Entrevista

Linda Martini
A «Sirumba» joga-se ao som do rock

LindaMartiniFacebook.jpgOs portugueses Linda Martini estão de volta com o quarto disco de originais. «Sirumba», com nome de jogo infantil, promete levar a banda a novas alturas. O vocalista, André Henriques, fala sobre os novos tempos, mais maduros, de um dos mais respeitados nomes do rock nacional.

O título do disco é o nome de um jogo da década de 90, «Sirumba». Porquê este nome?

Nós [membros dos Linda Martini] já nos conhecemos há muito tempo. E o primeiro sítio onde me lembro de reparar em cada um dos meus colegas foi na escola preparatória - andámos todos na mesma escola - numa altura em que ainda não pensávamos em bandas. E nessa zona era muito comum jogar-se Sirumba, um jogo infantil também conhecido como Policias e Ladrões. Jogava-se na rua, com o traçado do jogo marcado a giz no alcatrão. Não sei se por via do acaso chegámos a jogar juntos, porque na altura nem todos nos conhecíamos. Mas achámos que o conceito era tão engraçado, por remeter para esse passado comum, que ficava bem para nome do disco.

O álbum foi apresentado no Coliseu de Lisboa, no passado dia 2 de abril. Como foi essa noite?

Correu acima das nossas expectativas. Assumimos o risco de apresentar o disco no Coliseu. Já tínhamos apresentado o álbum anterior numa sala com capacidade para algumas centenas de pessoas e, desta vez, achámos que conseguíamos dar o passo para uma sala maior. A aposta correu-nos bem. O Coliseu estava praticamente cheio para nos receber. É uma noite que vai ficar nas nossas memórias durante muito tempo.

Qual foi a sensação de pisar pela primeira vez esse palco emblemático?

Antes de subirmos ao palco, ao vermos a multidão que preenchia a sala, ficámos algo nervosos. Mas em cima do palco transmitimos calma, segundo nos contaram mais tarde os nossos amigos. Talvez por ser uma experiência tão surreal, por termos sido tão surpreendidos, houve essa calma aparente. Foi quase uma experiência fora de corpo, como se não fossemos nós que ali estávamos a tocar. É uma sensação curiosa.

As novas músicas introduzem uma sonoridade diferente. O que inspirou essa mudança?

Nós funcionamos sempre por reacção. Por isso, diria que a primeira inspiração para um novo disco vem sempre do disco anterior. No «Turbo Lento» e «Casa Ocupada», discos anteriores, estávamos numa fase em que usávamos muito a distorção nas guitarras, baixo e mesmo na voz. Mais tarde, depois dos discos estarem feitos, sentimos que muitas vezes se perdiam pormenores, nomeadamente pequenas harmonias ou melodias de guitarras ou voz, no desejo de mostrar esse lado mais nervoso e urgente. Portanto, a primeira inspiração foi olharmos para aquilo que tinham sido os discos anteriores, aquilo que nos deixou menos satisfeitos em termos de produção. Então, surgiu a ideia de privilegiar o espaço de cada instrumento, deixar que as guitarras e a voz desenhem as suas linhas melódicas.

«Unicórnio de Sta. Engrácia» é o single de apresentação do disco. O vídeo cruza a tensão da música tocada ao vivo com imagens de animais selvagens na luta pela sobrevivência. Porquê esta escolha?

Queríamos um conceito simples para o vídeo, realizado por Vasco Mendes, cujo trabalho com outros artistas admirávamos. A ideia foi fazer um vídeo de performance, ou seja, nós a tocarmos, e depois introduzir uns planos de corte com zebras e leões, que joga bem com a letra da música, que coloca a questão de se ser "presa ou predador".

LindaMartiniFacebook2.jpgDe onde vem o curioso nome da canção?

O nome da música tem uma história curiosa. Chama-se «Unicórnio de Sta. Engrácia» porque demorou uma eternidade a fazer. Há músicas que se fazem numa tarde e há outras que, por uma razão ou outra, não se encontra uma solução que agrade. Por estarmos meio perdidos, surgiu este título provisório para a canção, ainda antes de termos letra. Agradou-nos pela mitologia associada às obras de Sta. Engrácia que, por estarem amaldiçoadas, nunca acabavam, e pela ideia do unicórnio como animal mitológico, perseguido por caçadores que nunca o conseguem encontrar.

Ainda em relação ao novo álbum, está disponível em diversos formatos, incluindo em vinil. O que vos levou a editar nesse formato mais vintage?

Nos últimos anos tem-se assistido ao ressurgimento deste formato. Nós somos fãs do vinil, até porque nascemos nos anos 80, quando ainda era muito popular. Gostamos do objeto e de toda a simbologia que lhe está associada: o ritual de abrir o vinil, o art-work das capas, os lados A e B. Não quero anunciar a morte do CD, porque ainda tem uma fatia grande de mercado, mas com o advento do digital, o CD acaba por se tornar um formato mais perecível. Enquanto isso, o vinil tem estado a regressar.

O que se segue nos próximos tempos?

Esperamos tocar ao vivo um pouco por todo o país. Já temos alguns concertos agendados e estamos com muita vontade de mostrar o novo disco ao maior número de pessoas possível.

Hugo Rafael - Rádio Condestável
Texto: Tiago Carvalho
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