Quatro rodas
O Nó da Portela
Visitei pela primeira vez a Madeira no
Verão de 1977. Foi uma prenda dos meus pais que decidiram efetuar
esse "investimento" por que me havia portado bem na escola, e tinha
passado a importante etapa do antigo quinto ano do liceu com algum
à-vontade. Foi também a minha primeira viagem de avião.
Voltei à ilha em finais dos anos
noventa, por motivos profissionais e retornei agora, finalmente
pelos motivos que mais gosto, os automóveis.
Estou pois a escrever esta cronica
na varanda do hotel com vista para o Cabo Girão, depois de uns dias
de trabalho com a simpático presidente do clube madeirense, que tem
por missão valorizar o rico património automobilístico que existe
na ilha.
A Madeira tem sido, nas últimas
décadas, um dos locais de Portugal com maior frenesim no que
respeita ao automobilismo. A região conseguiu registar na história
do automobilismo nacional, magníficos eventos, que atingiram uma
notoriedade impar, seja no capítulo do automobilismo de velocidade,
seja nas organizações para clássicos, onde a Volta à Madeira foi
sem dúvida a prova que mais notoriedade conseguiu em Portugal,
sendo-lhe reconhecido mesmo algum "glamour".
Mas voltemos à Madeira dos anos
setenta. Desse tempo, retive na memória, o traçado das estradas, e
a condução afoita dos condutores dos autocarros que nos levavam em
excursão, que curva após curva, desafiavam as escarpas que nos
ladeavam.
Nos anos noventa, apenas tive a
oportunidade de conhecer as novas estradas que esventraram as
montanhas e reduziram imenso o tamanho da ilha. Para os locais, foi
sem dúvida um grande avanço na sua qualidade vida, mas não deixou
de haver alguma descaracterização da ilha. Dessa vez conheci a
próspera e moderna Madeira, mas para mim foi a visita menos
interessante.
Voltei agora, mas desta vez, tive o
privilégio de ser guiado por profundos conhecedores do interior da
ilha, que me fizeram recuar no tempo e me levaram pelas estradas
que conheci na minha primeira visita.
Durante o nosso percurso, investi
algum tempo num local onde estive nos anos setenta, e do qual me
recordei muitas vezes. É mais conhecido pelo seu miradouro, e mesmo
pelo restaurante que está mesmo ali, onde se servem as famosas
espetadas. Estou a falar do nó da Portela. Pequena povoação que tem
um encontro de estradas que, desde há anos, fui identificando nas
imagens que me chegavam das classificativas do Rally Vinho da
Madeira. Recorda-me muito o "knuten" em Geiranger, Noruega, do qual
já aqui falei. São estes locais que criam misticismo e dão valor
aos eventos e às regiões.
Eu gostei muito de voltar à
Portela, algumas décadas depois. Não tem bem o mesmo aspeto, mas é
um local que não foi trucidado pelo cimento e pelo asfalto.
Em jeito de conclusão, deixo um
apelo para a que, pelo nosso país, se comecem a preservar locais e
estradas com reconhecido interesse histórico e com potencial de
atração turística. Eu sempre que vier à Madeira tentarei voltar à
Portela.