Na estrada com David Fonseca
David Fonseca está na estrada para uma série de
concertos por todo o país. Em entrevista, o antigo mentor e
vocalista dos Silence 4 fala sobre os novos rumos da sua carreira a
solo. Recorda ainda a emotiva reunião em palco de um dos maiores
fenómenos musicais do final dos anos 90.
Continua a
apresentar ao vivo o mais recente trabalho de estúdio (o álbum
duplo «Seasons - Rising:Falling»). Como está a correr a tour deste
verão?
Está a correr bem. O alinhamento
percorre muitas das canções do último álbum, mas também vai buscar
momentos a cada um dos discos anteriores. O espetáculo deste verão
acaba por ser um resumo da minha carreira nos últimos 10 anos. É um
concerto que contempla toda essa viagem.
Em
simultâneo com a tour deste verão, está certamente a preparação do
próximo disco. Poderá haver surpresas em 2015?
É possível que sim. Tenho muita
dificuldade em passar anos sem editar nada. Durante muito tempo,
neguei a ideia de ser músico. Apesar de fazer discos
constantemente, considerava a música quase um passatempo. Era a
minha profissão e era ao mesmo tempo um passatempo, porque fazia
música apenas quando ela vinha ter comigo. Hoje quero fazer melhor
música, quero ser melhor na profissão de músico, por isso, estou
sempre à procura de coisas novas. Sempre que um disco tenha um
espaço temporal maior, de dois ou três anos, é normal que eu já
esteja sistematicamente à procura de novas canções.
Os cenários
que vai encontrando na digressão [a entrevista foi feita em Vila
Velha de Ródão, com o rio Tejo como pano de fundo], inspiram o
processo criativo?
Claro que sim. Aliás, é muito raro
compor música em casa. Compor num lugar que diverge da minha vida
normal empurra-me para outros espaços artísticos e musicais, que
normalmente não encontraria. Por isso, costumo sair de casa para
mais facilmente alcançar esses espaços. Há alguns sítios chave onde
tenho o hábito de fazer uma espécie de reclusão, mas também gravo
muito quando estou em digressão.
Este ano
fica marcado pelo regresso dos Silence 4 aos palcos. Como foi esse
reencontro?
Foi um regresso emotivo. Não teve o
objetivo de retomar a banda, mas de celebrar a vitória da nossa
vocalista [Sofia Lisboa] na luta que travou contra a leucemia nos
últimos três anos. Quando finalmente se curou, ela sugeriu uma
reunião da banda para comemorar o feito e achei a ideia
absolutamente maravilhosa. No conjunto dos cinco concertos que
fizemos, tocámos para cerca de 50 mil pessoas, algumas que desde o
início apoiaram os Silence 4 e outras que nunca tiveram a
oportunidade de ver a banda ao vivo. Parte das receitas reverteram
para a Liga Portuguesa contra o Cancro. Foi um reencontro
incrível.
O último
concerto teve lugar em Leiria, cidade onde a banda nasceu. Foi
especial terminar em casa?
Foi. Quando formámos os Silence 4, em Leiria, éramos
uma banda muito pequena, até porque sempre fomos uma banda
alternativa. Leiria apoiou a banda desde o início, e mesmo quando
ainda não tínhamos editado qualquer disco, os concertos esgotavam.
Aliás, um dos primeiros concertos de Silence 4 depois do disco ser
editado foi precisamente em Leiria e estava lá praticamente metade
da cidade para assistir ao nascimento da banda. Portanto, foi
especial voltar lá e tocar num estádio para 15 mil pessoas. Foi o
culminar perfeito da reunião de Silence 4.
Outro
aspeto positivo da reunião foi chamar a atenção para um problema de
saúde que pode acontecer a qualquer um.
Exato. Desde início a Sofia quis
ser uma voz muita ativa em relação a esse assunto. Foi, aliás, a
principal razão para fazermos a reunião. Quisemos chamar a atenção
para um problema que infelizmente afeta muita gente. Continuamos a
apelar às pessoas para se informarem melhor sobre a importância de
ser dador de medula óssea. Foi através de um transplante que a
Sofia se salvou e pôde voltar a cantar aqueles temas de Silence
4.
Muito
solicitada pelos fãs deve ser a continuidade dos Silence 4, mas
vejo que será um regresso muito complicado.
Curiosamente, esse regresso não foi
tão pedido quanto isso. Acho que as pessoas queriam sobretudo que
nos juntássemos e tocássemos aquelas músicas mais uma vez. Não
foram assim tantas as solicitações para darmos continuidade à
banda, porque não fazia sentido gravar agora um novo disco. As
coisas tiveram o seu tempo. Aconteceram quando éramos pessoas
diferentes, muito mais jovens. Ainda por cima sou uma pessoa muito
pouco dada à nostalgia. Isso é notório na minha carreira musical -
estou constantemente a lançar coisas novas, porque gosto mais de
trabalhar o que tenho pela frente do que viver do que ficou para
trás.
O próximo
disco poderá surpreender?
Acho que o próximo disco vai ser
uma das maiores surpresas de sempre da minha carreira. Espero que
as pessoas gostem disso. Está a ser preparado algo muito diferente,
e estou muito curioso para ver a reação das pessoas. Ainda estou na
fase de composição e pré-produção, mas estou muito contente com o
material que tenho pela frente.
O cartão de
visita desse disco poderá sair ainda este ano?
Ainda não é certo. Depende de como
as coisas correrem. Só edito discos quando estou satisfeito com
aquilo que ando a fazer e nesta fase de composição ainda é difícil
ter certezas - mas gostaria muito que sim.
Hugo Rafael (Rádio Condestável)
Texto: Tiago Carvalho
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