Entrevista

Na Voz de Kalú

_DSC7814 cópia.jpgO baterista da banda rock mais emblemática do país, lançou-se numa aventura a solo como vocalista. O trabalho discográfico chama-se Comunicação. Kalú  fala da  produção do disco, apoios, concertos e da família musical, há mais de 30 anos, os Xutos e Pontapés.

O título deste novíssimo registo é Comunicação. No nosso país, a comunicação é um problema, as pessoas falham nessa vertente?

Nos tempos que vivemos, apesar de termos muitos meios de comunicação, cada vez nos isolamos mais. Comunicamos uns com os outros, dentro das nossas casas, através de redes sociais. Eu vejo pelos meus filhos, tenho exemplos vivos ao pé de mim. Antigamente, para sabermos as novidades era preciso sair à rua e não havia nada melhor do que uma boa conversa de café. Daí o título, mas não é só esse motivo. O outro motivo é a proximidade que agora estou a ter com as pessoas, ao tocar em clubes pequenos.

Este disco de estreia era uma ideia que estava há muito na gaveta?

Nunca foi uma prioridade na minha vida. As coisas aconteceram agora porque os discos dos Xutos são mais espaçados no tempo. Estamos a fazer discos de quatro em quatro anos, o que me deixa mais tempo para fazer alguma coisa para mim. Os Xutos estão na fase de começar a fazer um novo álbum, mas durante o ano e meio que passou não estávamos com muito trabalho. Daí ter avançado.

Reuniu uma equipa interessante para este disco. O produtor é o Ramón Galarza, na composição há um elemento muito especial que deu também um bom contributo…

O meu filho Vasco. Tive de me reunir de pessoas muito chegadas a mim, mesmo o Ramón considero família. Temos as nossas inseguranças, nunca se sabe se as coisas estão boas ou más. Com estas pessoas muito chegadas a mim sabia que ia ter opiniões sinceras e que me iriam ajudar muito na concretização do trabalho. O Ramón Galarza foi o primeiro a ser contactado. É um amigo de longa data, desde o tempo do disco 88 dos Xutos. Depois, foi o meu sobrinho Marco Nunes, que é o guitarrista do Pedro Abrunhosa. É um excelente músico que me ajudou muito na organização das músicas; e o meu filho Vasco que se predispôs imediatamente a fazer as letras, que eram a minha grande preocupação.

As músicas são inspiradas com a veia do som dos Xutos e Pontapés, o que constitui concerteza uma mais valia?

É inevitável. Os Xutos são a minha outra família. Trabalho com eles há 34 anos, aprendi tudo o que sei com o Tim, o Zé, o João e o Gui. As pessoas não estranhem ouvir uma música do meu disco e dizerem "isto podia ser perfeitamente música dos Xutos". É absolutamente normal. É uma mais-valia.

Ao longo do processo criativo os outros elementos dos Xutos e Pontapés acompanharam o crescimento das canções e emitiram a sua opinião?

Não fui mostrando muito, só quando as coisas estavam mais concluídas. Um bocadinho por vergonha. O Tim deu-me uma ajuda muito grande, por exemplo, no tema Comunicação. Quando mostrei o trabalho, o Tim virou-se para mim e disse "Tu cantas muito melhor do que isto, tens de ir ao estúdio cantar outra vez". Voltei atrás e consegui fazer uma interpretação muito melhor, do que a que tinha.

Este trabalho representa uma mudança de posição, passa da bateria para o microfone. Foi fácil essa transição ou um desafio tremendo?

Foi um desafio tremendo. Apesar de nos Xutos, de vez em quando, fazer uma aventura à frente. É um número esporádico. Vou à frente, venho para trás, resolvo rapidamente esse problema. Agora não, tenho de estar lá à frente, com as pessoas a olhar para mim, completamente exposto, sem saber o que hei-de fazer às mãos, porque estou com o micro. Mas arranjei soluções: as pandeiretas e a harmónica. Até toco guitarra, em duas músicas, coisa quase impensável. Há um desafio enorme, mas penso que estou a conseguir superar.

Os dois singles deste registo já são conhecidos, há algum tempo. Um dos temas tem claramente uma componente de intervenção. Em Portugal, essa componente   está adormecida?

Sim. Os nossos cantores que tinham esse cunho de músicos de intervenção estão um bocado parados. Qualquer de nós, artistas, tem o dever de expôr o que se passa. Somos como as outras pessoas, andamos aqui no meio, vemos as coisas, mas temos uma vantagem sobre toda a gente, temos tempo de antena. Por isso, é bom falarmos nas coisas, pôr no ar aquilo que talvez toda a gente queira dizer, e não tem hipótese. Cada um tem o seu cunho, sobre o que gosta de falar. Eu sou muito da componente de intervenção, também pela minha vivência, trabalhei em fábricas, em câmaras frigoríficas. Sempre tive isto da justiça social.

O rock é dominante neste disco. Este estilo de música continua com grande força em Portugal?

A música em Portugal está super viva. Só quem não está atento é que não vê. Temos bandas, de norte a sul do país, sempre a produzirem em áreas muito da pop e do rock e, também numa área muito crescente, o hip hop. Posso dizer nomes: Capitão Fausto, Julie & the Carjackers, Bisonte, Frankie Chavez,  um homem dos Blues, que também participa no disco. Há muita produção. O rock sempre fez parte e fará do panorama musical. Por vezes, não será o mais propício para tocar aqui ou ali, e, são bandas como os Xutos e Pontapés que conseguem fazer chegar o rock a toda a gente.

Com a actual situação de crise em Portugal, é um cidadão preocupado com o estado do nosso país?

Completamente. Isto não anda nada bem para ninguém. E o que mais me chateia, no meio disto tudo, é a impunidade com que as coisas se passam em Portugal. Ninguém é "chamado à pedra".

Este cenário também prejudica os músicos em geral….

Sim, o trabalho tem diminuído. Felizmente, os Xutos têm mantido mais ou menos o mesmo número de concertos. Mas há colegas nossos que sofrem imenso com esta crise.

Direitos Reservados
 
 
Edição Digital - (Clicar e ler)
 
 
Unesco.jpg LogoIPCB.png

logo_ipl.jpg

IPG_B.jpg logo_ipportalegre.jpg logo_ubi_vprincipal.jpg evora-final.jpg ipseutubal IPC-PRETO