Carminho
A voz que nasceu no meio do fado
No seu quinto álbum, Carminho, ou
melhor, Maria do Carmo, despe-se de artifícios e revela-se
simplesmente «Maria». A voz que nasceu no meio do fado apresenta
aos 34 anos o seu trabalho mais pessoal.
A digressão do álbum
«Maria» tem tido casas cheias. É gratificante?
Sem dúvida! Ter essa adesão ao novo espetáculo, que estamos a levar
a vários palcos, significa que as pessoas gostam de nos acompanhar
no nosso caminho, confiam no nosso trabalho... e isso é muito
gratificante para mim, mas também para a minha banda. Sinto que o
público reconhece uma certa consistência no meu trabalho e na minha
personalidade.
Por falar em
personalidade, agora é a vez de dar voz à Maria...
Agora é a vez da Maria (risos)! A Maria do Carmo que, na verdade,
sou eu. Por isso, é um disco homónimo. Mas é mais íntimo. O título
do álbum reflete esse carácter mais pessoal, porque são as pessoas
mais próximas a tratar-me por Maria do Carmo, enquanto Carminho é
usado de forma mais universal.
Essa maior intimidade
está refletida no disco?
Sim. Uma vez que o objetivo foi fazer um disco mais pessoal, este
trabalho foi produzido por mim e é aquele em que mais componho. Ao
mesmo tempo, o nome Maria remete para a identidade portuguesa, é um
nome muito antigo, mas que atravessa gerações e continua atual. E
este disco reflete um pouco isso: o meu retorno às raízes do fado,
ao que nele me emociona. Quis regressar aos tempos em que vestia o
pijama e me sentava no colo do meu pai a ouvir fado; recriar aquilo
que me comove, desde o ambiente às histórias, apoiando-me na
tradição mas com elementos contemporâneos.
São 12 músicas, algumas
das quais da autoria da própria Carminho. Era a altura certa para
as tirar da gaveta?
Foi isso que senti. O disco tem sete canções da minha autoria, na
letra ou quer na música quer na letra. Esse facto é muito
gratificante para mim, porque a procura de reportório tem sido um
processo continuo. Este foi o momento em que decidi revelar alguns
dos fados que fui compondo ao longo da minha vida. Nem todos foram
compostos agora. É o reportório que manda mais do eu, e juntei aos
meus fados a poesia que fui recolhendo de outras pessoas, incluindo
dois inéditos da Joana Espadinha.
Além de pessoal, que
outras características tem o álbum?
É um disco mais cru, mais minimal, ao contrário da tendência atual
do fado, que é acrescentar mais elementos e cruzar sonoridades.
Essa abordagem tem trazido muitas alegrias ao fado, mas senti,
neste momento, necessidade de depurar o som para chegar à minha
voz, a voz que nasceu no meio do fado. Depois vou somando outros
instrumentos que preenchem a atmosfera, que ajudam a contar as
histórias, a recriar o ambiente das casas de fados.
A nova abordagem surge
por algum motivo em especial?
Não... Foi o caminho natural da
vida. Quando tenho de preparar um disco, deixo-me levar por aquilo
que sinto no momento. E depois de ter cantado muitos fados
tradicionais e versões, quis fazer um disco mais pessoal, e com
inéditos, para ir construindo o meu reportório. Havia coisas que
estavam na gaveta até agora, e este foi o momento em que se
impuseram.
É caso para dizer: "o
poeta escreve aquilo que sente, a fadista canta aquilo que
sente"?
Exatamente (risos). Entre os fados que fui compondo ao longo do
tempo e a poesia que vou recolhendo... este é um disco em que o
reportório se impõe à minha pessoa. É mais forte do que eu!
Agora é tempo de levar as
canções para o palco.
Sim, tem sido muito bom. Temos sido recebidos com muita
generosidade pelo público. Dá-nos confiança, a mim e à banda que me
acompanha. Entre as canções de sempre e as novas, tem sido uma
digressão muito gratificante.
Ricardo Coelho | Tiago Carvalho
Entrevista | Edição de Texto
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