas, acima de tudo, é uma visita guiada ao roteiro cultural da cidade: do Metropolitan Museum of Art, onde se destaca o templo de Dendur, museu recriado para o célebre roubo de um Monet em "The Thomas Crowm Affair" (1999), de John McTiernan, ao Solomon R. Guggenheim Museum, ambos em Central Park, omnipresente nos filmes de Allen, como em mais não sei quantos filmados na cidade, passando pela 5ª Avenida, Park Avenue e por aí adiante. Aliás a ligação do realizador à cidade é notória em "Bullets Over Broadway" (1994), "Manhattan Murder Mystery" (1993), "Broadway Danny Rose" (1983), bem como "New York Stories" (1989), onde dirigiu o episódio "Oedipus Wrecks". Com estreia marcada para este ano, a nova fita de Allen é mais uma passagem por Manhattan em "Um Dia de Chuva em Nova Iorque" (A Rainy Day In New York,2019), com Timothée Chalamet e Elle Fanning.
Mas se estes dois me ensinaram Nova Iorque, a primeira grande vista da cidade tive-a com "Um Dia em Nova Iorque" (On The Town, 1949), de Gene Kelly e Stanley Donen. Um filme que marca de forma indelével o nascimento do musical moderno.
"Um Dia em Nova Iorque" narra a história de três marinheiros da U.S. Navy, Gene Kelly (Gabey), Frank Sinatra (Chip) e Jules Munshin (Ozzie) que têm 24 horas de folga. Assim, partem à descoberta da grande cidade e passam as paredes do estúdio para penetrarem no cenário real da cidade, uma das inovações deste filme foi exactamente ter como cenário a rua, até aí os musicais eram todos de estúdio, cantando alegremente o excelente tema "New York, New York" a wonderful town, uma euforia, como prelúdio para uma excitante festa. Das docas de Nova Iorque, à Rockefeller Plaza, ao  terraço do Empire State Building, e rematado em plena rua com os seis protagonistas, os marinheiros e respectivas "conquistas", caminhando e saboreando o final de uma noite (e o começo de um novo dia) inesquecível.
O icónico Empire State Building, ficou célebre alguns anos antes, em 1933, quando em "King Kong", de Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack, o gigante gorila roubado à selva tem um épico duelo com uma esquadrilha de Curtiss F8C-5/O2C-1 Helldiver.
Podia continuar lembrando filmes como "As Docas de Nova Iorque", de Josef von Sternberg, ou o mais recente "John Wick 3 -Parabellum" (2019), de Chad Stahelski, localizado entre outros, na  New York Public Library  e no  Grand Central Terminal, "Nova Iorque 1997", de John Carpenter, com Manhattan transformada numa prisão de alta segurança, e por aí adiante.
Falar só destes, soube-me a pouco, tal como os dias que ali passei. Para já, porque falta pouco, fico à espera do novo Woody Allen.
Até à próxima e bons filmes!

Luís Dinis da Rosa
Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico
 
 
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