Politécnicos querem mais e melhor ação social
O
Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP)
acaba de apresentar os seus contributos para a próxima legislatura,
onde defende um ensino superior para todos.
A questão da atribuição dos títulos de doutoramento pelos
institutos politécnicos, a mudança de nome para universidade, o
financiamento e a internacionalização são alguns dos temas
abordados no documento apresentado como contributos para a próxima
legislatura, a que tivemos acesso.
O organismo, presidido por Pedro Dominguinhos, apresenta
um conjunto de propostas que no seu entender vão melhorar o ensino
superior no nosso país, tornando-o num espaço para
todos.
O documento do Conselho Coordenador dos Institutos
Superiores Politécnicos com as propostas para a próxima legislatura
aborda questões sensíveis, como a ação social e o financiamento das
instituições de ensino superior. Nesse sentido propõe uma alteração
de paradigma para que a ação social responda melhor às necessidades
dos diferentes públicos que frequentam as instituições. Defendem
ainda a alteração do regulamento de bolsas de ação social, com o
"intuito de alargar a sua atribuição efetiva aos estudantes que
revelem dificuldades e carências económicas".
A inclusão de medidas de apoio social direto e indireto
focalizadas em novos públicos, entre os quais os estudantes
portadores de graus formais e informais de incapacidade e/ou com
necessidades educativas especiais, é outra das
propostas.
O tecido empresarial também é chamado a jogo e o CCISP
propõe "a atribuição do estatuto de benefício fiscal aos donativos
atribuídos por empresas aos Serviços de Ação Social das IES,
contribuindo para o desenvolvimento de programas de apoio, no
âmbito da ação social indireta, geridos pelas IES". Além disso é
sugerida a "inclusão dos Serviços de Ação Social das Instituições
de Ensino Superior na listagem de entidades que, à semelhança das
Instituições Particulares de Solidariedade Social, possam
beneficiar do valor do incentivo de 0,5%, previsto no n.º 2 do
artigo 152 do Código IRS".
Em matéria de financiamento do Estado, é reforçada a ideia
de que ele tem que crescer, "convergindo, no decorrer da
legislatura, para a média da OCDE, considerando a percentagem de
despesa pública relativamente ao PIB, garantindo ao mesmo tempo um
quadro de previsibilidade ao longo da legislatura".
Esta é uma questão que obriga a "definir e aplicar
critérios de financiamento às IES que, assumindo um crescimento das
dotações, possa considerar uma percentagem para funcionamento da
atividade corrente e uma outra, necessariamente menor, relacionado
com critérios de desempenho e/ou contratos
estratégicos".
A criação de um programa de construção e manutenção de
infraestruturas e de projetos específicos que financiem as IES
localizadas em territórios de baixa densidade e insulares, pelo seu
contributo para o desenvolvimento e coesão regional, é outra das
propostas.
No documento é focada a necessidade de se reforçar a
capacidade e competitividade das unidades de investigação dos
politécnicos, e de se reforçarem linhas de financiamento próprias
para apoiar projetos de empreendedorismo e de transferência de
tecnologia, entre outras propostas.
As propostas do CCISP apontam ainda na "promoção
articulada do país como destino de qualidade no Ensino Superior e
Ciência, junto países estrangeiros prioritários e a criação de uma
campanha internacional", sugerindo "o "reforço da criação de cursos
em língua inglesa, de forma a atrair estudantes provenientes de
países não tradicionais".
Doutoramentos e investigação
No documento, o CCISP defende a "criação de doutoramentos
de interface no sistema politécnico, em estreita articulação com as
empresas e demais organizações, com igualdade de oportunidades e de
critérios entre os dois subsistemas do ensino superior".
Para isso diz ser necessário rever a "Lei de Bases do
Sistema Educativo e do Regime Jurídico das Instituições de Ensino
Superior". De igual modo, os politécnicos querem uma "definição
clara dos mecanismos e critérios de avaliação, quer de investigação
e de transferência de tecnologia, quer do 3º ciclo de estudos
oferecidos pelo sistema politécnico que devem privilegiar áreas de
referência onde o sistema politécnico desenvolve as suas atividades
de investigação".
Sobre a questão dos doutoramentos, António Fernandes,
presidente do IPCB, referiu aquando da aprovação em Conselho de
Ministros do decreto-lei que altera o regime jurídico dos graus e
diplomas do ensino superior, que essa decisão "é um bom sinal para
as instituições de ensino politécnicas e também para a nossa. Mas é
exigente em termos de capacidade de investigação das instituições
de ensino".
O documento foca também a alteração da designação de
Institutos Politécnicos para Universidades Politécnicas.
"Universidades porque é a denominação global comumente aceite e que
promove a afirmação internacional do sistema Politécnico, ao mesmo
tempo que mitiga um estigma social existente na sociedade
portuguesa. Politécnica, porque clarifica a diferenciação que o
sistema binário exige e assegura a continuidade de um sistema que
evoluiu e se consolidou nos últimos 40 anos", refere o
CCISP.
A captação de mais alunos para o ensino superior é outra
das propostas. Por isso é defendida a "realização de campanhas
nacionais, dirigidas às famílias e aos alunos de forma a
incrementar o número de candidatos ao ensino superior, em especial
os provenientes do ensino secundário profissional".
É neste contexto que devem ser reforçadas as "iniciativas
e projetos que promovam uma maior interação entre o ensino superior
e o ensino secundário, aumentando a permeabilidade entre os dois
sistemas, valorizando-os".
Mas neste processo deve ser feita a "adequação dos
percursos do ensino secundário no acesso ao ensino superior, de
forma a contribuir para que mais estudantes do ensino secundário
profissional e artístico prossigam estudos para o ensino
superior".
Outro dos caminhos apontados é a "adequação do regime de
acesso aos cursos em horário pós-laboral ao tipo de público alvo,
alterando a tipologia do regime de ingresso, para concursos locais
de acesso".
Para os Cursos Técnicos Superiores Profissionais (CTESP's)
é proposta uma "alteração no regime de financiamento que promova a
formação ao longo da vida, mas que não penalize os estudantes com
idade superior a 29 anos e os detentores de um curso superior,
contribuindo para trazer mais formandos para o sistema".
O CCISP fala ainda da necessidade de se criar "um regime
de benefício fiscal para as propinas pagas pelas empresas aos seus
trabalhadores no seu processo de formação ao longo da
vida".
A questão do acesso ao ensino superior é vista pelo
Conselho Coordenador como importante e defende "uma política de
vagas equilibrada com o número de candidatos ao Ensino Superior
estável entre os subsistemas, observando princípios da
racionalização da oferta formativa, nomeadamente, ao nível da
oferta de cursos de 1.º ciclo, em todo o ensino superior, numa
lógica de distribuição territorial, potenciando a capilaridade e a
qualidade da rede de ensino superior".
Já no que respeita ao programa de bolsas Mais Superior, é
reclamada "mais autonomia às instituições e ensino superior (IES)
na definição dos cursos prioritários, reforçando a atratividade das
IES localizadas em territórios de baixa densidade".
De resto, o Conselho Coordenador entende que deve ser
facilitada "a gestão integrada das vagas, numa lógica regional,
entre as várias IES, de forma a responder às necessidades
territoriais e à especialização de cada um dos parceiros". Numa
outra perspetiva é defendida a aprovação "do regime jurídico do
ensino a distância, com financiamento adequado das iniciativas que
revelarem qualidade e adequação aos objetivos estratégicos dos
diferentes públicos e territórios".