Jorge Palma: 70 voltas ao sol
Jorge Palma fez 70 anos e os seus amigos reuniram-se
nas redes sociais para lhe dar os parabéns. Marcelo Rebelo de
Sousa, o presidente da República, também lhe deixou uma mensagem em
vídeo, tal como muitos outros companheiros desta viagem, como
Sérgio Godinho, TIM, Vitorino, Rui Veloso, Herman José, Camané,
Carlão, Marisa, Teresa Salgueiro, Carlos Tê, David Fonseca, Luís
Represas, Marisa Liz… e tantos tantos outros. Afinal são os 70 anos
de Jorge Palma!
É dos músicos portugueses mais
brilhantes. Interventivo nas letras que compõe, melodioso nas
músicas que escreve. Irreverente. Figura incontornável da música
portuguesa, com uma carreira de mais de 45 anos, marcada por êxitos
como «Deixa-me Rir», «Bairro do Amor», «Estrela do Mar" ou
«Jeremias, o Fora da Lei». Os concertos realizados não têm fim.
Muitos espetáculos pelo mundo, muitas fitas queimadas em festas de
estudantes. Muita intervenção. Boa disposição. O Ensino Magazine
associa-se à festa. Parabéns Jorge! Aqui ficam algumas ideias
partilhadas, em entrevistas, neste nosso espaço, entre 1999 e 2020.
Siga a música e venham mais discos.
"O meu primeiro disco foi gravado
em 1972, em Inglês. De lá para cá, houve grandes evoluções, que
corresponderam a fases e experiências que fui tendo ao longo do
tempo e que reflecti nos discos que foram saindo. Os trabalhos que
fiz são, aliás, a História da minha vida e de outras vidas com as
quais me cruzei. Em cada momento, apresentei aquilo que eu próprio
considerava mais adequado ao que sentia e pensava. Nunca enveredei
por domínios que não eram intrinsecamente os meus. Acima de tudo,
respeitei e respeito o meu modo de ver o mundo. E isso o público
reconhece, tal como o observaria se o não fizesse". É desta forma
que Jorge Palma fala do processo criativo.
As palavras foram ditas em 2002.
Da prosa da época, continuam ideias atuais: "Aflige-me a violência
que cada vez mais domina no mundo, afetando os jovens e, no fundo,
toda a gente. É impressionante o estado a que o mundo chegou em
termos de agressividade gratuita e inútil, visível diariamente nas
mais diversas situações. É confrangedor os níveis de violência que
se verificam um pouco por todo o lado e que a comunicação social
nos transmite em bruto", acrescentaria.
A conversa, uma das muitas que
tivemos com Jorge Palma, nos últimos 22 anos, prosseguiu:
Que papel pode a música ter na
inversão da situação?
É capaz de influenciar as
mentalidades e os comportamentos das pessoas, mas, infelizmente, a
longo prazo. Os seus efeitos são muito lentos e graduais. A
economia tem repercussões bastante mais amplas e rápidas. Os
artistas têm uma função de contribuírem para combater a violência
entre as pessoas, é essa a função que lhes cabe desempenhar dentro
das suas possibilidades e limitações. A música tem potencialidades,
em termos de formação, à semelhança, aliás, do que acontece com
outros níveis como a Educação e a Cultura em geral. Os artistas não
se podem demitir de um papel de intervenção sobre as questões que
afectam o mundo e as pessoas, dada a repercussão pública que a sua
actividade exerce. Da minha parte, nunca ignorei o que se passa na
sociedade e continuarei atento às evoluções que se forem registando
e aos problemas mais prementes que se colocarem a cada momento. São
questões hoje, naturalmente, diferentes de antigamente mas que
devem ser encaradas de frente, sem receios, porque é o melhor ponto
de partida para os solucionar.
Como classifica o seu tipo de
música?
Simplesmente como boa. Saber se
se destina sobretudo aos mais jovens ou a públicos de outras faixas
etárias é uma questão a que não sei responder bem. Na minha
perspetiva, a música que faço é para aqueles que ainda vão nascer.
Significa isto que me importa que os meus trabalhos sejam úteis
para as novas gerações e possam contribuir, por pouco que seja,
para virem a ter uma mentalidade mais aberta ao mundo, pautada por
princípios e valores que julgo serem correctos.
Não é uma missão exclusiva da
música. A Pintura, a Escultura, a Literatura e outras áreas podem
exercê-la também, embora através de formas diferenciadas e
específicas a cada área. De resto, não me preocupa empreender
qualquer tarefa de "catalogação" da música que faço, porque não
considero que tal se revele adequado. Os meus trabalhos contêm
múltiplas influências e elementos que são provenientes de diversas
áreas musicais. Os nomes que colocam ao tipo de trabalho que
realizo não é algo a que atribua especial importância, porque não
altera o seu conteúdo, nem a forma como o público os analisa. Esta
é, pelo menos, a minha profunda convicção e actuo em função de tal
perspectiva.