Editorial

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Ano novo, vida nova?

João RuivoCom o início de mais um ano escolar, no ensino superior recomeçam as rotinas académicas, os desafios da aprendizagem, os roteiros da camaradagem, a construção de percursos de vida.
Porém, as escolas e as comunidades em que estas estão inseridas são instituições complexas que comportam grandes sonhos, mas também muitas e profundas desilusões.
Ao rigor e exigência que se pretende imprimir nos ciclos de formação e ao estimulante ambiente académico que ajuda a desenvolver, juntam-se, algumas vezes, infelizes práticas de praxes, que os currículos ocultos motivam, e que se materializam através do apelo a irresponsáveis rituais de iniciação que, por sua vez, tendem a transformar-se em tradições mais ou menos institucionalizadas.
Sejamos directos: nestas matérias não vale a pena utilizar o agastado e hipócrita argumento de crítica ao papel e desempenho social das novas gerações, sobretudo quando as tentam comparar com as gerações que as precederam. Por maioria de razões, mais vale contestar o produto, ou o resultado educativo da nossa acção que condenou ao desencanto tantos jovens que só queriam ter o mesmo direito à partilha de um pedaço da felicidade que nos coube.
O mal não são os outros, somos nós. Partilhámos o sonho e a utopia, desejámos construir um homem novo, uma sociedade mais justa e igualitária, até fizemos (dizem) uma revolução. E, pelo caminho, fomos semeando, entre as nossas contradições e desilusões, a semente da anomia, da não participação na construção do caminho comum, do desinteresse social por uma comunidade que, afinal, não revelou interesse e, por vezes, nem lhes interessa.
Conhecemos o perigo das generalizações precipitadas. Mas vale a pena o esforço de reflexão e de diálogo que nos interrogue sobre o nosso papel de educadores e sobre a relação e o conhecimento que temos das gerações que estamos a formar. Sobre os valores que lhes transmitimos, mesmo quando sabemos que sobretudo as famílias também lhes negam a transmissão desses valores. Sobre as condutas que observamos, com olhar distanciado. Sobre a barreira de afectividade que a ciência e o ensino dessa ciência construíram entre uns e os outros.
Se reconhecermos que, no ensino superior, professores e alunos se encontram, enquanto adultos, numa parceria de mútuas aprendizagens, então temos também que admitir que talvez seja dentro das paredes dessas instituições que se devem centrar os nossos esforços e as nossas vontades de construirmos o tal homem novo, não na modelagem do que somos, ou do que desejaríamos ter sido, mas antes à imagem e semelhança daqueles que estão em condições de o poder ser.
É um esforço de renovação, mas também um imperativo da razão que nos recoloca o problema da formação pessoal e da formação em aptidões pedagógicas dos docentes do ensino superior, formações que devem conduzir ao encorajamento de uma busca constante de inovação, quer nos curricula, quer nos métodos de ensino, quer no conhecimento e reforço dos processos de aprendizagem.
Numa sociedade que tende a universalizar-se, num mercado assumidamente global, seria estranho se as nossas escolas ficassem prisioneiras de ritos e ritmos que mais lembram os tempos do obscurantismo, do que as novas eras de mentes abertas que procuram permanentemente a inovação.

João Ruivo
Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico
ruivo@rvj.pt
 
 
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