For ever de Mestiksoul
Mastiksoul é o nome artístico do produtor e Dj
luso-africano Fernando Figueira, reconhecido como um dos grandes
produtores de dance music, Nacional e internacionalmente. Já venceu
vários prémios, fez parceria s com Bob Sinclair e Dada, e levou som
às pistas de dança de muitos pontos do planeta. Após um longo
período sem originais, esta Primavera lança um novo álbum.
Recuando no tempo. Como é que a dance
music entrou na sua vida?
Já há muitos anos e nem entrou na
minha vida como DJ. Comecei como dançarino, em 1984, ainda era
miúdo. Quando começou a época dos "break dances" fiz parte dessa
"vipe". A música de dança começou a desenvolver logo a seguir com
os acid house, etc. Foi a partir daí que abracei completamente esse
tipo de som.
A experiência no estrangeiro como
produtor foi muito importante para o seu crescimento?
Sem dúvida. Foi a chave de tudo. A
experiência de estar em Londres e poder trabalhar com grandes
produtores, grandes músicos e estúdios foi uma grande lição. Eles
continuam a ser todos muito melhores que eu, mas deu para aprender
qualquer coisa. Foi sem dúvida alguma, a melhor experiência da
minha vida.
A
sonoridade do Mastiksoul é facilmente reconhecível pela batida
africana. Essa batida com influências africanas como é que
surgiu?
Eu nasci em Angola, os meus pais
são angolanos. Embora eu não tenha vivido lá, passei aqui grande
parte da minha vida, saí de lá muito miúdo. Mas em miúdo, em casa,
os meus pais ouviam música africana, música latina e isso ficou no
ouvido. Por muito que não se queira, ganha-se aquele cunho de
ritmo. Acho que vem daí.
Foi uma
surpresa o sucesso quase imediato sobretudo em Espanha, onde ficou
conhecido nas pistas de dança e nos top`s da dance music?
Sim. Já estou na dance music há
muitos anos e tenho vindo a fazer um trabalho antigo em termos de
produção. Obviamente que as coisas ganharam outra dimensão quando a
minha música começou a furar, embora já andasse a trabalhar há
muitos anos. Mas como em tudo na vida é preciso ter paciência. As
coisas foram acontecendo naturalmente, não temos como calcular, e é
fazer o melhor que se pode.
O último
trabalho é um álbum já com algum tempo de rodagem e muitas
colaborações. Já está no horizonte o terceiro registo da
carreira?
Sim. Este mês é apresentado um novo álbum, o For Ever.
Vão surgir também algumas colaborações
extra?
Sempre. Não posso ainda dizer,"não se devem lançar os foguetes
antes das festas". Mas tem algumas surpresas interessantes.
Em Portugal tem recebido muitos convites
para remisturar singles?
Sim, alguns. O pessoal pede para fazer remixes e colaborações
mas como tenho estado a trabalhar no meu álbum não tenho muito
tempo para andar a fazer remixes. Estive a deixar respirar um
bocado o último álbum para lançar o novo. Nos intervalos tenho
estado um bocado quieto, agora o novo álbum vai ser com toda a
força.
Nos últimos anos, a produção nacional de
dance music teve direito a um boom. Isso é muito positivo para a
música de dança com selo nacional?
A produção em Portugal já existe há muitos anos. Agora o que
acontece é que talvez haja mais apoios, a nível de rádios, que
antigamente não acontecia. As rádios não apoiavam os artistas
portugueses, principalmente na música de dança. Agora já se começa
a sentir mais apoios nas produtoras e acho muito bem. Continuem e
que se continue a produzir mais, também temos de exportar.
Há uma tremenda mudança de mentalidades
na música?
Completamente. São outras gerações, não há comparação possível.
Antigamente não havia rádios, era tudo um circuito muito fechado.
Tirando uma revista ou outra que existia, não havia informação, não
havia internet. Havia mais paixão, mais amor pela música de dança,
que não era tão universal, tão popular. Hoje em dia já é tão banal
que ligas a televisão e já ouves música de dança. Isto há 15 anos
atrás era impossível.
