primeira coluna
A justiça, o medo e a coragem
JUSTIÇA. Os alunos do ensino recorrente
que queiram candidatar-se ao ensino superior terão que realizar
exames nacionais. A medida aprovada pelo Ministério da Educação vem
colocar justiça e igualdade no acesso às universidades e
politécnicos públicos. É que desde 2006 os estudantes do ensino
recorrente não necessitavam de fazer exames nacionais para
concorrer ao ensino superior, ficando em vantagem face aos alunos
do ensino regular.
O objectivo do Ministério foi o de criar igualdade de
oportunidades já neste ano lectivo. Mas o facto de muitos alunos do
ensino recorrente terem interposto recursos em tribunal (e nalguns
casos os meios judiciais deram-lhes razão) fez com que a tutela
permitisse às instituições de ensino superior abrirem vagas
adicionais destinadas aos alunos do ensino regular que vierem a ser
prejudicados.
A moralização do acesso ao ensino
superior deve ser aplaudida em todos os aspectos. Numa outra
perspectiva também a distribuição das vagas e dos cursos pelas
instituições também deveria merecer a mesma coragem política. Só
assim o país terá equidade territorial.
MEDO.O medo e a incerteza
instalou-se na escola pública, aquela onde milhões de portugueses
confiam os seus filhos. A classe docente entra no novo ano lectivo
com vontade de fazer mais e melhor, mas num clima de grande
desalento e desconfiança. É que segundo o ministro da educação, o
futuro vai encarregar-se de reduzir ainda mais o número de
professores. Noutro tempo, não muito longínquo, caía o carmo e a
trindade.
CORAGEM. É aquilo que se pede ao
país. Um país sem dinheiro, onde a agonia de quem está no
desemprego, se cruza com quem ainda com trabalho vê os seus
rendimentos serem cortados. As famílias portuguesas, com filhos em
idade escolar, arrancam o mês de Setembro a fazer contas de
«sumir». Em muitos casos 700 euros não são suficientes para a
compra dos livros e do material escolar - na educação não há
«genéricos». O crédito já teve melhores dias, o fiado só pode ser
dado amanhã e a solidariedade é uma palavra que muitas vezes é
confundida com caridade. Haja, pois coragem, que a situação assim o
obriga.