Primeira Coluna
Dar música sem música
Seria bom sinal
que quando estiver a ler esta crónica a grande maioria dos alunos
que fizeram exames e foram aprovados para o ensino articulado da
música pudessem usufruir desse mesmo ensino. À hora em que escrevo
estas linhas, ainda não havia qualquer fumo branco sobre o aumento
do financiamento por parte do Ministério da Educação, estando
previstas várias formas de manifestação pelos conservatórios
privados de todo o país, os quais garantem a resposta pública.
Caso não seja revisto esse apoio,
milhares de crianças e jovens podem ficar impedidos de aprender
música, pois o financiamento proposto este ano é mais baixo que o
do ano anterior, o que significa uma redução no número de vagas
disponíveis. Mas significa também que muitas escolas vão deixar de
ter alunos suficientes para manterem a sua estrutura em
funcionamento e que as famílias que queiram colocar os seus filhos
a aprender música e um instrumento, nunca pagarão menos que 100
euros mensais, valor que só estará ao alcance dos mais
abastados.
Por outro lado, e como as escolas
já tinham feito os seus horários e as turmas, colocando os alunos
inscritos para o ensino articulado em turmas compostas
exclusivamente com esses estudantes (os quais por terem aulas no
conservatório deixam de ter algumas disciplinas - educação musical,
e educação visual e tecnológica - na escola em que estão
inscritos), esta redução obriga os agrupamentos a fazerem uma nova
reorganização de horários, turmas e distribuição de serviço do
pessoal docente.
Mas a questão mais grave é o
impedimento que esta medida provoca a milhares de alunos de
aprenderem música e um instrumento nos conservatórios. Poderão
dizer-me, mas isso são escolas privadas. Pois são, mas estão a
fazer o trabalho que deveria ser feito por conservatórios públicos,
os quais não existem na maioria das cidades portuguesas. Ou seja,
está colocar-se em causa o igual acesso ao ensino articulado da
música.
Acredito, no entanto, no bom senso
que ainda possa existir no Ministério da Educação, e que esta
questão venha a ser corrigida. E já agora, que no próximo ano
letivo a questão das vagas não seja só decidida à porta de um ano
escolar. Essas contas devem ser feitas no final dos anos letivos,
para que o ano seguinte se prepare com tranquilidade e, se
possível, ao som de uma música calma, e sem o ruído que se verifica
este ano.