Entrevista

Carminho
A voz que nasceu no meio do fado
49900593_10156371517625345_8920279471836102656_o.jpgNo seu quinto álbum, Carminho, ou melhor, Maria do Carmo, despe-se de artifícios e revela-se simplesmente «Maria». A voz que nasceu no meio do fado apresenta aos 34 anos o seu trabalho mais pessoal.
 
A digressão do álbum «Maria» tem tido casas cheias. É gratificante?
Sem dúvida! Ter essa adesão ao novo espetáculo, que estamos a levar a vários palcos, significa que as pessoas gostam de nos acompanhar no nosso caminho, confiam no nosso trabalho... e isso é muito gratificante para mim, mas também para a minha banda. Sinto que o público reconhece uma certa consistência no meu trabalho e na minha personalidade.
 
Por falar em personalidade, agora é a vez de dar voz à Maria...
Agora é a vez da Maria (risos)! A Maria do Carmo que, na verdade, sou eu. Por isso, é um disco homónimo. Mas é mais íntimo. O título do álbum reflete esse carácter mais pessoal, porque são as pessoas mais próximas a tratar-me por Maria do Carmo, enquanto Carminho é usado de forma mais universal.
 
Essa maior intimidade está refletida no disco?
Sim. Uma vez que o objetivo foi fazer um disco mais pessoal, este trabalho foi produzido por mim e é aquele em que mais componho. Ao mesmo tempo, o nome Maria remete para a identidade portuguesa, é um nome muito antigo, mas que atravessa gerações e continua atual. E este disco reflete um pouco isso: o meu retorno às raízes do fado, ao que nele me emociona. Quis regressar aos tempos em que vestia o pijama e me sentava no colo do meu pai a ouvir fado; recriar aquilo que me comove, desde o ambiente às histórias, apoiando-me na tradição mas com elementos contemporâneos.
 
São 12 músicas, algumas das quais da autoria da própria Carminho. Era a altura certa para as tirar da gaveta?
Foi isso que senti. O disco tem sete canções da minha autoria, na letra ou quer na música quer na letra. Esse facto é muito gratificante para mim, porque a procura de reportório tem sido um processo continuo. Este foi o momento em que decidi revelar alguns dos fados que fui compondo ao longo da minha vida. Nem todos foram compostos agora. É o reportório que manda mais do eu, e juntei aos meus fados a poesia que fui recolhendo de outras pessoas, incluindo dois inéditos da Joana Espadinha.
 
Além de pessoal, que outras características tem o álbum?
É um disco mais cru, mais minimal, ao contrário da tendência atual do fado, que é acrescentar mais elementos e cruzar sonoridades. Essa abordagem tem trazido muitas alegrias ao fado, mas senti, neste momento, necessidade de depurar o som para chegar à minha voz, a voz que nasceu no meio do fado. Depois vou somando outros instrumentos que preenchem a atmosfera, que ajudam a contar as histórias, a recriar o ambiente das casas de fados.
 
A nova abordagem surge por algum motivo em especial?
Não... Foi o caminho natural da vida. Quando tenho de preparar um disco, deixo-me levar por aquilo que sinto no momento. E depois de ter cantado muitos fados tradicionais e versões, quis fazer um disco mais pessoal, e com inéditos, para ir construindo o meu reportório. Havia coisas que estavam na gaveta até agora, e este foi o momento em que se impuseram.
 
É caso para dizer: "o poeta escreve aquilo que sente, a fadista canta aquilo que sente"?
Exatamente (risos). Entre os fados que fui compondo ao longo do tempo e a poesia que vou recolhendo... este é um disco em que o reportório se impõe à minha pessoa. É mais forte do que eu!
 
Agora é tempo de levar as canções para o palco.
Sim, tem sido muito bom. Temos sido recebidos com muita generosidade pelo público. Dá-nos confiança, a mim e à banda que me acompanha. Entre as canções de sempre e as novas, tem sido uma digressão muito gratificante.
Ricardo Coelho | Tiago Carvalho
Entrevista | Edição de Texto
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