Entrevista

Mafalda Veiga
«Qualquer coisa pode despertar a vontade de escrever»

mafalda1.jpgTece canções ternas e delicadas como poucos. «Planície», «Tatuagem» ou «Cada Lugar Teu» têm um lugar especial no coração dos portugueses. Em entrevista ao Ensino Magazine, Mafalda Veiga explica como casa a música com a palavra.

Como é o espetáculo que tem na estrada em 2015?

É um espetáculo de que gosto muito. Estou a tocar com uma banda que tem uma sonoridade diferente daquela com que costumo tocar. Tem sopros e contrabaixo, por exemplo.

O alinhamento é uma espécie de "best of" da sua carreira?

Sim, mas estou a tocar pouco este ano porque quero acabar o disco. Termina agora o verão e quero gravá-lo no outono. Tenho esse objetivo.

O sucessor de «Zoom» terá alguma surpresa?

É provável. Vai ser diferente do disco anterior, mas ainda não sei o quanto. Já há uma série de ideias para as canções, mas só em estúdio se poderá definir melhor o caminho a tomar. No entanto, respeito muito as canções, sua génese e essência.

Está, portanto, na fase da composição. Como é que a Mafalda costuma trabalhar?

É sempre diferente. A música faz parte do meu dia-a-dia. Estou com ela o dia inteiro, mesmo que não esteja a trabalhar numa canção. Tudo o que me acontece é possível transformar numa canção. Por vezes, escrevo num qualquer lugar uma frase que origina uma melodia, noutras preciso de um espaço para me isolar. Desta vez precisei de encontrar esse espaço. Tenho composto várias canções, e guardado aquelas de que mais gosto.

De coisas banais surgem ideias interessantes.

Qualquer coisa pode despertar a vontade de escrever, tocar memórias ou sentimentos. Filmes, conversas, lugares podem entrar em sintonia com qualquer coisa em nós. E o compositor sente vontade de responder a esse estímulo.

mafalda2.jpgE sente pressão para concluir o trabalho?

Sinto a pressão que coloco sobre mim própria. Sou completamente desorganizada no que se refere a cumprir timings. Por isso, tento reunir as condições ideais para compor. Daí decidir isolar-me e não dar quase nenhum espetáculo.

Em 1987, lançou o álbum «Pássaros do Sul». Como seria a composição desse disco de estreia agora em 2015?

É impossível imaginarmo-nos a fazer as coisas da mesma maneira tantos anos depois. Escrevi esse disco quando era muito mais jovem. Tinha vivido em Espanha. Quando voltei a Portugal, marcou-me o reencontro com toda a paisagem, os cheiros, todos os lugares da minha primeira infância. Procurei palavras que tinham a ver com o Alentejo, as músicas tradicionais.

Começou a sua carreira nos anos 80. Como olha para o panorama da música portuguesa?

Sempre achei que a música portuguesa é extramente rica. Em todas as alturas tem havido pessoas muito criativas, em todas as áreas. Atualmente há muitas mulheres a escrever canções com mais visibilidade, o que é ótimo.

Hugo Rafael com Tiago Carvalho
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