Bruno Nogueira, comediante
Rir na cara do medo
Os portugueses conhecem Bruno Nogueira
dos palcos, da televisão, da rádio e até da música. "Depois do
Medo" marca o regresso do comediante ao stand up e tem esgotado
auditórios em todo o país.
Parecendo que não, quando começamos a recordar tudo o que
já fizeste, já tens uma carreira com alguns anos...
Às vezes parece-me que sim, mas não ando a contar.
Um dos teus espetáculos
mais surpreendente é, talvez, "Deixem o Pimba em Paz", uma incursão
pela música. Foi um grande sucesso, não foi?
Sem dúvida. É um espetáculo que fazemos há cerca de seis anos e
que ainda hoje nos dá muito prazer. O grupo é muito próximo. Sei
que é um cliché que se diz nas entrevistas, mas somos realmente um
grupo muito unido. Cada um de nós tem a sua carreira paralela, mas
o espetáculo "Deixem o Pimba em Paz" é uma espécie de spa que temos
à nossa disposição. Volta e meia juntamo-nos e tiramos o maior
prazer desse projeto. Normalmente, farto-me rapidamente das coisas,
mas esse espetáculo está para durar.
E agora estás a percorrer
Portugal com o stand up "Depois do Medo". Para quem ainda não viu,
como descreves o espetáculo?
É o meu regresso ao stand up. Há 10 anos que não fazia stand up,
pelo menos com um espetáculo original. Fazia muito esporadicamente.
Surgiu-me então a disponibilidade e a vontade de voltar a ter
prazer a fazer stand up, que era uma coisa que eu não tinha já há
muito tempo. Em parte tinha-me afastado do stand up
voluntariamente, por já não estar a ter prazer em fazer esse tipo
de registo. Mas, agora não só reencontrei esse prazer, como está a
ser redobrado por sentir-me mais seguro, uma vez que 10 anos depois
tenho outra forma de estar em palco e na vida. Aproveito o
espetáculo para 'destilar' várias coisas que me atormentam e que -
se tudo correr bem - também mexem com as pessoas na plateia, que se
vão identificar com aquilo que eu estou a falar.
Como é que tem corrido este
espetáculo?
Estou a fazê-lo há pouco mais de um ano e temos esgotado sempre as
apresentações. Dá-me muito prazer levar o "Depois do Medo" a palcos
de todo o país. Agora está a chegar ao fim. Vai terminar no Altice
Arena, em fevereiro.
E porquê o título "Depois
do Medo"?
Durante os 10 anos em que não fiz stand up houve uma primeira
decisão de parar com esse registo, mas depois houve uma segunda
fase em que eu queria voltar, mas o medo de não estar à altura do
que queria apresentar foi-me impedindo de estrear o espetáculo. Foi
uma luta comigo próprio. Depois de ter parado dois ou três anos,
achava que para voltar teria de ser um regresso com o melhor
espetáculo que eu alguma vez tinha feito. Entretanto, fiz as pazes
com o facto de este ser o melhor espetáculo que sei fazer neste
momento. É uma atitude que me aliviou a pressão de começar a
escrever e permitiu ganhar coragem para começar a marcar datas
outra vez.
Portanto, foram mais ou
menos 10 anos a acumular material.
Bem, o acumular de material acontece desde que nasci. Este
espetáculo reflete um conjunto de experiências que todos nós
vivemos e que, no fundo, quem faz comédia tem a oportunidade de
utilizar de uma forma mais produtiva, se calhar.
Ao longo desse tempo
deu para matutar ideias, refletir
sobre os temas a abordar… Em que é que este teu espetáculo difere
dos outros?
Qualquer espetáculo de stand up é uma marca muito própria da idade
que se tem. E ao contrário do desporto, por exemplo, acho que no
stand up a idade vai acrescentando maiores capacidades. À medida
que se vai envelhecendo vai-se melhorando. Há belíssimos
comediantes americanos que, agora nos seus 50 ou 60 anos, estão no
seu topo de forma. A idade vai tirando tudo o que é palha - ou
seja, aquilo que não tem interesse abordar - e depois vai-nos dando
maior segurança, mais material e maior clareza para o colocarmos na
comédia.
Ainda sentes nervosismo na
subida ao palco?
Talvez uns 10 minutos antes de subir ao palco. É uma fase de
reflexão e de concentração para que o discurso seja fluído e as
ideias sejam transmitidas com clareza. Mas já não sinto a ansiedade
que durante anos me afastou do stand up, aliada ao facto estar
saturado na altura. Hoje a vontade de fazer o espetáculo é bem
maior.
O que é que dirias hoje ao
Bruno do início de carreira?
Para descontrair. Vai correr tudo bem. No princípio há uma grande
vontade de agradar, de mostrar todos os truques ao mesmo tempo,
porque se está a começar e se quer marcar uma posição entre os
pares. Acho que um certo apaziguamento era algo que eu tentaria
passar a esse Bruno.
Ricardo Coelho | Tiago Carvalho
Rádio Castelo Branco | Edição de Texto
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