Darko em entrevista
Os caminhos da renovação
O ano de 2015 vai assistir ao lançamento do segundo
álbum de Darko, projeto liderado por Zé Manel. O ex-vocalista e
letrista dos Fingertips desvenda os caminhos que conduzem ao novo
«Overexpression», previsto para a primeira metade do
ano.
Que
novidades podemos esperar no álbum que está a ser
preparado?
Há sempre uma aprendizagem
continua, uma vez que cada ano traz a renovação que está na base do
crescimento de qualquer pessoa. Já andamos a trabalhar no novo
álbum há quase dois anos e tem sido uma viagem muito intensa e
diferente da que vivi nos discos anteriores. Temos procurado novos
caminhos, tentado desafiar-nos um bocadinho.
O
disco já tem data de edição?
Se tudo correr como nós
esperamos, o disco sairá em abril ou em maio deste ano. Até lá
queremos ir envolvendo os fãs no processo de apresentação do disco.
Iremos promover alguns passatempos para que as pessoas que gostam
mais do nosso trabalho tenham acesso privilegiado a musicas e a
informação. Vamos também gravar um documentário que será lançado
por episódios no YouTube, onde falamos sobre o processo de
composição das músicas e apresentamos algumas versões
acústicas.
«Crying Out» é o primeiro cartão de visita e já está a ser
divulgado.
Lancei o «Crying Out» por
alturas do Natal um pouco como prenda para mim próprio, para sentir
que finalmente as músicas começam a deixar de ser nossas para ser
das pessoas. Decidimos apostar neste tema porque faz a ponte entre
o trabalho anterior e o que estamos a fazer agora. As músicas têm
surgido de forma muito espontânea e posso adiantar que a
dificuldade, neste momento, é escolher que canções irão integrar o
disco.
O
single é um dueto com Iolanda Costa. Nos temas gravados há outras
parcerias?
Há mais parcerias no disco,
mas preferia, por agora, guardar segredo para não tirar o efeito
surpresa. Posso dizer vai ter mais duetos, vai ter temas cantados
em português e será um bocadinho diferente do que fiz para trás. É
um disco muito eclético, que aborda sonoridades completamente
diferentes entre si. Temos as baladas a que habituei as pessoas,
mas também canções mais fortes. Embora continue a gostar de
escrever quando estou em baixo, arrisco-me a dizer que este é o
disco mais feliz da minha carreira.
O
know-how adquirido ao longo dos anos de carreira tem sido
fundamental na busca de novas sonoridades?
Claro que sim. Mas também
parte de nós próprios a vontade de nos desafiarmos. Nós, músicos,
vivemos com dúvidas constantes. Às vezes achamos "se é isto que
faço bem então vou fazer sempre isto", mas depois chega uma altura
em que queremos experimentar coisas diferentes. Para mim tem sido
essencial obrigar-me a escrever sobre outras coisas, a ouvir outras
coisas, até porque só assim nos podemos renovar.
A
inspiração que alimenta o processo criativo surge com
facilidade?
É muito imprevisível, visto
que consigo estar um mês ou dois sem compor uma única música e
consigo, numa noite, a jantar em casa com amigos, sentar-me ao
piano e de repente saírem-me duas ou três músicas. Também posso
compor a partir de um poema de que gosto especialmente e me obrigo
a musicar. Não tenho um método fixo.
As
novas tecnologias abriram diversas portas para a divulgação de
música. Os músicos portugueses aproveitam devidamente o potencial
das plataformas digitais?
Cada pessoa deve trabalhar a
sua arte de acordo com os seus princípios. Pessoalmente, acredito
que se queremos crescer e mantermo-nos atualizados devemos ir de
encontro ao que as pessoas procuram. Para quem quer fazer arte
profissionalmente é essencial saber como levá-la até às pessoas.
Por isso, faz todo o sentido recorrer a uma ferramenta como a
Internet para divulgarmos o nosso trabalho.
Significa isso que o disco irá estar disponível numa
plataforma de streaming?
Creio que sim, até porque o
primeiro álbum está no Spotify. Quando abraçámos esta profissão
sabíamos onde nos íamos meter. É uma profissão que tem a sua magia,
mas tem também as suas inseguranças. Acredito que quando
embarracamos nesta viagem tem de ser acima de tudo por amor e não
por uma vida desafogada ou estável. Embora naturalmente tenha
contas para pagar, o mais importante para mim é poder chegar às
pessoas através do que mais gosto de fazer. Depois temos os
concertos, onde somos remunerados por fazer o nosso trabalho, e os
direitos de autor que continuamos a receber.
Em
Portugal os artistas têm cada vez mais dificuldades em conseguir
estabilidade. Em 2015 as coisas poderão melhorar?
O futuro a deus pertence.
Estamos num ponto em que isso é tudo o que podemos dizer [risos]. A
indústria artística sofreu um decréscimo na venda de bilhetes para
espetáculos na ordem dos 70%, e eu compreendo isso. Quando as
pessoas não têm dinheiro para dar de comer aos filhos ou para pagar
a renda, luz ou água, também não têm dinheiro para ir ver concertos
ou peças de teatro. Mas isto também tem um pouco a ver com o lugar
que a cultura ocupa na nossa sociedade. As pessoas não estão
habituadas a pagar por cultura, acham que é uma coisa acessória, em
parte porque, felizmente, têm acesso a ela.
Hugo Rafael - Rádio Condestável
Texto: Tiago Carvalho
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