A Verdade do Legendary Tigerman
Legendary Tigerman tem um
novo disco. chama-se True e aposta em sonoridades que vão do rock
aos blues, rompendo com o anterior formato de One Man Band.
Para Paulo Furtado, este trabalho
serviu também como aviso «para me manter fiel e verdadeiro às
coisas em que acredito e que faço artisticamente.»
O feedback
ao novo trabalho discográfico está a ser positivo?
Felizmente o feedback tem sido
muito positivo, tem vindo muita gente aos concertos. Este novo
formato, com o Paulo Segadães a tocar bateria em algumas canções,
acaba por ser um formato mais interessante para o público. Os
concertos têm sido grandes celebrações do Rock and Roll e têm
corrido todos bem.
Este
regresso à cidade dos estudantes para um trabalho ao vivo é
especial?
Eu não gosto nada de chamar a
Coimbra a cidade dos estudantes, porque Coimbra é a cidade dos
conimbrisenses. Um dos grandes problemas desta cidade é viver um
bocadinho à sombra da universidade e do hospital e a pessoas
esquecerem-se que existe toda uma cidade e todo um conjunto de
pessoas à volta disso. Entendo que se chame assim à cidade, onde
tenho muitos amigos, é o lugar onde cresci. Tenho um grande afeto,
não só por Coimbra em si, mas também pelo teatro (TAGV), onde já
toquei uma série de vezes, onde já programei um festival de luzes e
já vim ver vários espetáculos importantíssimos. Obviamente é um
prazer redobrado estar aqui com o teatro esgotado.
Esta
digressão está, então, integrada no novo disco True. Porquê a
escolha de a "verdade"?
Tem a ver com várias coisas. Estamos
a passar um momento em que há tanta coisa plástica que é necessário
existirem coisas que sejam intrinsecamente verdadeiras. Depois do
Femina [álbum anterior], e depois de eu próprio ter feito tantas
coisas com tantas pessoas, nestes últimos cinco anos, tinha alguma
necessidade de descobrir qual era a minha verdade musical. Onde é
que eu estava a ir, como é que eu queria fazer música. Depois há
uma outra razão, que só descobri mais tarde, que é quase um aviso
para mim mesmo: para me manter fiel e verdadeiro às coisas em que
acredito e que faço artisticamente.
O novo disco
é acompanhado de um DVD que inclui uma curta-metragem e um
documentário.
O documentário anda à volta do
processo de criação do disco, desde a composição até à apresentação
ao vivo ou até à gravação em estúdio. O Paulo Segadães conseguiu
dar uma visão muito clara da quantidade de trabalho e da repetição
que é o processo de criação neste formato One Man Band. Acho que é
um bom documentário. Não fechei portas a nada. Estão lá muitas
coisas, é um documentário bastante honesto e claro em relação aos
processos. Não houve absolutamente nada que estivesse fechado para
filmar.
Quanto à curta foi um modo de
contornar o facto de ter de fazer videoclips. Acabei por fazer a
curta-metragem e no meio encaixar os dois videoclips. Um bocado
para ter prazer em todas as coisas que faço relacionadas com o
disco. Não me interessa fazer um videoclip só para vender e
promover discos, interessa-me fazer alguma coisa que me dê gozo e
daí ter aparecido esse projeto da curta-metragem.
A nota de
imprensa refere que o Paulo tem uma nova vida. Que vida nova é essa
do Legendary Tigerman?
Estou em continuidade com as coisas
que tenho feito para trás. Coisas novas existem sempre de disco
para disco. Aqui talvez tenha sido o facto de ter abandonado um
bocado aquela atitude radical de só fazer as coisas em formato One
Man Band. Acabei por pedir a algumas pessoas - ao Filipe Melo, à
Rita Redshoes - para fazerem arranjos de cordas, em duas músicas.
Ao João Cabrita pedi para fazer arranjos para outras. Eu gravei
mais algumas coisas que não foram gravadas ao vivo. O concerto
acaba por ser desdobrável numa série de concertos diferentes, fruto
de já ter discos para trás e poder tocar coisas do Femina e
misturar isso tudo. Os próximos anos hão de trazer concertos muito
diferentes, o que me deixa bastante contente.
O anterior
registo foi platinado. Isso causou alguma pressão na preparação do
True?
Para mim, o Femina ter chegado à platina já foi uma
surpresa. O True ser número um no top é uma surpresa ainda maior.
Na realidade quando faço um disco só espero que fique o melhor
possível. Para mim o último disco dos Wraygunn é o melhor que
fizemos e não tivemos sucesso comercial com ele, nem os concertos
que esperávamos ter. No fundo não tinha expectativas face a este
disco. A pressão é sempre interna, de tentar fazer um trabalho
melhor que o anterior, andar em frente e não me repetir.
É altamente
recompensador para um artista ver o seu trabalho bem recebido pelo
público e, assim, estar no topo das vendas de álbuns?
Sim. Não é a cena de estar no topo
da venda de álbuns. Obviamente eu quero chegar a muitas pessoas,
vender discos. Mas acho que as coisas têm de ser relativizadas.
Quando se tem críticas muito boas não se pode acreditar que o disco
seja assim tão bom, porque um dia quando se tem críticas muito más
também não podemos acreditar que somos assim tão maus. No fundo, o
mais importante é, quando se acaba um disco, acreditar que se fez o
melhor possível. De certa forma, talvez isso não tenha acontecido
nos meus dois discos. Na realidade isso chega-me, o resto são
bónus. Se as coisas correm muito bem, isso realmente altera a minha
vida. Mesmo como músico.
Ao longo dos
álbuns editados, sente que conseguiu registar uma evolução no rock
e nos blues?
Espero que sim. A minha ideia é não
me repetir, quer em relação às coisas que foram feitas por outras
pessoas, quer às coisas que foram feitas por mim. Mas tem de ser o
público a avaliar.
Hugo Rafael (Rádio Condestável)
Texto: Eugénia Sousa
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