Entrevista

Carlão
Como crescer sem perder a identidade

Foto_Nash_Does_Work.jpgNos míticos Da Weasel, Carlão a.k.a. Pacman tornou-se uma das figuras maiores do hip hop português. Nos últimos anos, o músico de Almada reinventou-se numa carreira em nome próprio, mas sem perder a identidade.

Este verão apresentaste novidades. O tema "Bandida" tem sido um sucesso desde que saiu, não é?
Está a correr bem! Tenho uma grande facilidade em trabalhar com o meu irmão (João Nobre), por já o fazermos há muito anos… desde a altura em que estávamos nos Da Weasel. Como um álbum tem hoje uma duração de vida tão curta - 3 ou 4 meses depois da edição as pessoas já não lhe ligam - e eu queria ter um single a rodar que transmitisse a boa disposição do verão, falei dessa ideia ao meu irmão e ele apresentou-me uma música… E 2 ou 3 dias depois já estava a canção feita! É daquelas coisas que fluem bem.


E qual tem sido a resposta?
Tem sido muito positiva. Nos concertos já é dos temas que correm melhor. Portanto, estou satisfeito com a resposta do público ao "Bandida".
Esse single passa uma mensagem bastante diferente do anterior "Entretenimento". Quiseste fazer algo diferente?
Sim… Eu tento sempre não me repetir demasiado. Ou melhor, tento ir equilibrando as coisas. É tal como nos concertos, em que temos canções a abrir, e depois paramos um pouco para respirar, faço um acústico para criar uma dinâmica especial. Não quero que sejam só músicas de crítica social ou só músicas de amor. Cabe tudo se formos alternando. É uma questão de equilíbrio.


A "Bandida" nasceu no momento certo?
Eu acho que sim. Foi um nascimento feliz (risos).
É então mais um trabalho de irmãos…
É verdade. Nós trabalhos juntos há muitos anos. Trabalhámos em todos os álbuns de Da Weasel. A maioria das composições tem letra minha e música do meu irmão. Em relação ao álbum "Entretenimento" ele também colaborou com o tema "#Demasia". Ele esteve fora de Portugal durante uma série de anos, mas estando por cá achei que era de aproveitar.


E agora, o novo som traz consigo uma onda diferente?
Esgotou-me fazer o disco "Entretenimento?". Eu acho que nunca vou deixar de fazer discos, mas o retorno que têm é pouco para o trabalho que dão. A aposta nos singles acaba por ser sinal dos tempos que vivemos. Se calhar, vale mais a pena ir fazendo singles do que álbuns, porque a janela de atenção das pessoas é muito curta. Ainda assim, acho que nunca vou conseguir deixar de fazer álbuns.


Portanto, estreias com "Bandida" outra forma de estares na música.
Sim. A maior parte dos artistas já aposta nesse caminho. Ou então produzem 10 singles e depois voltam a lançar tudo junto num só álbum. Por exemplo, o álbum de Kanye West "The Life of Pablo" terá sido o primeiro álbum a atingir platina nos Estados Unidos sem ter uma edição física… E agora isso é cada vez mais comum. Os artistas já nem se ralam muito com a edição física do seu trabalho, sabem que o pessoal os ouve nos serviços de streaming ou no YouTube. A indústria musical mudou muito nos últimos anos.


Foto_Nash_Does_Work3.jpgEntretanto, tu já tens bastantes anos de música. Onde é que vais buscar a inspiração para te continuares a reinventar?
Aquilo que eu quero fazer durante muito tempo é, com base na minha identidade, ir-me rodeando de pessoas - umas mais novas e outras mais velhas - e ir experimentando registos novos. Só assim saem coisas interessantes. Se um gajo estiver fechado sobre si mesmo, fica preso na mesma rotina, com os mesmos vícios de sempre, e não sai nada de interessante. Eu acho que é possível uma pessoa reinventar-se sem perder a sua identidade. Grandes artistas já o fizeram… Eu sou um pequeno artista, mas vou tentar seguir esse caminho (risos).


Nada disso!
Muito obrigado. Valeu! (Risos)

Ricardo Coelho
Edição de Texto: Tiago Carvalho
 
 
Edição Digital - (Clicar e ler)
 
 
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