Novo disco a solo do ex-Da Weasel
Chegou a hora do entretenimento? Carlão tem a resposta!
Carlão tem um disco novo. O mais recente
álbum a solo do antigo vocalista dos Da Weasel, lançado aos 43
anos, tem por título «Entretenimento?». Vem com este ponto de
interrogação no fim e procura respostas no cruzamento de universos
musicais.
Há quem diga que depois dos «Quarenta» (álbum anterior) é
que vem o «Entretenimento?» Será assim, Carlão?
Depois dos 40 vêm sobretudo muitas perguntas… (risos). Uma dessas
perguntas é o que é hoje em dia o entretenimento e se eu faço parte
dele. Por isso, usei a interrogação no título do disco. É uma
questão que me vem assolando desde há uns anos.
É a partir dessa
interrogação que é construído o álbum?
Mais ou menos. O tema «Entretenimento?» terá surgido a
meio do processo. Mas entendi que poderia englobar o disco todo,
até porque uma das questões é, por exemplo, se eu fizer uma música
de amor aparentemente inócua pode esta ser considerada
entretenimento, tal como uma música que fale sobre depressão? É um
disco muito diversificado, com aspetos que tenho a certeza que
podem ser considerados entretenimento e outros que tenho
dúvidas.
É caso para dizer que é a
era da «#Demasia», como diz o primeiro single deste novo
disco?
Sim (risos). Estamos a viver numa altura em que a imagem
tem mais poder do que outra coisa qualquer, mas essa imagem é
muitas vezes manipulada para se obter "likes" no Instagram ou no
Facebook. Há muita "demasia" nas redes sociais e fora delas
também.
As redes sociais são uma
nova forma de entretenimento?
Exactamente. Eu uso bastante as redes sociais e reconheço
nelas um veículo importante, não só para uso profissional, mas
também, por exemplo, para dar voz a movimentos que não a teriam de
outra forma. O lado menos bom é do que falo no tema «#Demasia». As
redes sociais colocam uma pressão gigantesca na adolescência, que é
um período que já de si é complicado. Os jovens sentem que têm de
estar sempre bem nas redes sociais, mostrar sempre caras lindas e
só os aspetos bons da vida. Estarmos tão dependentes da aprovação
dos outros para sermos felizes! Isso preocupa-me quando olho para
aquilo que foi a minha adolescência, com todos os seus problemas, e
a pressão acrescida que as redes sociais trariam.
A sociedade contemporânea
está sempre presente nos teus trabalhos. É a atualidade que te
move?
Sim, sem forçar muito isso. As preocupações atuais vão
passando pela cabeça e depois transitam para as páginas. As canções
nascem daquilo que vou experienciando, desde as minhas vivências
pessoais até aos relatos, opiniões e perguntas que vou absorvendo
no dia a dia.
Como foi o processo
criativo até chegar ao «Entretenimento?»
Foi um processo que demorou algum tempo e que contou com a
colaboração de muita gente. Tal como no meu disco anterior, mas
talvez de uma maneira mais bem conseguida, houve a colaboração com
vários artistas de que gosto bastante. Quis que contribuíssem para
o meu disco, não só naquela coisa de ter um convidado que vem
cantar um refrão, mas irem mais além. Isso é mais flagrante no caso
do Manel Cruz, do António Zambujo e mesmo do Slow J. Antes de tudo,
eu sou fã deles enquanto músicos e queria que trouxessem o seu
universo para o meu disco. Isso permitiu-nos criar um novo universo
a partir de dois universos que se cruzam. Estou muito satisfeito
com o resultado final.
As colaborações também te vão abrindo a
outros géneros musicais?
Precisamente. Essa abertura sempre pautou a minha maneira
de estar na música - ir beber a várias fontes. A minha "escola
musical" é feita de projetos com sonoridades muito diferentes. Mais
do que gratificante, é o que faz sentido para mim. É-me difícil
fazer um disco de hip hop puro e duro porque não sou o típico
rapper, a minha escola passa muito pelo rock e outras
influências.
Ainda vale a pena fazer
discos?
A resposta que este álbum tem recebido diz-me que sim. As
pessoas gostam bastante dele. Eu sei que hoje em dia temos pouco
tempo, disponibilidade ou mesmo vontade de ouvir um disco do
princípio ao fim. Mas, para mim, é muito importante fazer álbuns.
Vou continuar a fazê-los e acho que a resposta de quem os ouve é
muito positiva.
Este é o álbum da tua
vida?
Não sei (risos). Na altura do anterior "Quarenta" estava
bastante satisfeito com o disco, mas agora reconheço que houve uma
evolução neste "Entretenimento?". Estou mais contente com a forma
como as canções soam. São pedaços da minha vida, das minhas
histórias, envoltos em música de muita gente diferente. Embora
tenha uma forte ligação ao hip hop, é um disco muito eclético e com
bases sonoras muito diferentes.
Agora espero que o próximo disco seja ainda melhor!
Ricardo Coelho
Edição de texto: Tiago Carvalho
Carlão (Facebook Oficial)