Politécnico

Politécnico de Coimbra
Inovar e especializar com os olhos no futuro

jorge_conde.jpgO Instituto Politécnico de Coimbra (IPC) está empenhado em apostar na diferenciação. Jorge Conde, o seu presidente, em entrevista ao Ensino Magazine, realizada dias antes de serem conhecidos os resultados da 3ª fase do Concurso Nacional de Acesso ao ensino superior, aponta o caminho que a instituição deve seguir. A marca Coimbra, enquanto cidade académica, é um trunfo que politécnico e universidade devem saber potenciar.
O presidente do IPC fala também da investigação, da relação que está a ser criada com a Universidade nesta área e da força que o Politécnico de Coimbra tem na área da mobilidade.

Qual é o balanço que faz da entrada de novos alunos no Instituto Politécnico de Coimbra?
É um balanço positivo. Nas duas primeiras fases preenchemos 90 por cento das nossas vagas. Ficaram 200 vagas para a terceira fase e para os outros concursos, pelo que o balanço é bastante positivo. Nós preenchemos quatro das nossas escolas quase exclusivamente pelo Concurso Nacional de Acesso. As duas escolas que não têm essa predominância são a Escola Superior Agrária - pois o ensino agrário está muito ligado ao concurso local e através dos CTESP, e a Escola de Oliveira do Hospital, que padece do mal do interior do país. Mas os resultados foram muito positivos. A nossa história demonstra que o Politécnico de Coimbra preenche mais de 100% das vagas, depois do Concurso Nacional de Acesso, dos Concursos Locais, Concursos Especiais, dos alunos internacionais e dos CTESPs. O que gostaríamos era de ter os 100 por cento pelo Concurso Nacional de Acesso e ter mais 20% pelas outras vias. Mas isso hoje não é fácil, e nós temos a particularidade de estarmos encostados a uma das mais prestigiadas universidades do país. Nós temos 11 mil alunos, oito mil dos quais estão deslocados.

Focou o facto de estar no mesmo território que a Universidade de Coimbra, como é que o Politécnico gere essa relação? Isso pode ser vantajoso pelo facto de Coimbra ter uma identidade académica muito forte?
Sim, a marca é muito importante e Coimbra é uma marca forte. Mas já foi mais, porque hoje não é a principal marca académica em Portugal. Isso está relacionado com a densidade populacional. A nossa cidade tem 150 mil habitantes e compete com duas grandes metrópoles - uma com 10 vezes mais habitantes e outra com 20 vezes mais pessoas, o que não é fácil. Contudo, e respondendo à sua pergunta, a marca Coimbra, criada pela Universidade, é-nos vantajosa e devemos perceber isso. Quanto mais forte for a Universidade, mais nome dará à cidade e ao Politécnico de Coimbra, como interessará à Universidade que o Politécnico seja forte para não estragar essa marca. Temos procurado ter um bom relacionamento com a universidade, no sentido de nos podermos ajudar mutuamente. Para além de haver 100 investigadores do Politécnico em centros de investigação da Universidade de Coimbra, existem já alguns centros partilhados.


Isso pode abrir caminho a ciclos de estudo em comum?
Acredito que sim. A relação com a Universidade é suficientemente boa para conseguirmos conviver com as dificuldades e oportunidades que se nos colocam. Estamos a falar sobretudo de mestrados e doutoramentos. Há condicionantes e esperamos que a nova legislação venha resolver algumas questões, como os mestrados integrados - que é suposto terminarem -, e a atribuição de doutoramentos pelos politécnicos. Estamos a posicionarmos para não sermos um polo concorrente. Há grupos científicos a trabalhar - pois estas questões não dependem do bom relacionamento entre o presidente do Politécnico com o reitor -, para que possam desenvolver-se mestrados titulados pelas duas instituições. Já em relação aos doutoramentos, trata-se de uma questão que ainda não foi conversada, mas começámos a trabalhar naquilo que é importante, nomeadamente os centros de investigação. Um dos centros da Universidade já tem um polo no Politécnico, e estamos a trabalhar num outro para que seja apresentado na Fundação para a Ciência e a Tecnologia pelas duas instituições.

Há alguma área no Politécnico de Coimbra que já tenha robustez científica para avançar para essas formações avançadas?
Se amanhã pudéssemos enviar para a Agência de Avaliação e Acreditação um doutoramento, ele seria na área da agricultura ou floresta. A nossa Escola Agrária é a maior do país, uma das mais antigas e tem a capacidade instalada, um número de doutorados perto dos 100 por cento, e uma grande dinâmica na investigação científica para iniciar um doutoramento amanhã, se essa questão se colocasse. Mas há outras áreas, como as ciências económicas, onde a Escola se está a preparar para ter capacidade para atribuir doutoramentos, ou a saúde e as engenharias. E depois na Escola de Educação, onde temos várias áreas científicas como a educação, a comunicação, o turismo, as artes ou a gerontologia, há a probabilidade tremenda de fazermos uma coisa inédita. A título de exemplo, nesta escola lançámos a primeira licenciatura em Gastronomia, que tem tido um sucesso muito grande em Portugal e no Brasil. Fomos mesmo desafiados pela Secretária de Estado do Turismo e pelo diretor do Turismo de Portugal, a duplicar a capacidade de captar alunos. Se tivéssemos laboratórios e cozinha disponíveis teríamos capacidade para fazer essa duplicação.

