Universidade
A partir do seu exemplo pessoal,
Jorge Rio Cardoso dá conselhos para combater o insucesso escolar e
defende que o propósito da escola deve ser formar os jovens
para fazer escolhas e tomar decisões.
Os seus
livros são um verdadeiro sucesso junto da comunidade escolar. Qual
é a explicação?
No meu livro, dirigido em particular a estudantes do 2.º e 3.º
ciclo e secundário, falo da parte técnica do aluno (que inclui o
seu comportamento e atitude, como tira apontamentos, etc.) e depois
há o lado motivacional. Eu acredito que ter más notas não é uma
fatalidade. Isto é o princípio base de tudo. Outro aspeto que gosto
de enfatizar, é o facto de eu também ter sido mau aluno e consegui
alterar essa situação. O meu ponto de viragem foi quando
comecei a fazer atletismo. Da mesma forma que também tive vários
insucessos editoriais e os dois últimos livros foram grandes
êxitos. Resistir à adversidade e ultrapassar os maus momentos é
fundamental e dá grande satisfação pessoal.
A
predisposição do estudante para a escola é importante?
Uma criança que esteja triste
nunca vai aprender em condições e jamais vai acreditar que é
possível fazer melhor. Só se investe no estudo se os alunos
pensarem que do seu esforço vai resultar algo. O livro tem sido um
sucesso, mas creio que quem o compra são os pais e os avós e os
mais jovens podem ser alertados para uma ideia ou uma frase
chamativa. O título é bastante apelativo, "Este ano vais ser o
melhor aluno! Bora lá?", apesar de eu achar que ficaria bem melhor
sem o "o", porque a escola não pode ser entendida como uma corrida
desenfreada de cavalos. Mas acabou por prevalecer a decisão do
editor por motivos de marketing.
O que é
para si o protótipo do bom aluno em termos de desempenho?
Para mim o bom aluno não pode ser apenas aquele que tira notas
excecionais. As empresas hoje em dia apreciam candidatos capazes de
criar empatia com os outros, que respeitem o próximo, saibam
trabalhar em grupo, etc. São competências essenciais e que para mim
fazem o bom aluno.
Como
motivar as crianças para a escola quando o contexto social e
familiar, bem como a tentação das tecnologias, acabam por
desfocá-las do objeto?
Os jovens e as crianças são hiper-estimulados e com tantas
tentações como os telemóveis ou as redes sociais, o estudo fica
para segundo plano por não ser muito chamativo. Por isso,
defendo que o jovem para aprender tem de ter uma vida relativamente
equilibrada entre o estudo e outras atividades. O adquirir hábitos
de trabalho é fundamental. O outro aspeto é estar inserido,
paralelamente ao estudo, numa atividade extra-curricular que gostem
muito. Eu dou sempre o meu caso, em que tudo mudou na escola a
partir do momento em que comecei a fazer desporto. Deu-me uma
concentração competitiva que depois passei a utilizar nos estudos.
Eu para merecer o atletismo precisava de ter notas mínimas e isso
fez-me melhorar o meu rendimento na escola. Quem diz o atletismo,
diz outro desporto ou atividade, seja a dança, o teatro, a música,
etc.
A escola
continua a ser demasiado teórica e fornece pouca bagagem para o
quotidiano?
Sim. Há três modelos de ensino que devemos considerar: Durante
muito tempo o elo privilegiado era entre o conhecimento e o
professor. Foi o período do método expositivo, em que o aluno era o
elemento passivo. Num segundo modelo, o elo privilegiado existia
entre o aluno e o conhecimento, enquanto o professor tinha um papel
mais subalterno. Basicamente foi o que se procurou fazer com
Bolonha. O aluno chega à aula já com conhecimentos da matéria e a
aula serve para aprofundar e debater os pontos mais
sensíveis. Finalmente, num terceiro modelo o elo privilegiado
existe entre o professor e o aluno e o conhecimento fica para mais
tarde. É neste método em que se podem treinar atitudes,
comportamentos, trabalhos em grupo, etc. É uma lógica de projeto,
que se utiliza muito na Finlândia, em que as disciplinas já não
estão tão compartimentadas e em que se põe verdadeiramente a mão na
massa. No fundo, ajuda a tomar decisões num contexto de incerteza.
Por isso, é que o primeiro modelo que eu elenquei se chama ensinar
e este último, noutra dimensão, é denominado formar.
