Entrevista

CAIM
CAIM, Nome de Banda

Foto CAIM_DR on.shot estudio cópia.jpgDaio (voz), Bruno Lobo (guitarra), Pedro Fonseca (guitarra), Luís Rosa (baixo) e Nélio Freitas (bateria) são os CAIM. Eles juntaram-se na ilha da Madeira e fazem música há 11 anos. Com dois álbuns editados, Beg a Dime e Work in Progress, pensam agora num terceiro trabalho em disco. Daio fala da banda que começou e cresceu com a amizade dos cinco elementos.

O que têm andado os CAIM a fazer?

Para quem não conhece os CAIM, nós temos dois álbuns editados: o Beg A Dime, e agora, mais recentemente, o Work in Progress. Estamos a tocar, essencialmente, uma mescla dos dois. É o que temos estado a fazer, durante o ano de 2012. A tocar não só o último álbum, mas, também músicas do álbum mais antigo. Espectáculos muito livres, em que não há uma colagem muito fiel ao disco. É um espírito muito aberto, se proporcionar, a meio do espectáculo, há uma Jam. Há sempre muito espaço para improviso. Olhamos uns para os outros, pelo canto do olho, e se acontecer alguma coisa deixamo-nos ir, sem nos limitarmos a seguir as regras convencionais, deste tipo de espectáculo.

O colectivo já ultrapassou uma década de carreira, tem 11 anos. Depois deste tempo, de dois discos, muitos espectáculos e muitos temas, a vontade está renovada para continuar a compor e a tocar ao vivo?



Sim, sem dúvida. O meu pai, há dois ou três anos atrás, perguntou-me: "Então, tu ainda tens essa banda?". Nós próprios nunca pensamos que depois de quase12 anos iríamos estar aqui a conversar e a pensar um terceiro disco, com tanta vontade que parece que começamos ontem. E como estamos, no dia-a-dia, tão separados, sempre que a banda se encontra para um concerto, ou mesmo para um ensaio, há aquela vontade de tocarmos juntos, estarmos uns com os outros. Há sempre aquela força renovada. A amizade é sem sombra de dúvida o elo de ligação mais forte que esta banda tem. Independentemente de sermos cinco músicos, somos cinco amigos. Para além da banda estamos também a falar da equipa técnica, do manager, que nos acompanham e são uma família. Quando estamos juntos, já sabemos que as coisas vão fluir de uma dada maneira e vai haver espaço para muita confraternização.

A sonoridade das músicas do terceiro disco vai seguir a linha condutora dos dois primeiros registos, ou poderá haver uma surpresa?



Em regra, as bandas gravam os instrumentos em separado. Gravam primeiro a bateria, baixo, secção ritmíca, quase por camadas vão se colocando as guitarras, vozes, teclados, o que seja. O nosso objectivo neste terceiro disco é gravar, à semelhança de um concerto ao vivo, todos em take directo, em simultâneo. Sempre achamos que a banda ganhava muito mais força ao vivo, do que em disco, - embora estejamos muito orgulhosos dos discos que temos. Há sempre mais qualquer coisa no espectáculo ao vivo. As canções levam sempre um bocadinho mais além as expectativas e as energias, que tentamos criar. Vamos transportar isso para um terceiro disco, que penso, será "o tal".

interior cópia.jpgOs vossos dois discos estão disponíveis na plataforma da Internet, SoundCloud. Qual é vossa visão em termos de internet. Trata-se de um amigo ou um inimigo?



Tal como as coisas estão, neste momento, é tanto amigo, como inimigo. Os músicos que já têm nome ficaram claramente a perder. Para os que estão a começar, há a vantagem da divulgação ser muito mais fácil. As pessoas se gostam acabam por ser agentes de difusão das músicas de um artista recente. Por outro lado, muito daquilo que possibilitava um músico poder dedicar-se a cem por cento à música era o rendimento proveniente da venda de CDs, o que hoje não acontece. A internet funciona para o bem, e para o mal.

Qual é então a principal vantagem da Internet?



Os álbuns editados antigamente eram decididos pelos indivíduos que estavam atrás de uma editora, gostavam, editavam e lançavam. Mas, a opinião dessas pessoas pode não representar a opinião comum. Aconteceu-nos a nós, que acabamos por optar por uma edição de autor. Felizmente, foi uma decisão acertada e motivo de orgulho. Neste momento, a internet liberta e dá mais espaço para aparecerem coisas boas e coisas más. Mas, o público em geral é muito bom selector dessas coisas e o que é bom, acaba por vir ao de cima. Acaba por vencer o que é bom, persistente, e, claro, é preciso ter uma pontinha de sorte.

No futuro, as bandas poderão optar somente pela edição digital e deixar o formato físico de parte?



Há grandes bandas a fazerem praticamente só isso. Mas, acho que o formato físico nunca vai acabar. Poderá é caminhar cada vez mais para uma coisa de coleccionador. A grande divulgação e a grande distribuição vão passar cada vez mais pelo digital e pela Internet. Nesse sentido é bom que se criem regras, até onde se pode ir, ou não. A música gratuita acaba por prejudicar muita gente. Mas, que não se pratiquem preços tão exorbitantes. Em Portugal, o IVA é tão elevado e os ordenados base tão baixos que não permitem às pessoas comprarem discos.

Será que no futuro vai aparecer um sistema em que os músicos vão ser remunerados de forma directamente proporcional àquilo que as pessoas consomem desse músico?



Terá de ser um sistema diferente. Mas, a internet como está veio para ficar. A indústria vai ter de se adaptar.

Capa CAIM 300 cópia.jpgO facto de cantarem em Inglês já vos abriu portas no mercado internacional?



Não. O facto de cantarmos em inglês é uma coisa que já não nos perturba tanto. Sendo eu quem escreve a maioria das letras, tive uma altura que me incomodava. Sentia que havia uma pressão quase generalizada. Como portugueses estaríamos a desprezar a nossa língua mãe, uma língua tão bonita e tão rica, de poetas e escritores conceituadíssimos. Faço algumas coisas em português, ultimamente tenho até feito mais. Mas, a banda respira uma sonoridade muito internacional e, há um certo tipo de registos que, se tentássemos fazer em português, iríamos descaracterizar a banda. Também temos um processo criativo algo suis generis, em que as letras só aparecem no fim. A minha parte, que é a da voz, começa por ser algo entoado. A meio da música surgem pequenos versos que servem de mote, para acabar o resto da letra. E esses versos surgem sempre em inglês.

Faz parte do espírito do grupo a busca da oportunidade de mostrar o vosso trabalho?



Gosto muito de viajar e sempre que o faço levo a música comigo. Obviamente, as coisas que faço, fazem parte de mim e vou sempre tentando espalhar. Mas são coisas muito localizadas, não vou dar espectáculos para centenas de pessoas em lado nenhum. Mas toco. Já tive oportunidade de tocar em bares e lugares desse género e normalmente é sempre uma boa forma de ir dando a conhecer. Um dia deste até aparece a oportunidade certa e temos o promotor da Madonna a ver e a achar piada à banda. As coisas são mesmo assim: "estar no sítio certo, à hora certa". O mais importante é continuar a fazer aquilo que se gosta e identificarmo-nos com isso. Esse é o nosso principal lema desde o princípio e penso que vai continuar.

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