Depreendo das suas palavras que a área do turismo e da gastronomia pode ser um aspeto para a diferenciação do Politécnico de Coimbra?
Nós crescemos em muitas áreas, mas com exceção de nichos de mercado como a gastronomia, não temos uma fator que leve as pessoas a olhar para um determinado assunto e a identificá-lo com o Politécnico de Coimbra. A maioria dos outros assuntos é transversal a todas as instituições de ensino superior. Acredito que no futuro as instituições de ensino superior não se irão separar por politécnicos ou universidades, mas sim por aspetos muito específicos. E quando queremos estudar um determinado assunto vamos escolher aquele politécnico ou aquela universidade porque são referência nessa área. Temos que caminhar para aí.

Isso obriga a versatilidade por parte dos recursos humanos…
Obriga fundamentalmente a uma abertura de espírito muito grande e que as pessoas percebam que temos que fazer coisas diferentes. Estamos no ponto zero desse trabalho, que passa por olhar para as 60 licenciaturas e tentar perceber se estamos a fazer os cursos certos. O importante é percebermos que os alunos que entraram este ano para o 1º ciclo do ensino básico não vão fazer nenhum dos cursos que temos hoje. Daqui a 10 ou 11 anos, quando chegarem ao ensino superior terão, certamente, muitos cursos disponíveis que ainda hoje existem, como medicina, direito ou arquitetura, mas muitos dos cursos profissionalizantes não vão existir. O problema é que desde que nós percebemos uma necessidade até que o curso venha a ser implementado há um tempo significativo e verificamos que quando saírem os primeiros diplomados está na altura de repensarmos essa oferta formativa. Isto porque demoramos dois anos a preparar e acreditar um curso e mais três anos a formar os primeiros alunos. E estamos a falar de ciclos curtos. As instituições que não tiverem a capacidade de se atualizar e modernizar a ritmos de cinco anos vão morrer. Nós estamos a fazer esse trabalho, para perceber o que deixará de fazer sentido daqui a cinco anos e o que fará sentido criar daqui a cinco anos. Para isso, teremos que mudar e fazer coisas diferentes em muitas áreas.

Referiu que a maioria dos alunos do Politécnico de Coimbra vem de outros pontos do país. A nível de alojamento a cidade consegue dar resposta às necessidades?
Consegue, pois tem uma indústria ligada ao setor do alojamento forte e que já vem de há muitos anos. Agora, no que respeita à oferta que as próprias instituições têm disponível, no caso do nosso Politécnico, ela não é suficiente. Temos um número reduzido de camas distribuídas por seis blocos residenciais e vamos aumentar em cerca de 20 camas esse número. Além disso, estamos à espera da aprovação para a recuperação de um edifício para criarmos mais 140 camas. Mas Coimbra consegue dar uma resposta muito positiva. Em Oliveira do Hospital sentimos o problema do alojamento, pois a cidade tem dificuldade em dar resposta às necessidades que decorrem da dimensão que a escola atingiu.

Mudando de assunto. Ao nível da internacionalização, que projeto tem desenvolvido o Politécnico de Coimbra?
Estamos envolvidos num conjunto de projetos ligados ao Erasmus Mundus. Neste momento temos dois ciclos de licenciatura europeus e estamos a tentar acompanhar todas as oportunidades que vão surgindo na rede Erasmus e similares. Aquilo que nos continua a faltar é ter mais parceiros transfronteiriços e europeus que nos permitam ir buscar mais financiamentos.
Numa outra perspetiva, temos uma mobilidade altíssima no âmbito do Programa Erasmus. No Erasmus Centro as nossas mobilidades representam cerca de 35 a 40 por cento do consórcio.
Porém, precisamos de acrescentar algo mais na investigação e na mobilidade para fora de Europa. Temos percorrido algum caminho, fazemos parte de algumas redes ibero-americanas, sendo que na rede que integra todas as universidades ibero-americanas da área da saúde somos responsáveis pela realização do próximo Congresso, em 2021. Será a primeira vez que estas universidades se vão reunir em Portugal.
No que respeita aos alunos internacionais fizemos uma aposta diferente da maioria das instituições. Não somos competitivos do ponto de vista do preço. Começámos por cobrar quatro mil euros de propinas para esses estudantes. Atualmente as propinas variam entre os 1500 e os três mil euros. Por isso, não temos muitos alunos internacionais. Temos 800 alunos estrangeiros e com o estatuto internacional teremos cerca de 400 alunos.

 
 
 
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