Entrevista

Entrevista
Um segundo de amor na vida de Rita Redshoes

capa.jpg«Life Is a Second of Love» marca o regresso de Rita Redshoes aos discos depois dos bem sucedidos «Golden Era» (2008) e «Lights & Darks» (2010). Ao terceiro trabalho de originais, a cantora e compositora portuguesa atinge o seu mais alto ponto de maturidade artística.

«Life is a Second of Love» é o novo álbum de Rita Redshoes. Como foi o processo de gravação?

Foi toda uma experiência nova em torno deste disco. Experimentei processos diferentes de trabalho, como trabalhar com um produtor com quem nunca tinha trabalhado [o brasileiro Gui Amabis] e, pela primeira vez, não participar na produção do álbum. Também o nome do disco não me surgiu com a antecedência com que surgiu nos trabalhos anteriores. Estava nas semanas finais de gravação e ainda não tinha o nome. Sabia apenas que queria começar o disco a cantar a capella. Vasculhei no meu telefone por gravações antigas e lá estava a introdução que abre o disco, onde canto a frase «life is a second of love», que faz imenso sentido para intitular o disco. Representa o sentimento geral que paira sobre todos os temas.

O disco de estreia foi editado em 2008, dois anos depois surgiu o segundo e «Life is a Second of Love» é lançado em 2014. O espaço entre edições passou, portanto, de dois para quatro anos. Que razões estiveram por detrás dessa mudança?

Confesso que não tive essa sensação [risos]. E, de repente, ouvir que se passaram quatro anos até que eu editasse um novo disco... parece-me imenso tempo. Mas durante esses quatro anos fiz imensas coisas, desde bandas sonoras para cinema a teatro infantil. Foram experiências a outros níveis onde a minha criatividade musical também foi explorada. Na verdade, só agora senti que tinha chegado o momento de lançar um disco novo. Quando não sinto isso, prefiro não o fazer. Todos os meus discos têm uma ligação muito visceral àquilo que vou vivendo e àquilo que vou sentido.

O disco foi gravado entre Portugal e o Brasil. Como foi trabalhar em terras de Vera Cruz?

Foi quase como encontrar uma nova família musical do outro lado do Atlântico. Tive a sorte de me cruzar com excelentes músicos brasileiros e deles contribuírem, de uma forma muito importante, para o disco a nível musical. Foram de uma disponibilidade e de uma generosidade imensas. Consegui encontrar pessoas que me entenderam perfeitamente, depois de discutirmos a sonoridade pretendida. E essa energia passou para as canções.

A viagem ao Brasil deu ainda origem a uma colaboração especial na canção «Curve Dance Dreams», com o produtor do disco e músico Gui Amabis.

Sim. Gui Amabis é o produtor do disco. A determinada altura perguntou-me se faria sentido incluir no álbum uma canção que ele tinha escrito há algum tempo. Como o tema se integrava perfeitamente no ambiente do disco, eu disse que sim. E que faria mais sentido ainda que ele a cantasse comigo. É um momento muito especial do disco.

No passado mês de maio este álbum começou a ser apresentado ao vivo. Tem tido um bom feedback em relação às novas canções?

Sim. Estou muito feliz com o feedback obtido. Em particular por parte do público que vai aos concertos, que vem ter comigo e que me escreve. Agradeço imenso terem esse interesse no meu trabalho. E há ainda outras pessoas que se cruzaram comigo, que me entrevistaram e que me têm dito que o disco tem um tom bastante pessoal e emocional. Não há maior elogio, depois de ter trabalhado nestas canções, do que alguém me dizer que a minha música mexe consigo.

O primeiro single deste novo registo, «Broken Bond», tem tido muito airplay nas rádios portuguesas. Está feliz com esse apoio?

Rita-Redshoes_Black-Wall_by.jpgMuito feliz. Acho que sou muito sortuda em ter, quer por parte do público, quer por parte da imprensa, pessoas atentas àquilo que vou fazendo. O facto da música passar nas rádios e assim chegar de uma forma mais eficaz às pessoas deixa-me muito honrada.

