Restrições orçamentais no ensino superior
Ministério diz que sim, CCISP diz que não
O Ministério da Educação e
Ciência deu, no passado dia 3 de setembro, como "ultrapassado, de
momento" o problema dos constrangimentos orçamentais no ensino
superior, mas os institutos politécnicos contrariaram a posição do
Governo, defendendo que estas questões "nunca estão
ultrapassadas".
No final de uma reunião que decorreu
na Escola Superior Náutica Infante D. Henrique, em Paço de Arcos,
Lisboa, e que serviu para discutir a reestruturação do ensino
superior e da oferta formativa, o secretário de Estado do Ensino
Superior, José Ferreira Gomes, deu como ultrapassadas as questões
relacionadas com os constrangimentos orçamentais impostos às
instituições do ensino superior.
"Creio que está ultrapassado, de
momento", declarou José Ferreira Gomes que, quando questionado
sobre a possibilidade de novos cortes no financiamento público,
ironizou dizendo que os cortes devem ser deixados para a indústria
têxtil.
O presidente do Conselho Coordenador
dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), Joaquim Mourato, no
entanto, discordou desta posição, referindo-se à instabilidade que
marca o dia-a-dia das instituições.
"Estas questões nunca estão
ultrapassadas. Sabemos que nunca estão. Sabemos que agora estão
assim, que amanhã surge mais alguma questão difícil, que o Tribunal
Constitucional rejeita mais uma medida, que daqui a um mês ou dois
temos mais uma cativação. Esta é a nossa vida, mas temos de saber
lidar com ela", disse.
O CCISP alertou, no final de agosto,
para o perigo de haver despedimentos, tendo em conta as propostas
governamentais que poderão representar um corte de mais de 20
milhões de euros.
A aplicação das medidas que estão a
ser preparadas para o próximo Orçamento do Estado (OE) "poderá
significar, para os politécnicos, um corte total de mais de seis
por cento, ou seja, mais de 20 milhões de euros", segundo contas
realizadas pelo CCISP.
Joaquim Mourato recusou falar em
despedimentos, mas admitiu que as soluções de adaptação às reduções
orçamentais passam por reduzir custos com pessoal, com muitos
contratos a termo a não serem renovados e com mais horas de
trabalho dos docentes que permanecem em funções.
As questões orçamentais levantaram
divergências entre instituições e tutela, com os reitores a
anunciarem, no final de agosto, a renúncia à apresentação dos
orçamentos para o próximo ano, em protesto contra uma norma da
proposta de Orçamento do Estado para 2014 que alegadamente impede
receitas superiores às conseguidas em 2012.
José Ferreira Gomes veio depois
esclarecer que as instituições podem continuar a captar e a
utilizar as receitas próprias como têm feito, o que levou o
Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) a
recomendar às universidades que elaborem os orçamentos de acordo
com as disposições da tutela, mas a insistir na necessidade de
libertar verbas cativadas em 2013 e na reposição do
14.º mês.