Entrevista

«Uma banda é como ter uma namorada»

capa.jpgInfluenciados pelo rock progressivo e psicadélico, os Lotus Fever são quatro jovens portugueses que acabam de editar o seu disco de estreia. «Search for Meaning» foi financiado pelos fãs e contagia com a sua febre de rock. Tem a palavra o teclista, Bernardo Afonso.

Os Lotus Fever são uma jovem banda portuguesa. Qual tem sido o vosso percurso?

Tocamos juntos há cerca de três anos. Depois de compormos os primeiros temas originais, gravámos há cerca de dois anos e meio o nosso primeiro EP [«Leave The Lights Out»]. Desde aí fomos crescendo enquanto banda e compondo este primeiro álbum [«Search for Meaning»]. A nossa história é ainda muito pequenina.

Acaba de ser editado o vosso longa-duração de estreia, com produção de Ramón Galarza, nome conceituado a nível internacional. O que podem as pessoas encontrar no álbum?

Um pouco daquilo que fizemos no nosso EP. Mas nota-se também uma evolução. Ouvimos vários géneros musicais e tentamos replicar, por vezes, esses mesmos géneros. As pessoas não irão encontrar um estilo musical definido ao longo de todo o álbum. Desde jazz a rock alternativo tocamos vários estilos musicais, embora o nosso estilo base seja o rock psicadélico e o rock progressivo.

Para financiar este projeto recorreram a uma campanha de crowdfunding [financiamento colaborativo]. A adesão foi a esperada?

Confesso que foi maior que a esperada. Quando decidimos lançar uma campanha de crowdfunding, pensámos que teríamos alguma probabilidade de sucesso, mas nunca esperámos ter tantos apoiantes e conseguir ultrapassar o valor necessário à edição do álbum. Foi uma experiência que nos surpreendeu.

Será o crowdfunding uma aposta cada vez mais recorrente para financiar a edição de discos?

Sem dúvida. Desde há uns anos para cá que vários músicos têm enveredado por esse caminho. É bom para o crescimento das bandas porque põe em contacto direto os ouvintes e os criadores da música, e forma-se ali uma parceria. É parte do futuro da música.

A sonoridade da vossa música é influenciada por algum grupo em particular?

Gostamos muito de descobrir nova música. Não fazemos grande distinção se é antiga ou recente. Há alguns nomes mais recentes de que gostamos, como Radiohead, Tame Impala, MGMT ou Bon Iver, mas também são grandes influencias nossas bandas clássicas como Beatles, Pink Floyd ou Doors. Gostamos sobretudo de ouvir boa música e fazê-la também.

O público português está cada vez mais recetivo a este tipo de sonoridade?

interior.jpgPenso que sim. A nível mundial estamos a assistir a um certo neopsicadelismo. Creio que em Portugal também se está a enveredar um pouco por esse caminho. Os Capitão Fausto são provavelmente o expoente máximo desse neopsicadelismo português.

Qual tem sido o feedback aos temas do novo disco?

Até agora não nos podemos queixar. As pessoas estão surpreendidas pela nossa evolução desde o EP. Não querendo ser arrogante, um aspeto que as pessoas admiram é sermos jovens, todos com cerca de 20 anos, e tocarmos um estilo musical que talvez não se espere de malta da nossa idade.

No vosso quarteto há algum criativo em particular ou as ideias surgem de todos os elementos?

Uma das partes boas da nossa banda, que talvez não seja tão comum quanto isso, é que todos nós temos um papel bastante importante no processo de composição. Todos temos uma certa área mais forte que os outros, mas existe uma grande capacidade crítica e de aceitação, por isso conseguimos dizer o que pensamos. Todos compomos um pouco para os instrumentos dos outros. Funcionamos como um todo.

No seio do coletivo haverá então uma química que permite esse ambiente?

Costumo dizer que ter uma banda é quase como ter uma relação com uma namorada, mas neste caso com três pessoas [risos]. Portanto, todos temos os nossos humores, dias bons e dias maus, mas o que nos faz avançar é querermos o melhor para a banda e sabermos que também os outros querem.

Com que objetivos é que a banda parte para os próximos tempos, agora que foi editado o disco?

Essa pergunta é difícil. Mas para já é começar a tour, que vai assumir bastante importância nos próximos tempos. Será agora que vamos experimentar ao vivo os novos temas. É sempre um desafio transpor para palco, eficazmente, os temas que gravámos no álbum. E depois é começar a compor o segundo álbum.

Entrevista: Hugo Rafael (Rádio Condestável)
Texto: Tiago Carvalho
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