A escolha do próximo single já está definida?

É o tema «White Lies». A escolha do primeiro single foi muito emotiva. Acho que o «Broken Bond» foi um ótimo cartão de visita do disco. Como o feedback tem sido bastante positivo em relação ao «White Lie», parece-nos a escolha mais óbvia para segundo single. Este disco revela uma maior maturidade por parte da Rita, bem como um lado muito pessoal.

Sim, os anos foram passando e, portanto, eu envelheci. Não há como dar a volta a isso [risos]. Mas acho que todo esse processo trouxe coisas bastante positivas ao meu trabalho. Sinto-me mais segura naquilo que procuro, na forma como consigo reproduzir, na música e na escrita, aquilo que quero dizer. Até na forma como canto. Nestas canções consegui encontrar um espaço que há muito procurava para a minha voz. Foram anos de muito trabalho e muitas peripécias a nível pessoal que contribuíram para que, inevitavelmente, crescesse. Isso reflete-se na minha música.

Na turné de 2014 haverá muitas oportunidades para ouvir ao vivo as novas músicas?

Espero que sim. Estamos a atravessar uma fase muito complexa no país. Não batendo na tecla da crise, é uma realidade com a qual nós também estamos a lidar e para a qual vamos tentando encontrar soluções. Mas espero que haja essas oportunidades, porque tenho muito gosto em partilhar as canções com o público de norte a sul do país.

No horizonte poderá estar a edição do disco noutros países, dado que o álbum tem o selo da Universal, a maior multinacional da indústria musical. Poderão surgir atuações fora de Portugal?

Sim. No próximo mês de julho vou estar em Espanha. Há algum trabalho feito nesse sentido, que já nos outros discos houve. Temos a intenção de continuar o trabalho de internacionalização da minha música, com todas as dificuldades que isso acarreta. Sempre que a minha música chegou a outros países foi muito bem recebida. Há já algumas pessoas, sobretudo na Europa, que seguem a minha carreira.

Não resisto em pedir a opinião da Rita sobre a pirataria na Internet, dado que é a porta-voz da Associação Fonográfica Portuguesa.

É uma questão delicada. Muitas coisas mudaram nos últimos anos. A Internet veio trazer uma nova realidade à vida das pessoas, a todos os níveis. Acho que nós - a indústria musical - tardámos em compreender essas alterações e em precaver-nos. É, de facto, cada vez mais difícil vender discos. A indústria musical está a passar por uma crise enorme, a somar à crise geral. A minha postura nunca é de punir as pessoas. Aquilo que eu acho que devia ser feito, é uma ação de sensibilização junto das pessoas para que valorizem o processo artístico. Explicar quais são os processos que estão por detrás das vendas dos discos, do que é que os artistas vivem. Para dar o meu exemplo, este disco tem o selo da Universal mas é licenciado. Quem pagou de facto o disco - refiro-me a pagar aos músicos, pagar o estúdio e todas as outras coisas inerentes à gravação de um disco - fui eu. Portanto, é um investimento meu. Para reaver esse investimento, preciso que se vendam discos. Isso contribui para que possa gravar outro.

E quanto aos sites de streaming? Trata-se de uma boa divulgação ou na componente económica - aquela que acabou de focar - os artistas também não têm o retorno ideal?

Ainda é muito cedo para se ter uma posição fechada sobre isso. Está-se ainda a trabalhar nas leis que estão por detrás de como esse dinheiro é gerado e distribuído. Acho que esses sites de streaming são uma forma diferente de ouvir música, que ajuda mais do que os discos estarem disponíveis para download em sites ou blogues. Ainda para mais tem-se trabalhado no sentido de haver uma remuneração para os músicos que disponibilizam as suas músicas nesses sites.

Entrevista: Hugo Rafael (Rádio Condestável)
Texto: Tiago Carvalho
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