Outra ferramenta importante tem sido o
software para trabalhar na cabine. Não considera que, por outro
lado, também é possível enganar o público, uma vez que os próprios
programas permitem fazer as misturas?
Os tempos mudam. Se for uma mudança positiva é sempre bemvinda.
Eu sou apreciador dos softwares, mas fui sempre dos últimos a
aderir às "modernices". Fui dos últimos a abandonar o vinil,
custou-me imenso ir para o CD. Como artista foi das coisas mais
Mastiksoul é o nome artístico do produtor e Dj luso-africano
Fernando Figueira, reconhecido como um dos grandes produtores de
dance music, Nacional e internacionalmente. Já venceu vários
prémios, fez parceria s com Bob Sinclair e Dada, e levou som às
pistas de dança de muitos pontos do planeta. Após um longo período
sem originais, esta Primavera lança um novo álbum. difíceis da
minha vida, abandonar o vinil. Depois acostumei-me aos CD`s
apareceram os softwares. Já estava naquele barco digital e disse
"do mal o menos, deixame continuar até ver o que isto dá". Hoje,
sem dúvida, prefiro tocar com software por uma razão muito simples:
sou produtor, faço música e quando toco, toco como se fosse
produção, como se estivesse no estúdio. Brinco com isto e aquilo,
corto aqui e ali, ponho vozes, como se estivesse a tocar ao vivo.
Isso é que gosto imenso.
Tem saudades do tempo em que tinha dois
pratos com o vinil e o toque no disco? A sensibilidade é
completamente distinta?
É diferente. Mesmo até o som era diferente, o cheiro era
característico. Abríamos a mala dos discos e vinha aquele cheiro do
vinil. Mas o mundo está em constante evolução, não podemos olhar
para trás, temos de olhar para a frente. O tempo não volta, quem
viveu, viveu; quem não viveu, azar. Foram grandes momentos. Mas
agora há que aproveitar as novas tecnologias para fazer coisas
melhores. Ainda ontem ouvi um estilo de música novo, que está a
sair muito em Inglaterra. Um puto de 16 anos é que inventou aquilo.
Tinha os controladores e os trackpads e na brincadeira criou um
estilo novo, muito popular. As novas tecnologias estão a abrir
novas portas e caminhos.
No seu currículo está uma longa lista de
actuações ao longo do planeta, conhece imensas cabines. Há alguma
actuação que tenha uma memória especial?
O Novo Álbum de Mastiksoul Essa pergunta é sempre muito difícil
de responder. Porque foram mesmo muito os sítios onde fui, foram
grandes momentos, grandes festas. Normalmente são sempre as mais
recentes que a malta recorda. Mas foram muitas e é difícil essa
pergunta.
Nas pistas de dança, Portugal está
ao mesmo nível de outras capitais europeias e dos EUA?
Estamos num nível diferente, melhor ou pior é subjectivo. Em
Espanha é diferente, na Itália, Inglaterra, Estados Unidos. Mesmo
nos EUA nem todos os sítios são tão "avant guarde" quanto isso. Se
calhar até são poucos os sítios que o são. Recentemente o Dennis
Ferrer foi tocar a um dos melhores clubes de Miami e ao fim de
trinta minutos o dono mandou-o sair porque não estava a passar
comercial suficiente. E era o Dennis Ferrer. Não estamos nem
atrasados nem à frente de ninguém, estamos num mercado que é nosso,
adaptado a Portugal, é essa a nossa realidade. Nós comemos feijoada
e eles não. Não temos os mesmos gostos que eles, "curtimos" música
diferente. Temos a nossa cultura, eles têm a deles.
Como é que imagina a dance music daqui
alguns anos?
Não sei. Se soubesse jogava o euromilhões e ganhava. (Risos).
Espero que continue saudável e forte e que daqui a dez anos esteja
a funcionar. Espero que a dance music continue a fazer parte da
noite, como sempre fez.
Eugénia Sousa (texto) | Hugo Rafael (entrevista)