O rock está-lhes no sangue
PAUS
«Mitra» é o novo álbum
dos PAUS. Quais são as grandes novidades?
Em relação ao anterior «Clarão», o
«Mitra» é um disco com mais espaço e mais groove. É um disco mais
de canções, não no sentido clássico, mas canções à PAUS, isto é,
com a nossa identidade muito própria.
Porquê a escolha de «Mitra»
para título do disco?
Ao terceiro longa-duração tentámos
responder à pergunta "Quem são os PAUS?". As respostas que fomos
obtendo eram diversificadas. Éramos uma banda rock, com elementos
de eletrónica, de dança, hip hop, até alguma música tradicional. No
entanto não éramos nenhuma dessas coisas apenas, mas todas ao mesmo
tempo. Não somos da periferia nem somos do centro, mas
movimentamo-nos entre eles, tal como a figura do "mitra" que também
não pertence a lugar nenhum. É um conceito que faz sentido para a
nossa música, tal como faz sentido para uma ideia de identidade da
nossa geração, ou até para uma ideia de identidade portuguesa.
Portugal sempre foi o encontro de muitas culturas. E essa condição
é algo que nos está no sangue e quanto mais a assumirmos mais
portugueses somos.
O primeiro avanço do álbum,
«Pela Boca», tem aberto o apetite do público?
Não sei dizer. Mas é uma música que
é muito peculiar e tem-me surpreendido bastante. Foi lançada no
Natal, que é sempre uma altura de bastante ruído em termos de
cultura pop, mas destacou-se. Mais tarde ganhou ainda mais força e
continua a rodar muito bem nas rádios e na internet. Talvez porque
é uma canção simplista, sem ser simples, que não tem a ambição de
ser single. É uma canção muito fixe. E é uma canção sobre amor, que
é uma coisa que interessa. Na verdade, o amor é a única coisa que
interessa.
«Mitra» foi gravado no vosso estúdio. A
liberdade que isso dá foi uma mais-valia?
Claro que sim. Não só por ser o
nosso espaço, mas também pelo facto de o partilharmos com amigos e
pessoas em quem nós confiamos. Temos aqui na casa malta dos Linda
Martini, malta dos You Can't Win, Charlie Brown, malta dos Quelle
Dead Gazelle… Interessa-nos bastante o sentido comunitário, e é bom
que a nossa música tenha essa partilha de opiniões, visões e
experiências. Depois, o facto deste álbum ter estreado o estúdio
que tivemos tanto trabalho para criar dá-lhe uma energia e um
fôlego extras.
O som do vosso grupo
consegue ir ao encontro da world music. Tem potencial para
conquistar fãs em qualquer ponto do mundo?
Acho que sim. Se houver alguém,
numa qualquer parte do mundo, que goste de uma abordagem mais
lateral ao rock, é possível. As vezes que tocámos além-fronteiras
resultaram bem.
Após o lançamento do disco,
a digressão ao vivo. Muitas expectativas?
Sim. Acima de tudo queremos
perceber como é que as músicas novas vão soar em palco. Elas mudam
bastante na transposição do disco para o palco. É essa
transformação que me está a entusiasmar mais. As novas canções têm
uma identidade bastante diferente das anteriores, e misturando umas
com as outras, cria-se um espetáculo interessante. Se juntarmos o
facto de termos montado um espetáculo de luzes para a tournée do
«Mitra», a experiência vai ser diferente para quem já assistiu a um
concerto de Paus e vai surpreender quem vir pela primeira vez.
No vosso currículo estão
vários concertos no estrangeiro. Nos próximos tempos vão ter
apresentações fora de portas?
Sim, no mês de fevereiro e
princípio de março estamos em tournée por Portugal. Depois vamos
ter várias datas em França, Holanda e Bélgica. Seguem-se outros
concertos que serão anunciados a seu tempo. Espanha está na mira.
No verão temos confirmado o NOS Alive e certamente outros
espetáculos que serão anunciados até lá.
Hugo Rafael (Rádio Condestável) com Tiago Carvalho