Entrevista

x-wife em entrevista
X- Wife: A Década Dourada

x-wife.jpgUm dos pontos fortes, em termos de promoção do último disco, foi a campanha radiofónica. O primeiro single teve muito airplay nas rádios…

É verdade. Os singles são normalmente escolhidos pela editora, para ver o que funciona melhor nas rádios. As rádios acabam por ter um papel muito importante na promoção. Penso que foi um single bem escolhido. É fresco, aponta uma nova direcção, e, ao mesmo tempo, mostra que há uma linha de continuidade com os trabalhos anteriores.

É cada vez mais difícil internacionalizar um projecto, onde por um lado está o custo das viagens e por outro a grande concorrência, pois todos os dias são conhecidos novos projectos?

Essa pergunta dava para um documentário ou um programa de televisão. Vou tentar sintetizar o máximo possível. Hoje em dia é muito mais fácil editar um disco. Qualquer pessoa consegue gravar um disco, com uma qualidade razoável, em casa, com um software acessível. Já não são precisos os grandes estúdios para gravar bons discos. A criatividade acaba por ser o ponto mais importante num disco. Nasceram tantos projectos novos, por esta facilidade: as edições de autor, a Internet, as pessoas disponibilizarem a sua música. Antigamente, havia a filtragem muito maior por parte das editoras, hoje, qualquer pessoa pode editar. Depois, com a quantidade de projectos que há, torna-se difícil fazer com que as editoras estrangeiras tenham motivos para assinar com uma banda, que esteja a três ou quatro mil quilómetros. Os trunfos têm de ser as bandas apostarem numa sonoridade que tenha alguma coisa das suas raízes. Por exemplo, os Buraka Som Sistema, são das bandas nacionais que estão a ter sucesso lá fora. Acabam por fazer uma fusão de World Music, com música de dança. Estão a fazer algo diferente e de muito característico. No nosso caso, que estamos a fazer música que se faz nos Estados Unidos, Inglaterra, e outros países, a competição é muito maior. Ainda para mais com a grave crise que estamos a atravessar, também a nível de venda de discos, faz com que as editoras apostem cada vez menos em projectos que se tornam dispendiosos.

Por falar no futuro, o vosso som tem grandes raízes rock. Como é que imagina a vossa música no futuro? Principalmente o rock clássico, com as mistura das novas sonoridades?

O rock é o género musical que nunca vai passar de moda. O rock esteve sempre aí e esteve sempre bem representado por inúmeras bandas, que continuam a marcar. Há outros estilos de música que marcam décadas e depois passam completamente de moda. Mas, o rock acaba por ser um estilo musical quase como o jazz, a pop, a bossa nova. É um estilo que está sempre actual. Mesmo quando soa a rock dos anos 70 ou 80.

O vosso projecto conta com dez anos de carreira. Este aniversário tem um significado especial?

É muito especial. Ainda no outro dia estávamos a começar, a gravar o primeiro EP e já se passaram dez anos. É especial por quatro pessoas estarem juntas durante tanto tempo a fazer música, a tocarem, andarem em viagem. Ainda nos manteremos juntos e com vontade de continuar a fazer música. Mas, ao mesmo tempo, também sinto que se fecha um ciclo. Há um trabalho que foi feito e há uma nova etapa. Há uma vontade de mudar e fazer coisas novas. São quatro discos bem conseguidos, cada um à sua maneira. Nota-se uma evolução de disco para disco, em termos musicais, de produção e sonoridade. É óptimo olhar para trás e ver que foram dez anos bem passados.

Consegue escolher dois ou três pontos fortes de melhores memórias destes dez anos?

A primeira vez que ouvi a nossa música, na rádio, foi um ponto muito forte. Há uns anos atrás, uma banda ter um contracto discográfico e passar na rádio era uma coisa muito especial. Hoje em dia está mais banalizado. Quando ouvi pela primeira vez uma música nossa na rádio foi uma sensação muito especial. Um segundo momento, posso dizer que foi a nossa chegada a Nova Iorque, na primeira vez que fomos lá tocar. Foi um período da nossa carreira de muita motivação, de muita frescura e inocência. E talvez o último momento tenha sido, no ano passado, quando tocámos na Praça do Comércio. Fizemos a primeira parte da Joss Stone e tocámos para 50 mil pessoas. São momentos que são merecidos, pois trabalhamos para isso. Os objectivos foram alcançados e estamos felizes com o resultado.

A vossa prenda de aniversário vai ser um espectáculo ao vivo?

Sim. Pensamos em fazer um espectáculo diferente. Vai ser uma retrospectiva de toda a nossa carreira. Vai incluir a caixa de ritmos, como iniciámos; vamos ter convidados que nos acompanharam e partilharam palcos connosco; passar música que nos influenciou nestes dez anos; e mais algumas surpresas. Criar um ambiente de celebração, e, não só, um concerto.

Os convidados especiais serão mais um aperitivo extra para a noite e para o espectáculo?

É também para mostrar que há cumplicidade e companheirismo entre os músicos portugueses. Em alturas difíceis, temos de nos juntar e apoiar uns aos outros. Reconhecer o trabalho dos outros e valorizá-lo. As pessoas que convidamos são pessoas que respeitamos muito e que, de certa forma, foram importantes para a nossa carreira.

O espírito de parceria está cada vez mais presente entre os músicos portugueses?

Portugal é um país muito pequeno. As bandas têm de colaborar umas com as outras, têm de se envolver em mais do que um projecto, se querem seguir uma carreira como músicos. Tem de haver a tal cumplicidade e companheirismo. O que eu noto cada vez mais é colaborações entre vários músicos. Músicos que tocam em duas ou três bandas e vão tocar no disco de outros, ou nos concertos. Nunca se sentiu tanto o espírito de companheirismo, como agora.

X-Wife press foto 2.jpgAlém deste concerto vão existir mais iniciativas para comemorar os dez anos de carreira?

Este é o primeiro concerto, de vários concertos, que vamos fazer dos dez anos. Calhou ser Lisboa, pois já estava combinado há bastante tempo. Vamos terminar esta tour no Porto, que é a nossa cidade. Foi aqui que a banda nasceu e cresceu e actuou pela primeira vez. Vamos tocar temas e algumas versões que nunca fizemos. Terminamos aqui no Porto, talvez para o fim do ano.

Ao longo desta década tiveram sempre uma boa relação com os fãs?

Acho que sim. Fomos sempre bastante terra a terra, disponíveis, tivemos sempre uma ligação bastante directa, sem grandes vedetismos. Uma relação muito normal. Fomos conhecendo as pessoas que nos foram ajudando, ao longo dos anos, que foram dando a conhecer a nossa música aos amigos, levaram-nos para os concertos. A relação com os fãs é algo muito importante e para respeitar. São eles que nos mantém no activo. As redes sociais também fazem com que seja fácil manter essa relação.

Hugo Rafael
Eugénia Sousa
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