Entrevista

Novo disco a solo do ex-Da Weasel
Chegou a hora do entretenimento? Carlão tem a resposta!

30628963_842141969328357_622367089339924480_o.jpgCarlão tem um disco novo. O mais recente álbum a solo do antigo vocalista dos Da Weasel, lançado aos 43 anos, tem por título «Entretenimento?». Vem com este ponto de interrogação no fim e procura respostas no cruzamento de universos musicais.

Há quem diga que depois dos «Quarenta» (álbum anterior) é que vem o «Entretenimento?» Será assim, Carlão?
Depois dos 40 vêm sobretudo muitas perguntas… (risos). Uma dessas perguntas é o que é hoje em dia o entretenimento e se eu faço parte dele. Por isso, usei a interrogação no título do disco. É uma questão que me vem assolando desde há uns anos.

É a partir dessa interrogação que é construído o álbum?
Mais ou menos. O tema «Entretenimento?» terá surgido a meio do processo. Mas entendi que poderia englobar o disco todo, até porque uma das questões é, por exemplo, se eu fizer uma música de amor aparentemente inócua pode esta ser considerada entretenimento, tal como uma música que fale sobre depressão? É um disco muito diversificado, com aspetos que tenho a certeza que podem ser considerados entretenimento e outros que tenho dúvidas.

É caso para dizer que é a era da «#Demasia», como diz o primeiro single deste novo disco?
Sim (risos). Estamos a viver numa altura em que a imagem tem mais poder do que outra coisa qualquer, mas essa imagem é muitas vezes manipulada para se obter "likes" no Instagram ou no Facebook. Há muita "demasia" nas redes sociais e fora delas também.

As redes sociais são uma nova forma de entretenimento?
Exactamente. Eu uso bastante as redes sociais e reconheço nelas um veículo importante, não só para uso profissional, mas também, por exemplo, para dar voz a movimentos que não a teriam de outra forma. O lado menos bom é do que falo no tema «#Demasia». As redes sociais colocam uma pressão gigantesca na adolescência, que é um período que já de si é complicado. Os jovens sentem que têm de estar sempre bem nas redes sociais, mostrar sempre caras lindas e só os aspetos bons da vida. Estarmos tão dependentes da aprovação dos outros para sermos felizes! Isso preocupa-me quando olho para aquilo que foi a minha adolescência, com todos os seus problemas, e a pressão acrescida que as redes sociais trariam.

A sociedade contemporânea está sempre presente nos teus trabalhos. É a atualidade que te move?
Sim, sem forçar muito isso. As preocupações atuais vão passando pela cabeça e depois transitam para as páginas. As canções nascem daquilo que vou experienciando, desde as minhas vivências pessoais até aos relatos, opiniões e perguntas que vou absorvendo no dia a dia.

Como foi o processo criativo até chegar ao «Entretenimento?»
Foi um processo que demorou algum tempo e que contou com a colaboração de muita gente. Tal como no meu disco anterior, mas talvez de uma maneira mais bem conseguida, houve a colaboração com vários artistas de que gosto bastante. Quis que contribuíssem para o meu disco, não só naquela coisa de ter um convidado que vem cantar um refrão, mas irem mais além. Isso é mais flagrante no caso do Manel Cruz, do António Zambujo e mesmo do Slow J. Antes de tudo, eu sou fã deles enquanto músicos e queria que trouxessem o seu universo para o meu disco. Isso permitiu-nos criar um novo universo a partir de dois universos que se cruzam. Estou muito satisfeito com o resultado final.

16903297_654234158119140_4861169651782232913_o.jpgAs colaborações também te vão abrindo a outros géneros musicais?
Precisamente. Essa abertura sempre pautou a minha maneira de estar na música - ir beber a várias fontes. A minha "escola musical" é feita de projetos com sonoridades muito diferentes. Mais do que gratificante, é o que faz sentido para mim. É-me difícil fazer um disco de hip hop puro e duro porque não sou o típico rapper, a minha escola passa muito pelo rock e outras influências.

Ainda vale a pena fazer discos?
A resposta que este álbum tem recebido diz-me que sim. As pessoas gostam bastante dele. Eu sei que hoje em dia temos pouco tempo, disponibilidade ou mesmo vontade de ouvir um disco do princípio ao fim. Mas, para mim, é muito importante fazer álbuns. Vou continuar a fazê-los e acho que a resposta de quem os ouve é muito positiva.

Este é o álbum da tua vida?
Não sei (risos). Na altura do anterior "Quarenta" estava bastante satisfeito com o disco, mas agora reconheço que houve uma evolução neste "Entretenimento?". Estou mais contente com a forma como as canções soam. São pedaços da minha vida, das minhas histórias, envoltos em música de muita gente diferente. Embora tenha uma forte ligação ao hip hop, é um disco muito eclético e com bases sonoras muito diferentes.
Agora espero que o próximo disco seja ainda melhor!

Ricardo Coelho
Edição de texto: Tiago Carvalho
Carlão (Facebook Oficial)
 
 
Edição Digital - (Clicar e ler)
 
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