A escola
é competitiva e impiedosa como a sociedade?
Eu sei o que é que se sofre de estigmatização quando se é mau
aluno. Mesmo que se diga o contrário, o foco dos professores é nos
bons alunos. Em Portugal, os alunos têm muito medo de errar e a
escola é cruel e discriminatória para os que falham. Infelizmente,
não há muito a pedagogia do erro e considera-se socialmente
inteligente uma pessoa que não decide e não se define. O erro não
deve ser escondido. Deve ser identificado o motivo, o autor, para
no futuro não repetir. Por isso, entendo que a escola deve, desde
muito cedo, estimular os alunos para o empreendedorismo, para que
eles se habituem a raciocinar e a decidir.
Os TPC
têm gerado grande polémica. Na sua opinião, são necessários?
Não é possível dar uma resposta de sim ou não. Digo que brincar e
ter tempo livre é fundamental, mas também deve haver espaço para os
trabalhos de casa e a sua realização ajuda a que os jovens giram o
seu tempo. E é fundamental, ao nível da escola, existir uma
coordenação entre os vários professores para não sobrecarregar os
alunos. Para além disso, os TPC devem ter um propósito e não serem
passados apenas para "encher".
É muito solicitado para palestras
em Portugal continental, nas ilhas e até junto das comunidades
portuguesas no estrangeiro.
O que é
que procura transmitir nesse contacto de proximidade?
Procuro recorrer a um tom descontraído e informal para chegar aos
jovens, que são a maior parte dos meus ouvintes. As minhas
palestras são basicamente motivacionais e procuro educar para os
valores. Apresento algumas das 16 técnicas de organização de tempo,
planeamento de tarefas e outras que vão para além do próprio estudo
e que são mencionadas no livro. Falo sobre técnicas de relaxamento
para combater uma situação de ansiedade antes de um exame e que
acaba por bloquear o conhecimento que está armazenado no
cérebro.
O que é que lhe
perguntam mais?
Bom, adoram ouvir confessar que fui mau aluno, chumbei no 4.º e
7.º ano, e que adquiri competências com o atletismo, a partir dos
13 anos. Mas também ressalvo que não se passa num ápice de mau a
bom aluno. Estou convicto que se o método de estudo for o adequado
os resultados vão aparecer. E deixo uma palavra para os pais:
incentivem os seus filhos, mesmo que a nota não surja
imediatamente. Esta cidadania familiar é determinante para o
sucesso escolar.
Uma
questão de âmbito sistémico. Mesmo seguindo o seu método é possível
vingar com a instabilidade e o experimentalismo que existe há
décadas na educação?
Isso é verdade, as coisas podem não estar bem, o contexto pode não
ser perfeito, mas penso que os agentes educativos não se podem
resguardar nessas justificações. Penso que todos os intervenientes
devem procurar contribuir para um modelo de ensino melhor e que
responda mais eficientemente aos desafios e necessidades da
sociedade. Pensar global e agir localmente, deve ser a receita.
Creio que é crucial caminharmos para o modelo de formar e
desenvolver competências.
Já tem
ideias para o próximo livro?
Tinha um grande desejo de escrever sobre a escola do futuro.
Aliás, o atual ministro tem dado passos no sentido de criar
condições para que se treine mais as competências emocionais,
relacionais, o viver uns com os outros, em vez do mero debitar de
conhecimento que não leva a aprendizagens muito profundas. Formar o
jovem do amanhã para as escolhas, as decisões e para ser uma melhor
pessoa é um objetivo essencial na escola do presente e na do
futuro.
CARA DA
NOTÍCIA
"Este ano vais ser o melhor
aluno! Bora lá?" é o livro sobre as técnicas de ensino que Jorge
Rio Cardoso aconselha aos alunos e que se encontra nos "tops" das
livrarias de referência e nas grandes superfícies. Anteriormente,
tinha escrito "O método ser bom aluno - Bora lá?", que vendeu mais
de 20 mil exemplares. Este professor do Instituto Superior de
Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa é ainda
economista de profissão e técnico superior do Banco de Portugal. É
doutorado em Ciências Sociais pela Universidade de Aveiro. Desde
2008, tem realizado centenas de palestras junto de alunos, docentes
e encarregados de educação, com vista ao combate do insucesso
escolar. É membro do conselho editorial do "Jornal do Comércio" e
integra os órgãos sociais do Instituto Benjamim
Franklin.