Luísa Sobral
Luísa Sobral tem vindo a afirmar-se na música
portuguesa. Cerca de dois anos depois de lançar o primeiro álbum
The Chery on My Cake, tem um novo trabalho discográfico,There`s a
Flower in my Bedroom. É ela a autora das 17 canções do álbum. com
sonoridades entre o Jazz e o Pop, é Um disco inspirado pois, como
ela gosta de dizer «a arte não deve ser muito pensada».
Foi
fascinante assinar a autoria de todas as músicas deste
trabalho?
Como tinha muitas canções de que
gostava, não senti necessidade de ir buscar outras. Este disco têm
muitas canções - tem 17 - não havia espaço para mais. Decidi por as
minhas músicas todas. O normal para mim é escrever as minhas
canções.
Agrada-lhe
essa faceta de contadora de histórias?
Sim. Gosto muito de ler e acabo por
ficar fascinada por personagens. Acho que a minha vida é
interessante, - obviamente para mim, pelo menos, - mas às tantas
também esgota um bocadinho, as coisas que eu sinto, as coisas que
eu vejo. Gosto de criar pessoas que não são eu, que têm um passado
diferente do meu, que têm razões para fazer o que fazem diferentes
das minhas, que sentem as coisas de maneira diferente. É muito
interessante poder "criar pessoas do nada". É algo que sempre
gostei muito das canções, dos livros e dos filmes e agora gosto de
fazer isso nas minhas próprias canções.
Este disco
apresenta um interessante naípe de colaboradores especiais: Mário
Laginha, António Zambujo e o britânico Jamie Cullum. Foi uma mais
valia para o "recheio" deste disco?
Obviamente que sim. São três
músicos que já admirava muito e que fizeram sentido no disco. Cada
canção pediu essas pessoas. O Zambujo participou numa canção que já
tinha sido escrita para cantar com ele, na altura que a escrevi.
Assim que escrevi a canção The Last One, imaginei-a tocada pelo
Mário. Isso antes de estar a pensar na gravação do disco. Por isso,
não foram aqueles convidados que se sente que são um bocado
impingidos para a o disco, para o tornar mais interessante. Foram
convidados que fizeram todo o sentido para mim, nas específicas
canções onde entraram.
Este disco
é apresentado em três línguas diferentes. As canções têm sentido
apenas na língua onde foram escritas?
A única diferença em termos de
línguas, entre este disco e o anterior, é mesmo o castelhano. Essa
canção surgiu porque fomos fazer uma tournée a Espanha e compus
essa canção para a tournée. Depois divertimo-nos bastante a tocar a
canção, começamos a tocá-la em Portugal e gravámo-la para o disco.
Mas as línguas que me saem naturalmente são o Inglês e o Português.
Português, porque é a minha língua; Inglês, porque vivi nos Estados
Unidos, muitos anos.
A
experiência com o primeiro disco, os espectáculos, todo esse
processo deram-lhe mais Know-how para preparar ainda melhor o
segundo registo da carreira?
Claro que sim. O factor que teve
mais peso neste disco foi estar a tocar há dois anos com estes
músicos. Porque nós construímos este disco todos juntos. As canções
são minhas, mas o disco acabou por ser uma coisa muito nossa. Ao
contrário do primeiro, em que ainda não os conhecia e eles vieram
só gravar as músicas. Mas este disco já foi uma coisa muito nossa:
já estamos a tocar há dois anos, já viajámos bastante todos juntos,
já criámos uma amizade.
Tem viajado
um pouco por toda a parte, é interessante o feed-back dos seus
temas fora de fronteiras?
Sim. É engraçado também ver como as coisas funcionam
de maneira diferente, em países diferentes. Um single em Portugal
não é o mesmo single em Espanha. As músicas que as pessoas gostam
de ouvir, são diferentes. Mas tem corrido mesmo muito bem, lá fora.
As pessoas recebem a nossa música de uma maneira muito especial. O
facto de ser portuguesa também é algo que lhes interessa bastante.
Interessante também é que tanto conseguimos ir a festivais de Jazz,
como festivais de pop. É algo transversal que nos permite chegar a
públicos diferentes.
Além do
mercado português e espanhol, este disco vai chegar a outros
países?
Sim. Este disco vai chegar aos
mesmos países a que chegou o primeiro disco, e a mais. Lançamos o
disco anterior na Inglaterra, na Suiça e na Alemanha. Este disco
vai sair também em França e nos Estados Unidos. Vamos só adicionar
países aos do disco anterior.
Passaram
dois anos desde o primeiro disco. Esse trabalho ainda se ouve
bastante?
O primeiro disco foi disco de
platina, uns meses antes do segundo disco sair. Isso para mim é
incrível, porque já passaram dois anos e as pessoas continuam a
comprar. Senti que a minha carreira está a ser exactamente como eu
queria. Nunca fui um "Boom", daqueles em que de repente toda a
gente sabe a minha música, sabe quem eu sou. Foi uma coisa gradual,
que as pessoas foram conhecendo. Não gosto desses disparos de
sucesso, não gosto de extremos. De repente toda a gente ouve e de
repente já ninguém ouve. Tem sido algo bem construído. As pessoas
continuam a conhecer o meu trabalho, e, para mim, isso é muito
interessante.
Recentemente afirmou que "a arte não deve ser muito pensada".
Gostava que explicasse o sentido da sua opinião…
Há fases em que estamos a aprender
as técnicas de cada artista e aí temos de pensar. Eu acredito muito
na educação e na arte, estive na universidade a estudar música. Mas
a partir daí, a arte não é uma coisa pensada, é uma coisa vivida, é
uma coisa sentida. Quando estou a compor ou a tocar, a minha ideia
não é pensar no que estou a fazer, é sentir o que estou a fazer. Se
a arte for muito pensada não é arte. A arte é usar as técnicas que
aprendemos, sem pensar nelas.
Para 2013
para além da promoção do disco há mais projectos no horizonte?
O nosso projecto é tocarmos em
Portugal e começarmos a tournée lá fora, em Outubro. Os meus
objectivos para 2013 são esses. E continuar a compor.
Tem sido
positivo o feed-back dos media ao mais recente disco?
Sempre tive muito apoio. Mas ao
falar com outros colegas de profissão, eles dizem que, por vezes,
não é assim tão fácil. Há pessoas que não gostam de nós, ou vêm
entrevistar-nos com uma imagem pré-definida e querem provar que
estavam certos. Mas nunca me aconteceu, nunca senti isso. Senti que
as pessoas gostavam do meu trabalho, ou pelo menos tinham respeito
por ele. Sempre tive entrevistas muito simpáticas e resultados
muito simpáticos, depois dessas entrevistas.
Às vezes, apoiam-se mais aqueles
músicos que vendem pouco, alegando: "É independente, temos de
apoiá-lo"; "Se vende mais é porque não é bom"; "Tudo o que é
comercial não presta". Não senti isso comigo. Eu também não estou
em nenhum dos pólos, nem no independente, nem no mainstream. Se
calhar, também é mais fácil gostarem de mim.
Hugo Rafael (Rádio Condestável)
Texto: Eugénia Sousa
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